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Produtores pedem preço justo para a maçã, em São Joaquim
Escrito com canetas coloridas, o cartaz dos agricultores Evanilda Nunes e José Coelho pede o fim da injustiça nos pagamentos para os pequenos produtores, que têm como principal fonte de renda o cultivo da maçã. Emocionada, Evanilda, que há mais de 20 anos cultiva maçã, revela que, para pagar dívidas da produção, a família já precisou vender parte da propriedade onde planta o seu sustento.
Assim como as centenas de pequenos produtores que lotaram a Praça Cesário Amarante, nesta segunda-feira (7), no aniversário do município, segurando cartazes, faixas e protestando pela queda do preço de compra da maçã pelas grandes indústrias.
O movimento começou quando uma das principais compradoras, a Fisher, anunciou o pagamento de R$ 0,67 pelo quilo da fruta. Entretanto, a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) revelou em uma pesquisa, que o preço de produção da maçã por quilo, é de R$ 0,92. Os produtores analisam que, um preço justo a ser pago, seria acima de R$ 1,00. Nas gôndolas de supermercados, o quilo da fruta chega a ser vendido por mais de R$ 10 reais.
Essas empresas que adquirem a fruta diretamente com os produtores, são responsáveis pelo distribuição no resto do País e também fora do Brasil. Os agricultores entregam os seus produtos para as empresas, antes de saber o preço que será pago pelo quilo da fruta. São eles, também, que devem organizar a entrega da maçã para os produtores.
A fruticultora Eliane Amaral é a principal voz do movimento. Com lágrimas nos olhos e discurso forte, ressalta que representa grande parte da mulher joaquinense, que trabalha com a agricultura e tem uma jornada diária de cerca de 18 horas. Ela ressalta que a vontade de realizar tal manifestação, se deu após anos de sofrimento na cadeia produtiva e na espera por melhorias no setor.
Nunca temos garantias de nada e poderemos entrar na estatística da fome, se a situação mudar”, ressalta. Se o pagamento permanecer nos R$ 0,67, não haverá como o produtor sobreviver e Elaine acrescenta que “a fome estará chegando na porta das casas”.
Outros produtores, que também participaram da movimentação na manhã fria de segunda-feira (07), ressaltaram que a região de São Joaquim produz a melhor maçã do Brasil e não recebe por isso.
Eles acrescentam que se não plantarem, morrem de fome, já que a fruticultura é a principal fonte de renda da região. Em uma caminhada pela Rua Manoel Joaquim Pinto, crianças puxavam a multidão que pedia pagamento justo pela fruta e o não pagamento em centavos.
Protesto tem o apoio do Comércio
A Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de São Joaquim também estendeu uma faixa na praça Cesário Amarante, frisando o apoio ao pequeno agricultor. A lojista Luzia Nunes ressalta que é com a movimentação dessa parte da população que a cidade sobrevive e se eles não estiverem no comércio, as portas serão fechadas. “A fruticultura tem uma força, tudo depende deles. Se eles estão mal, o comércio também vai mal”, acrescenta.
Representantes do movimento, acrescentam que será preciso união para mudar a realidade das negociações com essas empresas e também, para que os fruticultores e seus produtos sejam valorizados. Uma das soluções citadas, seria organizar reuniões onde ficariam definidos os preços com antecedência.
O casal Evanilda e José sente pela parte da propriedade que precisaram vender para quitar as contas. A esperança é que o preço melhore, assim, não precisarão vender o que lhes resta. Por causa disso, Evanilda está passando por tratamento para depressão.
Ela ressalta que o medo é perder a casa onde moram. “Na nossa família, está proibida a palavra “compras”, revela. Mãe de três filhas, duas já saíram de casa e não trabalham com a fruticultura. Para a terceira filha que ainda mora com os pais em São Joaquim, Evanilda aconselha que se especialize em outras áreas, assim não precisará passar pela mesma preocupação dos pais.