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Serra do Corvo Branco: Obra parada, reflexos no Desenvolvimento da região

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Fotos: Vinicius Prado

Todos os dias, o agricultor Luiz Carlos Bonnim, de 54 anos, acorda cedo para ir à roça e cuidar das plantações. Uma diversidade de hortaliças. O trabalho que começa antes de o sol raiar, encerra-se somente no fim da tarde. Uma atividade árdua, mas da qual depende sua família que vive na Localidade Santo Antônio, em Urubici.

A plantação de Bonnim é apenas a primeira ponta de um processo que finaliza quando os produtos chegam às gôndolas dos mercados. Entre a plantação e o consumidor existe um processo bem grande e que, ultimamente, tem sido difícil de ser executado: o transporte.

Difícil porque o caminho mais curto para levar as hortaliças ao Sul e ao Litoral do Estado é por meio da Serra do Corvo Branco, pela SC-370, que, atualmente, encontra-se com as obras paradas e a estrada está bastante deteriorada.

Em processo de revitalização desde 2011, a rodovia passa pela terceira etapa de obras, quando em 2016 foi completamente paralisada. O projeto compreendia desde a área urbana de Urubici até o acesso do município de Grão Pará. Desde que parou, os buracos aumentaram, barreiras caíram e a serra foi se tornando perigosa, tanto para o passeio, quanto para o transporte.

Isso não impediu de, diariamente, passarem por ali caminhões e turistas. Os primeiros passam para buscar no interior de Urubici as hortaliças e, também, o leite. Os turistas, por sua vez, desejam conhecer o famoso corte da pedra, dois enormes paredões por onde passa a estrada. Menos visada que a Serra do Rio do Rastro, os moradores acreditam que o local poderia ter maior apreço, caso já estivesse pronto.

Luiz Carlos Bonnim, agricultor da Localidade de Santo Antônio

Enquanto isso, agricultores como Bonnim buscam formas de fazer com que os produtos cheguem ao outro lado da serra. Ele, por exemplo, distribui até três vezes por semana, por meio de um caminhão que busca as mercadorias e, às vezes, ele mesmo leva.

Sua produção de tomate, cenoura, beterraba, repolho e cebola é destinada a um centro de distribuição, que se encarrega a fornecer os alimentos a cidades como Criciúma, Laguna, Tubarão, entre outros. A maioria da produção agrícola da região de Urubici é destinada a essa região, por isso, a cidade é considerada a Capital das Hortaliças.

Agricultores perdem parte da produção

É incontável o número de produtores de hortaliças na região de Urubici. Quase toda renda agrícola vem dessa produção que é destaque estadual e nacional. O senhor Valdeci Meurer está há mais de 20 anos nessa lida e teve de mudar a rota dos seus alimentos.  Fornecendo para a rede Giassi, em Içara, Meurer escoa sua produção via Serra do Rio do Rastro.

Por lá, a distância praticamente dobra. Os custos aumentaram, mas a transportadora que leva suas hortaliças não passa pela Serra do Corvo Branco. O agricultor estava parado e voltou a trabalhar na roça há poucos meses, já se deparando com os problemas da estrada. Meurer estima que, ao ter de fazer a volta pela outra serra, cerca de 30% dos seus produtos precisam ser descartados. Isso porque as hortaliças precisam ser consumidas frescas, e a volta pela SC-390 aumenta o prazo de entrega e, consequentemente, os custos.

Produtor Valdeci Meurer escoa a produção via Serra do Rio do Rastro

O secretário de Agricultura e Meio Ambiente do Município, Adelmo Ribeiro de Souza, sabe que é um “tremendo prejuízo”, porque não é somente a produção de hortaliças que é prejudicada, mas, também, a de leite. Urubici produz cerca de 50 mil litros de leite por dia e o caminho utilizado para escoar é a Serra do Corvo Branco.

Transporte do leite também é prejudicado

Ultimamente, poucos transportadores fazem o trabalho de escoamento do leite. Um deles é o caminhoneiro Edson Borgesan, que faz o caminho da Serra do Corvo Branco, pelo menos, duas vezes por semana. Ele teve de se acostumar ao trajeto, mas não se contentou com o estado da estrada.

Além do leite, leva consigo uma pá. Quando se depara com algum buraco ou cascalho mal espalhado pela via, desce do caminhão e ‘conserta’ por conta própria. Ele diz que isso se tornou comum entre os transportadores, ter de andar com uma pá ou enxada.

Enquanto caminhoneiro, comenta que somente alguns tipos de veículos conseguem passar por lá. Os de maior porte nem conseguem fazer as curvas. Edson lembra de uma situação em que um caminhão ficou preso numa dessas curvas e teve de parar e, praticamente, ser guinchado, se não, correria o risco de cair no penhasco.

Poucos transportadores de leite, saindo de Urubici, descem a serra. Silvio Boing também é um deles. A mulher de Silvio, dona Dalva Boing, conta que o marido faz esse caminho dia sim e dia não, mas também passa pelos mesmos perrengues que o colega Edson.

Turismo também é afetado pela estrada

As pousadas e hotéis fazenda da região não viram a ocupação diminuir tanto em função da estrada da Serra do Corvo Branco. Como o acesso de estrada de chão até o corte da pedra ainda é tranquilo, muitos turistas se aventuram pelo local.

Contudo, o que a maioria tem de fazer é, ao ir para Urubici, chegar pela BR-282 ou pela SC-390 via Serra do Rio do Rastro. Muitos, antes de reservarem as estadias, até perguntam como está a situação da SC-370, alguns se arriscam e sobem, mas, dificilmente, desistem da viagem.
O que acontece é um contorno maior para chegar no município serrano e algumas reclamações pelo descaso com a estrada e uma paisagem tão bonita como é a do Corvo Branco.

O guia de turismo Sérgio José de Lima conta que, toda semana, tem grupos querendo visitar o local, mas acabam ficando com medo da situação da rodovia. Isso fez com que o guia até tivesse de mudar o roteiro, para melhor adequar a situação.

Na Corvo Branco Estalagem, onde é possível locar chalés, os proprietários Deive e Simone Almeida não perceberam redução no fluxo de turistas, mas concordam que se o estado da estrada estivesse melhor, haveria mais demanda.

Linha do tempo da obra

2011-2012

  • Primeira etapa do projeto na SC-370. São 20,6 quilômetros de obras, que compreende a área urbana e a localidade de Canudos, próximo à Serra. Investimento total de R$ 50 milhões. Inaugurado em março de 2012.

2013

  • Lançada a ordem de serviço da segunda parte. Investimento de R$ 29,7 milhões para 9,3 km, da última etapa ao pé da Serra. Prazo de 900 dias.

2014-2015

  • Interdição da Serra em outubro de 2014 para realizar as obras. Já em 2015, embargo do projeto por divergências entre Celesc e Fatma. Falta concluir um trecho próximo à subida do Corvo Branco.

2016-2017

  • Início da terceira etapa, concomitantemente ao final da segunda. Abrange 23,5 km entre o acesso até a localidade de Aiurê, em Grão Pará. Investimento de 41,3 milhões. Parada desde o fim de 2016 por rescisão de contrato com a empresa executora, Consórcio Seta-Tucumann.

2018

  • Aguardando readequação do projeto. Prosul tem até março para entregar. Depois será feita licitação para retomada das obras dos trechos que faltam.

Manifestação acontece no sábado

Devido aos problemas acarretados pela estrada da Serra do Corvo Branco, moradores, empresários e agricultores de Urubici e Grão Pará farão uma manifestação a partir do meio-dia, no corte da pedra, na Serra, neste sábado (27).

Durante a semana, as duas prefeituras até se uniram para fazer o cascalhamento dos trechos deteriorados, mas a comunidade quer o asfalto logo. O prefeito de Grão Pará, Márcio Borba Blasius, disse que, enquanto a readequação do projeto não ficar pronta, não se pode fazer nada, a não ser os trabalhos de tapa-buraco.

Garantiu que, se após a retomada das obras não sair como combinado, será o primeiro a se manifestar. O Correio Lageano tentou contato com o prefeito de Urubici, Antônio Zilli, mas não obteve êxito.

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