Coronavírus

Voluntários usam impressão 3D para produzir EPIs

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Makers de Lages estão produzindo o aro que serve de base para a viseira dos protetores faciais Foto: Luis Tutu /  Divulgação

A crise sanitária provocada pelo novo coronavírus traz muita incerteza sobre os rumos da saúde e da economia mundo afora. Por outro lado, este momento de insegurança tem servido para unir a população em uma finalidade única: combater o novo inimigo invisível, um vírus que não respeita limite geográfico, crença, raça e, tampouco, condição social.

Embora boa parte das ações sejam voltadas para a área da saúde, esta união de esforços vem de todos os setores. Em Lages, na Serra Catarinense, uma equipe formada por oito makers que trabalham com impressão 3D se uniu para desenvolver algo que está faltando no mercado, os equipamentos de proteção individual (EPIs) para quem atua na linha de frente com o atendimento às pessoas suspeitas de infecção ou infectadas pela Covid-19 (a doença causada pelo coronavírus).

A cultura maker tem como base a ideia de que as pessoas podem fabricar, construir, reparar e alterar objetos dos mais variados tipos e funções com as próprias mãos, baseando-se num ambiente de colaboração e transmissão de informações entre grupos e pessoas.

Neste sentido, os makers de Lages estão usando seu conhecimento e a tecnologia que têm disponível para produzir um EPI bem específico: protetores faciais. A atuação deles consiste em doar seu tempo e o trabalho das máquinas para produzir os aros que servem de base para a viseira. A impressão de cada aro dura, em média, 1h50. O grupo, que se uniu há menos de 10 dias, tem como meta produzir entre 200 e 250 peças por semana.

Os protetores faciais estão sendo doados para o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Associação dos Municípios da Região Serrana (CIS/Amures), que faz a distribuição aos profissionais da região que atuam na frente de combate à doença, como técnicos e enfermeiros, médicos, socorristas, policiais e equipes de limpeza de hospitais e unidades de saúde, dentre outros. Estes EPIs estão sendo produzidos seguindo os padrões e normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

A primeira remessa foi destinada ao almoxarifado Central de Lages, para atender aos profissionais que estão atuando no Centro de Triagem para a Covid-19, instalado no prédio do antigo Pronto Atendimento Tito Bianchini, no Centro.

Makers que colocaram a mão na massa para produzir equipamentos de proteção

 

Projeto Hígia

O trabalho feito pelos makers em Lages segue os parâmetros do Hígia, um projeto criado em São Paulo por um grupo voluntário, que é voltado para a produção de proteção individual por meio de impressoras 3D. A iniciativa do grupo paulista surgiu com o objetivo de atender à demanda provocada pelo novo coronavírus.

Atento às novidades do mundo maker e em busca de fazer algo que pudesse contribuir com a cidade neste momento de crise, o engenheiro de produção Juliano Andrade é quem coordena o Hígia na Serra Catarinense. Assim que conheceu o projeto, ele e a esposa começaram a imprimir os aros e distribuir os protetores para conhecidos que atuam na área de saúde. Logo a iniciativa ganhou adeptos e agora a equipe coordenada por ele conta com oito makers.

“Todos que se envolveram estão fazendo isso voluntariamente. Estão disponibilizando sua impressora, energia elétrica e seu tempo, pois a impressão 3D é algo que precisa ser acompanhada em todo o tempo de produção da peça. Conseguir encontrar esses makers que resolveram doar um bem tão precioso nesse momento, o seu tempo, pra que a gente pudesse levar a frente o projeto, foi de grande valia”, analisa Juliano.

Ele ressalta que alguns dos makers não têm conseguido se dedicar a este projeto integralmente, pois estão dividindo a dedicação ao voluntariado com suas profissões. “Algumas impressoras não trabalham oito horas por dia, porque alguns colaboradores estão em seus empregos durante o dia e utilizam horários alternativos, geralmente à noite para produzirem algumas peças e, assim continuarem contribuindo com o projeto. Não temos uma produção constante, diária, mas sim o que cada um consegue entregar, no tempo que lhe é disponível”, completa.

Empresa corta o acetato e molda a viseira

O protetor é formado por duas peças: o aro e a viseira. Os aros impressos em 3D pelos makers são encaminhados para uma empresa de Lages que é responsável por recortar o acetato – dando o molde da viseira – higienizar e embalar para a distribuição.

Para a produção inicial, que resultou em 80 protetores faciais, o filamento utilizado para fazer os aros foi comprado pelos próprios voluntários e o acetato doado pelo CIS/Amures. Para as próximas produções, todo o material (filamento e acetato) será comprado pelo Consórcio e entregue para que os makers produzam os equipamentos.

“A nossa geração nunca passou por um isolamento dessa forma, então é muito importante que a gente perceba como cada um pode colaborar. Quem não tem como oferecer algo, a forma de ajudar é ficando em casa, simples assim. E pra quem consegue colaborar com alguma coisa, colabora de forma solidária, com o que for necessário. No caso das impressoras 3D, elas são equipamentos que podem ser adaptados a vários usos e nós estamos utilizando pra produzir esses protetores faciais, que não são facilmente encontrados no mercado aqui da região”, comenta Luis Tutu, que também é um dos makers voluntários.

Impressão 3D

Também chamada de prototipagem rápida, a impressão 3D é uma tecnologia de fabricação aditiva, que consiste na utilização de várias camadas de algum material (o filamento, no caso dos aros dos protetores faciais) feitas com base em um modelo tridimensional.

Crescente no mercado, mas ainda timidamente explorada, a impressão 3D está mudando a relação das pessoas com diversos tipos de materiais. Por meio dela, é possível fabricar próteses, replicar órgãos, montar modelos de engenharia, criar peças de decoração e até mesmo alimentos, dentre uma infinidade de alternativas. Existem até projetos para impressão de casas em 3D.

A maker Clarissa de Sá Pereira, que também é voluntária no projeto Hígia, avalia que a situação provocada pelo novo coronavírus, pode abrir novas portas para o mercado das impressões 3D no país. “Essa será uma maneira da impressão 3D ganhar mais espaço no Brasil. Este é um mercado que vem ganhando espaço, mas de forma lenta. Esse momento que a gente está vivendo pode ser um divisor de águas pra impressão 3D no Brasil, porque assim a gente percebe o quanto essa tecnologia está vindo para auxiliar em várias frentes. Penso que é um marco pra todas as pessoas que gostam e trabalham com essa área”, completa.

As impressoras 3D levam, em média,1h50 para imprimir cada aro   Foto: Divulgação/Luis Tutu

Veja como funciona uma impressora 3D

 

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