Dia da Mulher

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Por Camila Paes

Elas são médicas, professoras, astronautas, artistas, policiais, empresárias, prefeitas, mães e donas de casa. Mulher pode ser o que ela quiser e o seu lugar é onde se sente mais confortável. Neste 8 de março, celebra-se mais um Dia da Mulher e é uma data para lembrar de todas aquelas que vêm lutando pela igualdade de gênero e o fim da violência.

Uma das vitórias da luta feminina, que começou com as sufragistas no século 19, é o fato que cada vez mais, as mulheres estão inseridas nos mais diferentes espaços. Entretanto, falta muito para que a tão deseja equidade seja conquistada.

Um exemplo é que em 2017, 44% das vagas de trabalho ocupadas foram por mulheres, segundo o Instituto Brasileira de Geografia Estatística (IBGE). Pesquisas mostram, também, que elas são mais qualificadas profissionalmente que os homens. Por mais que busquem mais educação, as mulheres ainda recebem 33% menos que eles, no exercício das mesmas funções profissionais.

Mas os exemplos são muitos. Seja a superação pela busca da qualificação profissional, pela vitória após uma trajetória de violências ou pela possibilidade de superação, o Correio Lageano separou histórias de mulheres serranas que podem ser exemplos da capacidade feminina.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/4″][/vc_column][vc_column width=”3/4″][vc_column_text]

A resiliência de Grazzi Cantelli

Foi brincando de bonecas que Grazzi Cantelli, 33, começou a expandir a sua criatividade nos tecidos. Porque era uma criança introvertida e de poucos amigos, a irmã mais velha incentivou-a a ampliar seu processo criativo, o que depois de alguns anos, tornou-se sua carreira que segue até hoje.

Entretanto, para chegar no patamar em que hoje se encontra, Grazzi enfrentou desafios. Quando terminou o ensino médio, como forma de explorar ainda mais seu interesse pelas artes, pela criatividade e imaginação, cursou Publicidade e Propaganda em uma universidade particular de Lages. Na época, ela relembra que a cidade não oferecia muitos cursos que incentivassem o processo criativo e, por isso, optou pelo curso. Formou-se e começou a trabalhar na área.

Quando a oportunidade de fazer um curso de corte e costura apareceu, resolveu aproveitar a chance. Enquanto trabalhava como publicitária, começou a explorar o mundo dos tecidos, cortes, moldes e estilos. Inicialmente, a ideia era fazer suas próprias roupas, que saíam de inspirações e desejos próprios. Foi então que ela resolveu tomar uma decisão drástica, que começou a mudar a sua vida. Trocou o emprego fixo, para trabalhar como costureira em uma fábrica. No começo, essa decisão chocou familiares, amigos e colegas. “O salário era muito menor, mas eu queria a experiência”, ressalta ela.

No chão de fábrica, foi onde Grazzi aprendeu a prática da profissão. Com as colegas costureiras, aprendeu técnicas de costura que leva consigo até os dias atuais. Foi em 2014 que largou o emprego na fábrica e decidiu iniciar o seu atelier, onde trabalhava com a produção de uniformes diferenciados. Ela revela que, foi nesse momento, que começou a perceber quais seriam os empecilhos do empreendedorismo, com a necessidade de arcar com os próprios custos. Seu primeiro revés foi no ano seguinte, onde teve dificuldades para manter o atelier funcionando.

Para dar a volta por cima, comprou tecidos diferenciados e começou a produzir camisas sociais mais coloridas, alegres, estampadas, para homens e mulheres. Aí surgiu a sua marca, em 2015, que a levou para reconhecimento na cidade. Com lançamento de editoriais, coleções e até mesmo abertura de uma loja, o número e estilo de clientes aumentaram. Começou a trabalhar com a moda além dos padrões e mostrando que homens também podem usar cores, estampas e ter um estilo próprio.

Mesmo com o sucesso de público, Grazzi precisou recomeçar novamente. Devido a uma sociedade que não deu certo. Perdeu sua marca, atelier e parou a produção de camisas. Consigo, ficou apenas uma tesoura de cabo vermelho, que levou para a casa dos pais, no Bairro Várzea, onde passou a morar. Ela relembra que, entre 2016 e 2017 foi um período muito difícil na sua vida. 

“Havia dias em que não queria levantar, pensei em desistir de costurar.”

Foi, então, uma palavra que a trouxe de volta para a ativa e para a produção: Resiliência, que significa a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças. Reuniu tecidos, retomou sua criatividade e com a ajuda de um amigo, produziu fotos com peças que havia costurado e as divulgou na internet. Usando seu próprio nome, criou um perfil, onde passou a receber encomendas.

Um dos pontos que defende, é a moda consciente, sustentável. O reaproveitamento de tecidos, por exemplos, é um dos trabalhos em seu atelier. Os retalhos não utilizados, são doados para artesãs que os reaproveitam. Além disso, defende a produção de peças de qualidade, que durem a vida inteira e não precisem ser descartadas tão facilmente. “É preciso se perguntar se aquela roupa já foi usada em todas as suas possibilidades”, ressalta.

No seu trabalho como costureira, a profissional percebe quase diariamente o impacto dos costumes machistas com suas clientes. “Os homens limitam e intimidam muito as mulheres, precisamos ser firmes”, ressalta. Para o futuro, Grazzi se apega nas mudanças que enfrentou, que serviram para alterar seu pensamento e melhorar seu comportamento. O que fica, de todo o aprendizado, é a resiliência, que usa todos os dias quando encontra seu fiel tesoura e máquinas de costura.

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Grazzi Cantelli,

costureira

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A batalha de Maria da Fonseca

A emoção de Maria Aparecida da Fonseca não se dá apenas após relembrar tudo o que passou para se formar assistente social ou sobre os anos de abuso sofrido pelo ex-companheiro, mas sim, quando lembra das mulheres lageanas que enfrentam abusos diariamente e encontram nos trabalhos sociais formas de se livrar dessa realidade.

Maria cresceu no Bairro Morro do Posto, em Lages. Ainda muito jovem, aos 14 anos, engravidou. Por causa de uma enchente, a família perdeu quase tudo e ganhou do município, um lote no Bairro Gralha Azul. Mal sabia Maria, que ali, começaria uma carreira de ajudar ao próximo.

Por causa do primeiro filho, deixou de estudar, mas isso sempre a inquietou. O sonho de fazer uma faculdade, sempre foi grande. Quando chegou ao novo bairro, onde famílias ganharam lotes, precisaram encontrar formas de construir suas casas. “Não tínhamos água, luz, saneamento básico”, relembra. Foi a busca pelas melhorias que fizeram a jovem entrar na militância por condições melhores.

Aos 15 anos, Maria tornou-se militante voluntária, foi mãe pela primeira vez e começou a trabalhar com costura para sustentar a família recém-criada. Resolveu voltar para a sala de aula. Além de terminar o ensino regular, foi selecionada para fazer um curso de promotora legal popular, promovido pela Universidade do Planalto Catarinense e o Centro de Direitos Humanos e Cidadania Irmã Jandira Bettoni. Nos corredores da universidade, onde fez o curso, o sonho de Maria ia crescendo. “Eu disse para mim mesma que voltaria ali para estudar”, ressalta. O trabalho como promotora legal começou com a criação da lei Maria da Penha, o que levou Maria Aparecida a Brasília, para conhecer a ativista e sobrevivente da violência doméstica, Maria da Penha Maia Fernandes, que inspirou e lutou pela criação da legislação. Maria voltou maravilhada e com mais vontade de voltar a estudar. “Eu me toquei que Lages ainda precisava de muita coisa”, ressalta.

Nesta época, Maria trabalha em uma empresa privada e começou a questionar o papel da mulher e as violências sofridas por elas dentro do ambiente de trabalho. Logo após o nascimento da segunda filha, que nasceu prematura, devido à necessidade de sustentar a família ela voltou a trabalhar antes mesmo do fim da licença maternidade. Neste meio tempo, a filha ficou doente e ela precisou se ausentar. Quando voltou, depois de oito dias, enfrentou humilhações dentro da empresa onde estava há 10 anos. Sem pensar, decidiu pedir demissão. Ela revela que seu chefe perguntou se ela não tinha medo de passar fome e que tudo o que tinha era graças a eles. “Mas eu o relembrei que, tudo o que conquistei era graças ao meu trabalho e que eu não devia nada a eles.”

Dando fim à violência institucional, resolveu encontrar uma maneira de ajudar as mulheres da comunidade e buscar uma nova forma de conseguir renda. Foi criado com o Fundo Diocesano de Solidariedade, um projeto de costura para as mulheres. Com o dinheiro que recebeu com a saída da antiga empresa, conseguiu comprar uma máquina de costura, e deu início ao projeto. [/vc_column_text][mvc_ihe image_id=”7364″]

Maria da Fonseca é assistente social

[/mvc_ihe][vc_column_text]Na casa de Maria, as mulheres eram acolhidas, desabafavam, contavam histórias e aprendiam uma nova profissão. A casa, sempre estava de portas abertas e assim como Maria, que as encaminhava para os auxílios necessários para cada situação das famílias. “Tinha dias que estava pior do que elas, mas precisava ouvi-las”, relata. Como o desejo de voltar a estudar sempre existiu, uma missionária italiana da igreja católica, resolveu dar início a uma campanha para que, finalmente, Maria entrasse na faculdade.

Com ajuda da comunidade, com a realização de brechós, almoços e outros eventos beneficentes, Maria conseguiu pagar o primeiro ano da faculdade. No segundo ano, conseguiu uma bolsa de quase 100% e teve o dinheiro das primeiras mensalidades restituídos. Com isso, conseguiu comprar um notebook para dar mais força aos estudos.

“Tinha dias que estava pior do que elas, mas precisava ouvi-las”

Enquanto isso tudo acontecia e ela crescia profissionalmente, Maria travava sua mais difícil batalha dentro de casa. Além de ser a principal provedora da casa, o marido não aceitava que ela estudasse e convivia diariamente com a violência psicológica. Foi quando se separou que os problemas de Maria aumentaram. Saiu de casa, mas o ex-companheiro continuava a agredindo verbalmente, até que as violências tornaram-se físicas. Já separada, continuou enfrentando a violência doméstica.

Mesmo separada, o medo acompanhava a assistente social. “Eu assistia televisão e via os casos de feminicídio e pensava se eu não seria mais um número”, revela. Durante todo esse período, continuou na militância. Mesmo sendo empoderada, Maria era vítima de violência e isso, era a parte mais difícil. “Neste processo, eu sofria mais por elas do que por mim”, ela explica. Já que foi tão complicado para Maria passar pela experiência, ela revela que sempre pensava nas mulheres sem apoio e que vivem essa realidade.

A rede de apoio foi fundamental. As amizades, as pessoas que estendem a mão e a escuta humanizada, salvaram Maria. E é com essa experiência vivida e estudada, que todos os dias, a assistente social trabalha para mudar a realidade das mulheres lageanas vítimas da violência. [/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/4″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_separator color=”custom” border_width=”4″ accent_color=”#e9d22c”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/2″][mvc_ihe image_id=”7358″][/mvc_ihe][/vc_column][vc_column width=”1/2″][vc_column_text]

A arte de Angela Waltrick

A palavra temporã é um termo muito utilizado para descrever filhos que nascem com um intervalo muito grande entre o nascimento dos irmãos mais velhos. A artista plástica e professora Angela Waltrick se encaixa neste termo. Filha mais nova de uma família onde só nasceram mulheres, a artista chegou ao mundo quando a irmã mais velha já tinha 20 anos.

Durante a infância era muito tímida e fechada. Foi alfabetizada cedo pela irmã que era professora. Quando chegou à escola, não tinha muitos amigos e sua estatura chamava atenção. Aos seis anos, tinha altura de uma criança de dois. Usava óculos com lentes bem grossas, devido à forte miopia.

Entretanto, a artista não carrega essas memórias como um fardo. Foi por causa dessa criação que ela lembra de ter começado a desenvolver a criatividade dentro de casa. Com brinquedos simples, inventava brincadeiras. Antes do seu nascimento, o pai participou da Segunda Guerra Mundial, enquanto a mãe, com as duas filhas pequenas, ficou no interior de Otacílio Costa. Mesmo sendo criada em uma família patriarcal, onde o pai era o principal provedor e líder familiar, Angela aprendeu desde cedo que lugar de mulher é no trabalho. A rotina, quando criança, era rígida. Quando voltava da escola, precisava passar duas horas estudando e outras duas brincando e, em seguida, ajudava a mãe e as irmãs no preparo da janta. Isso, segundo ela, serviu para o resto de sua vida. “Tive a oportunidade de estudar, para saber me virar. É preciso que a educação seja rotina”, relembra. Os pais sempre destacaram que, a educação seria a única herança e sempre insistiam que as filhas deveriam se especializar.

Ainda na adolescência, Angela começou a trabalhar na Igreja do São Judas, organizando eventos, decorando a igreja e trabalhando com administração. Foi a igreja também que a indicou para dar aulas de ensino de religioso. Neste instante iniciou o contato de Angela com as salas de aulas, que perpetua até hoje.

Mas para se tornar professora, a artista passou por diversas experiências. A família ajudou a escolher o magistério e ela tinha a consciência de que tinha a vontade de lidar com pessoas. Além do magistério, Angela também iniciou a graduação em administração de empresas. Dos 103 alunos do curso, 90 eram homens. Foi neste espaço que ela começou a perceber o machismo, onde as mulheres, muitas vezes, não tinham voz, nem espaço. Após a conclusão do curso, de onde saiu empregada, Angela começou a exercer a profissão de administradora. Após um corte de equipe da empresa, ficou desempregada, mas logo voltou a dar aulas, aos 21 anos.

“Tive a oportunidade de estudar, para saber me virar. É preciso que a educação seja rotina”.

No começo dos anos 2000, Angela saiu do papel de professora e voltou para a sala de aula como aluna. Ingressou na primeira turma de Artes Visuais. Diferente dos outros colegas, encaminhou-se para a parte mais contemporânea da arte, mais conceitual. Além da questão estética, Angela identificou com os pensamentos e ideais de artistas deste estilo. “A arte está aí para questionar. O mundo não está agradável, é preciso transformar os espaços”, ressalta a professora. Entre os destaques do seu trabalho como artista, estão suas premiadas performances e instalações fotográficas.

Formada há mais de 10 anos na segunda graduação, atualmente Angela passa pelo processo de conclusão de mais uma etapa importante de sua vida. Nos próximos dias, defende sua tese do Mestrado em Educação. Com a temática da violência no contexto das Escolas Públicas de Lages e a arte como possibilidade de enfrentamento. Participa, atualmente, do Grupo de Pesquisa em Gênero, Educação e Cidadania na América Latina (Gecal) e das atividades da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). Sobre a sua trajetória, Angela ressalta a importância da família neste processo de vitória. “A família te encaminha para suas escolhas e não seríamos nada sem a construção social”, conclui a artista. [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_separator color=”custom” border_width=”4″ accent_color=”#745ca3″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/6″][/vc_column][vc_column width=”2/3″][vc_column_text]

A História de Mirian Branco

[/vc_column_text][mvc_ihe image_id=”7365″][/mvc_ihe][vc_column_text]A lembrança do grande quintal cheio de canteiros no Bairro Vila Nova, em Lages, a historiadora Mirian Branco sente falta até os dias atuais. O pai foi, por quase 30 anos, tipógrafo do Jornal Correio Lageano e a mãe, uma mulher de grande sabedoria, fazia serviços de limpeza, além de lavar roupa para fora em um grande tanque, que ficava ao lado da porta cozinha, da casa onde viviam os pais e os oito filhos.

Aos sete anos, Mirian chegou à escola para a alfabetização, mas já tinha prévio conhecimento, pois foi recortando as letras das páginas do Correio Lageano que aprendeu a ler. Mas, foi na escola que encontrou os amigos que até hoje fazem parte da sua vida, os livros.

“Minha casa era frequentada pela comunidade inteira e esse foi por certo um período de aprendizado social, que me calçou para uma vida inteira”.

Na década de 1980, a família mudou-se para o Bairro Habitação, na época um ambicioso projeto habitacional da Prefeitura. Passou a adolescência no Bairro, envolta das demandas de uma comunidade bastante pobre, mas muito batalhadora. Enquanto o pai presidia a Associação de Moradores e mantinha-se ligado aos movimentos da comunidade, a mãe dividia o tempo entre os filhos, casa e os clubes de mães, locais de amplo debate feminino, onde aprendeu muitas coisas além das aulas de crochê.

Ainda na adolescência, Mirian viu ser idealizada e fundada na sala de casa, a Escola de Samba Protegidos de São Carlos. O pai e o irmão Renato foram os percussores do grupo. Ela relembra que esteve presente na escolha do nome, elaboração do estatuto e participou do primeiro desfile da escola. “Minha casa era frequentada pela comunidade inteira e esse foi por certo um período de aprendizado social, que me calçou para uma vida inteira”.

Após terminar o ensino médio, Mirian teve muita dificuldade de encontrar trabalho em Lages. Decidiu então, deixar a cidade. No início dos anos de 1990, embarcou sozinha em um ônibus com direção a Florianópolis, local onde mora desde então.

Em 1995, ingressou no curso de história da Universidade Federal de Santa Catarina, onde também conquistou o título de Mestre em História Cultural. Anos depois, completou sua trajetória acadêmica, com o título de Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Nesse meio tempo, tornei-me professora da Educação Básica e também superior, atuando tanto em São José quanto em Lages.

De acordo com Mirian, o curso de História foi determinante em sua vida. “Mais do que uma profissão ele me permitiu reconhecer e reinterpretar a realidade a minha volta”. Ela ainda acrescenta que a ajudou a descobrir a própria identidade e que parte da decisão de se especializar na área, veio da sua vontade de oportunizar às outras pessoas o mesmo reconhecimento e contribuir para a transformação social.

Toda a formação da historiadora se deu em âmbito do ensino público. Por isso, segue com a convicção que deve sempre se esforçar para retornar à sociedade, em especial para o povo lageano, o que foi possibilitado para ela. “E quando me vejo enquanto mulher negra, e dou-me conta de toda superação que se fez necessária, essa convicção se transforma num compromisso ainda mais forte”.

Mirian enfatiza que a mulher lageana é incrível, única. No entanto, vive em uma infindável luta por respeito, justiça, oportunidades e pela não violência. “As estatísticas a esse respeito são deprimentes e mostram um quadro que precisa urgentemente ser revertido”.

Hoje ela divide seu tempo entre São José, onde mora com a família, Palhoça, onde trabalha e Lages, onde desenvolve, juntamente com pesquisadores lageanos um projeto acerca da evasão escolar no ensino médio e seu impacto na vida das pessoas, comunidades e no desenvolvimento do município. Também integra o corpo docente da Faculdade Municipal de Palhoça (FMP), é editora-chefe da revista Vias Reflexivas e coordena o Comitê de Educação para os Direitos Humanos ligado ao Ministério da Educação.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/6″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][mvc_ihe image_id=”7328″][/mvc_ihe][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/6″][/vc_column][vc_column width=”5/6″][vc_column_text]

A representatividade de Nanci Alves

Em uma família de oito filhos, Nanci Alves é a única mulher. O tamanho da família, para ela, é um privilégio. Com o trabalho da mãe no Colégio Santa Catarina, conseguiu uma bolsa para estudar na escola, do pré-escolar até o oitavo ano. Depois disso, seguiu para o magistério, já que desde os 13 anos, trabalhava em creches.

Em sala de aula, Nanci passou por diversos espaços, sendo até a segunda professora a dar aulas no Presídio Regional de Lages. Se especializou em artes e começou a dar aulas neste segmento, além de passar a estudar a História da Arte. Ingressou no Obatalá, um grupo de abriu um novo olhar para as questões sociais. O interesse em participar, surgiu pelo fato de Nanci vir de uma família de negros, ser moradora do Bairro da Brusque e por estar sempre presenciando as desigualdades.

No bairro, como sempre viveu ali, conhece muitas pessoas. Ela lembra dos ensaios de carnaval, encontros de jovens, cursos e espaços de integração, onde fez com que pessoas se socializem, o que conseguiram fazer com que a geração de Nanci, seguisse os estudos. “É um bairro especial, que resguarda as tradições e mantém sua questão étnica”, acrescenta. Por causa de suas vivências, ela decidiu seguir para a pesquisa multicultural e questões étnicas, percebeu que o material em Lages sobre o tema, era escasso.

Hoje Nanci é coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), onde pesquisam as tradições negras e indígenas, não só de Lages, mas de toda a região. Trabalham também pelo resgate histórico do Clube Cruz e Sousa. Ela ressalta que, estão sempre debatendo as questões étnico raciais e que é necessário muita conversa e esclarecimento, principalmente nas escolas.

A palavra representatividade, para Nanci, é a ideal para exemplificar a importância da mulher negra nos espaços. “Precisamos estar em qualquer espaço, para que as jovens negras percebam que é possível sim”. Ela acrescenta que é preciso agir democraticamente, dentro das diferenças de cada um.

Nanci revela que nunca sofreu com o racismo, mas isto está no fato de sua pele ser mais clara. Já os irmãos, por exemplo, que tem a pele mais escura, sofreram com o preconceito. “Quanto mais escura a pele, maiores são as dificuldades”. Ela ainda cita exemplos das meninas negras, que sofrem dificuldades em encontrar um primeiro emprego por causa da sua cor.

O racismo no Brasil é histórico, por causa de sua colonização europeia. Com isso, começou-se a acreditar que só aquilo que vinha do continente Europeu era bom e bonito. Os negros africanos, aqui escravizados, não tinham seus espaços e foram deixados de lado. “Temos esse olhar de desvalorizar tudo o que vem da África, tudo que vem dos indígenas”, explica. Mesmo tendo uma maioria da população brasileira negra, eles não estão representados nos espaços. O caminho para isso, segundo Nanci, é a educação. Tanto é que, até mesmo dentro de casa, não há esse entendimento do racismo e da valorização da cultura negra.

Para o combate contra esse pensamento retrógrado e que impacta na vida de milhares de brasileiros e principalmente dos jovens, Nanci ressalta que é preciso entender que o passado não justifica o futuro e é por meio da educação que se muda esse pensamento.

“Precisamos estar em qualquer espaço, para que as jovens negras percebam que é possível sim”.

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Nanci Alves

historiadora

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A recuperação de Beni Urbano

Em janeiro do ano passado, a vida de Beni Urbano deu uma reviravolta inesperada. A morte do companheiro, a fez repensar a vida e sua profissão. Juntos, eram proprietários de um estúdio de tatuagem que a cada tornava-se mais reconhecido na cidade. Após a perda do marido, ela precisou fechar as portas e não sabia por onde recomeçar.

Foi a ajuda de amigos que trouxe a artista Beni de volta a ativa. Como sempre gostou de desenhar, passou a buscar onde se especializar em tatuagem, após conhecer um estúdio. Ela e o marido, que tinham os mesmos interesses, fizeram um acordo: ela ficaria com os piercings e ela tatuava. Com a morte do companheiro, precisou encontrar um novo meio de se sustentar. Já que tinha o equipamento, fez cursos e se especializou, enquanto passava um tempo fora de Lages, para ajudar a superar a perda.

Quando voltou, foi direto para a casa dos pais, no Bairro Morro Grande, onde mora desde a infância. Na sala dos pais, criou um pequeno estúdio, onde tatuava apenas mulheres. Foi um processo de dedicação, já que em pouco tempo, precisava encontrar-se na nova profissão. Com pouca experiência, mas muita vontade, começou a atender poucas clientes, mas logo tornou-se bastante requisitada.

Decidiu abrir um novo estúdio e ampliou o leque, atendeu cada vez mais clientes e hoje, está todos os dias com a agenda cheia. Trabalhando até tarde e fazendo o que sempre sonhou. A família sempre a apoiou. Os pais, que antes não tinham tatuagens, tornaram-se telas para Beni e estão sempre dispostos a carregar na pele, a arte da filha. Ela revela que, após a morte do marido, ficou perdida e o apoio que encontrou dentro e fora de casa foi de extrema importância.

Mesmo sendo um meio alternativo, isso não poupou Beni de sofrer preconceitos, principalmente por ser mulher. O problema vem dos próprios colegas, com comentários machistas e retrógrados. Mas isso não impede que o estúdio esteja sempre lotado e pronto para receber os mais diferenciados clientes. [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_separator color=”custom” border_width=”4″ accent_color=”#745ca3″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/2″][vc_column_text]

O renascimento de Joelci e Vivian

A infância de Vivian sempre foi tranquila. Porém, aos oitos anos, começou a perceber que era diferente das outras crianças ao seu redor. Enquanto isso, a mãe Joelci, sempre notou que as brincadeiras também eram diferenciadas, mas achava muito normal.

Na adolescência, as diferenças com as outras pessoas da sua idade começaram a ser mais aparentes. Isso porque, até então, Vivian era um menino, mas nunca se enxergou como um. Sozinha, iniciou as pesquisas sobre a mudança de gênero e como conseguir se tornar a pessoa que sempre quis ser. Era na internet que tinha todas as respostas para suas dúvidas e, de certa forma, encontrava um grupo de apoio. Aos 21 anos, quando já estava na faculdade de Educação Física, decidiu tomar hormônios e começar as mudanças. Porém, esse processo solitário foi muito difícil, resultando em uma depressão e até mesmo, tentativa de suicídio. Foi quando decidiu se abrir com a mãe. A chamou para uma conversa onde revelou, que mesmo tendo a aparência de menino, sentia-se como uma menina.

Para Joelci, a notícia foi um baque e também uma preocupação. Procurou ajuda profissional, auxiliou a filha a dar os primeiros passos como uma nova mulher e a passar por essa transição. Com a ajuda da mãe, Vivian conseguiu se reerguer. Começou uma nova faculdade, se profissionalizou, alterou seu nome e estava pronta para entrar no mercado de trabalho. Essa parte não foi fácil. Na primeira escola em que chegou, sofreu preconceitos e saiu da sala de aula. Vivian acabou vivendo a realidade de diversas transsexuais, que não conseguem entrar no mercado de trabalho.

Para Joelci a preocupação era com o bem-estar de Vivian. O medo era com a discriminação, com o preconceito e as dificuldades. Por causa disso, buscou médicos e especialistas que pudessem auxiliar na transformação.

Dentro de casa, a transição foi tranquila. “O que incomoda são as outras pessoas”, revela Vivian. Os especialistas não tinham conhecimento do processo e Vivian abriu caminhos para essa discussão na cidade. E isso, também, criou um novo interesse em Joelci.

Por causa da filha, ela voltou a estudar. Foi selecionada para um mestrado em Educação, onde teve a oportunidade de ouvir outras famílias que passam pela mesma situação, com outras classes sociais, outras realidades. “Nós fomos privilegiadas e sabemos que não é assim”, revela Joelci. Em julho do ano passado, participaram do Mundo de Mulheres em Florianópolis, onde portas se abriram para novas experiências. Joelci tornou-se representante do grupo Mães pela Diversidade na Serra Catarinense, onde organiza eventos e batalha pelo respeito aos seus filhos.

De volta ao trabalho como professora, agora como mestre, Joelci chega às salas de aula com um novo olhar. Vivian, mesmo casada, não deixa a mãe. São quase vizinhas e estão sempre juntas. Por causa das dificuldades de dar aula, por causa dos preconceitos, ela pensa em voltar a estudar, em algo voltado para a tecnologia. Isto porque, nos jogos online, encontrava refúgio para seus problemas e era lá, que poderia ser quem quisesse. No mundo real, mãe e filha passaram por um renascimento, onde não só a aparência física de Vivian mudou, mas sim os relacionamentos profissionais e principalmente, pessoais.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/2″][mvc_ihe image_id=”7366″]

“Nós fomos privilegiadas e sabemos que não é assim”, revela Joelci, ao lado da filha Vivian

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A vitória de Fernanda Córdova

[/vc_column_text][mvc_ihe image_id=”7362″][/mvc_ihe][vc_column_text]Em apenas um dos 18 municípios da Serra Catarinense, uma mulher foi eleita prefeita. Fernanda Córdova, moradora de Palmeira, próximo de Otacílio Costa, recebeu a maioria dos votos na última eleição municipal. Mas para chegar até o posto, a caminhada foi árdua, mas vencedora.

Nascida em Lages, Fernanda sempre morou em Palmeira. Filha de pais agricultores, para estudar morava em casa de conhecidos nas cidades vizinhas, em troca de serviço doméstico. Desta forma, conseguiu terminar o ensino médio e logo entrar em um curso técnico, no colégio Industrial. Formada em mecânica, conseguiu um emprego melhor, como metalúrgica em uma empresa lageana. Com o salário, realizou o sonho de cursar uma faculdade. Formada em administração, foi contratada por uma empresa privada, onde fazia o gerenciamento de projetos.

Com a carreira consolidada, Fernanda não se aquietou. Ao analisar a realidade do município, percebeu que era importante criar uma nova política na cidade, com novas caras e que estivesse disposta a ouvir a população. Foi quando se candidatou a vereadora, em 2012. Venceu e passou a trabalhar com a população. Fazia trabalhos em escolas, com mulheres, e buscava sempre entender a necessidade dos moradores. Ao perceber que já havia realizado o que estava ao seu alcance, decidiu candidatar-se a prefeita. Em sua primeira tentativa, foi eleita e se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo no município.

“As pessoas me colocavam para baixo, diminuíam meu trabalho, como se eu não fosse conseguir”.

Mesmo estando com mais trabalho e com maiores responsabilidades, Fernanda não deixa de ouvir a população. É com eles, que descobre as necessidades do município, para focar os trabalhos de sua equipe.

A administração quer terminar a obra da creche municipal, que há seis anos está em fase de construção. A prefeita economizou recursos próprios e em breve, deve licitar a obra. Para ela, este será um ponto importante para dar melhor qualidade de vida e mais segurança para as famílias da cidade.

Mesmo com mais quatro anos adiante, Fernanda já pensa no futuro. Quer tentar a reeleição para continuar a trabalhar por Palmeira. Ela revela que percebe que houve uma mudança na população, ao escolherem como prefeita e notou que, os jovens e as mulheres, tiveram papéis primordiais na sua eleição. Durante sua caminhada política, mesmo que curta, enfrentou dificuldades. “As pessoas me colocavam para baixo, diminuiam meu trabalho, como se eu não fosse conseguir”. Um dos principais motivos, era o fato de Fernanda ser mulher. Ela percebe que, por causa disso, as coisas são mais fáceis e as pessoas têm dificuldade em aceitar que ela é prefeita. Mas acrescenta que, continua sendo a mesma pessoa, tem a mesma vida de antes da eleição e que entrou ali, não para ganhar dinheiro, mas para fazer a diferença. “Tenho que mostrar que faço e que só depende de nós”, conclui. [/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/6″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_separator color=”custom” border_width=”4″ accent_color=”#745ca3″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/4″][/vc_column][vc_column width=”1/4″][/vc_column][vc_column width=”1/4″][/vc_column][vc_column width=”1/4″][vc_column_text]

Produção

Camila Paes

Suzane Faita

Gisele Bineck

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