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Vítima de tentativa de feminicídio retoma a vida aos poucos

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Depois do susto, Célia volta a fazer planos para retornar ao trabalho - Foto: Bega Godóy

Célia de Oliveira, de 44 anos, levou três tiros do ex-marido, em outubro do ano passado, dentro de um ônibus urbano, quando ia trabalhar. Depois de ficar 19 dias no hospital, desses 10 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), desenvolver infecção e passar por duas cirurgias, ela ainda não voltou a trabalhar.

Os tiros atingiram os dois braços e um na altura das costelas. Em consequência, Célia ficou com o movimento da mão direita comprometido, tanto que o médico que a atende escreveu no atestado: deficiência permanente. E foi esse documento, entre outros exames, que Célia levou para o perito do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) da agência Lages.

“O perito me liberou [para o trabalho], mas a empresa disse que não tenho condições de trabalhar”, explica Célia, que foi aconselhada a fazer nova perícia. Ela trabalha na Casa Semiliberdade, no Bairro Sagrado Coração de Jesus, onde trabalha como cozinheira.

“Agora, fico sem receber o pagamento do auxílio-doença, até que o INSS me chame para fazer outra perícia e isso tem que acontecer dentro de 30 dias”, salienta. Ela fez perícia no dia 11 de abril. “Às vezes, derrubo as coisas. Cuido da casa, mas nem todas as tarefas consigo fazer”, salienta ela que perdeu dez quilos e ainda sente dores na mão.   

Fora as indefinições em relação a poder voltar ou não a trabalhar, Celia retomou a vida e nunca recolhe o sorriso fácil e largo. Mora no Bairro Penha com o casal de filhos de 22 e 16 anos, nos fundos do terreno da mãe e tem uma pessoa ao seu lado que a ajuda a enfrentar a situação.

Apesar de tudo, Célia se sente uma mulher de sorte. “Com sorte e forte, pois enfrentar tudo que passei e estar aqui viva é um presente de Deus. Uma oportunidade de viver”, argumenta. Sobre o dia do fato as imagens são claras.

“Lembro dele me atirando e as balas queimando no meu corpo. Estive consciente durante o atendimento e até chegar no hospital. Acho que me deram algo lá que depois não vi mais nada. Me questionava o que será dos meus filhos pois achava que iria morrer”, conta sem conseguir esconder o temor que esse momento ainda provoca.

Célia viveu com Claudecir durante 15 anos, teve dois filhos e os primeiros 10 anos da vida de casada foram sem contratempos. Ela se separou em 2012, pois ela conta que o ex-marido começou a ficar violento e nunca aceitou a separação.

“Se ele tinha uma oportunidade, me incomodava”, assegura. Célia estava prestes a renovar uma medida protetiva contra o ex-marido e iria pegá-la, porém, cinco dias antes, sofreu a tentativa de feminicídio. A medida protetiva determinava a distância de 500 metros.

Relembre o caso

O crime aconteceu no dia 4 de outubro de 2018, no interior do ônibus da Transul (linha Bairro Penha/Centro de Lages). Claudecir Kuster Soares entrou no ônibus, num ponto próximo ao que Célia havia embarcado e, minutos depois, disparou três vezes contra ela.

Depois atirou na própria cabeça. Claudecir precisou ser entubado, ficando sob custódia do Departamento de Administração Prisional (Deap). Hoje, ele que tem 46 anos, cumpre pena no Presídio Masculino, em Lages.

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