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Superação e saúde na prática de pole dance

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Soraia Moreira, realizando um Flatline Foto: Jordana Boscato

O pole dance, no imaginário popular, está ligado à sensualidade e à sedução. Na prática, no entanto, é bem menos glamour e muita ralação para chegar às acrobacias na barra de, no mínimo, três metros.

Quem pratica precisa treinar muito e ser resistente à dor. Isso porque, as travas, essenciais para a prática da modalidade, são bem doloridas, especialmente para quem está começando. 

As mulheres ouvidas pela reportagem, nem todas incluídas nesse texto, relatam a mudança em relação à própria vida e à autoconfiança, logo após as primeiras aulas. Pode ser praticado por mulheres de todas as idades e corpos, também os homens podem se aventurar. Não há limites, nem imposições físicas. É uma junção de movimentos calistênicos (força) e dança utilizando uma barra vertical estática ou giratória.

“Eu definiria, também, como uma metamorfose, porque após a dor, vem a transformação. Depois de algum tempo, você começa a perceber o corpo mudar, ganhar massa magra, melhorar a flexibilidade, condicionamento, autoestima e muito mais”, explica a fisioterapeuta e instrutora de pole, Soraya Moreira, de 36 anos.

“O mais incrível do pole é conhecer o seu corpo e ver o que realmente é capaz de fazer, afinal, somos mais fortes do que pensamos ser. Adoro o universo feminino e ver as mulheres em suas várias versões, tenho alunas que são estudantes, donas de casa, médicas, arquitetas, empresárias, veterinárias, vendedoras, marceneiras, e com cada uma aprendo algo sobre a mulher”, relata Soraia. 

Infelizmente, essa modalidade ainda sofre preconceito. “Se você digitar pole dance na internet pode aparecer ‘dança do cano’ associada aos estrips clubs.” É uma modalidade esportiva com diferentes vertentes, como o pole esportivo, que tem até campeonato, e o pole fitness, que tem como objetivo queimar calorias.

“Tem também o artístico. O próprio Circo de Soleil tem um espetáculo de pole”, comenta Soraya. Mas e se a escolha for pelo pole sensual? Nenhum problema, pois a escolha é de quem pratica. 

 

Pole exige esforço e provoca dor

Para Sorai, a modalidade não foi amor à primeira vista. “A ideia de montar um studio de pole dance era antiga, pois percebi que as pessoas procuram cada vez mais atividades desafiadoras, diferentes e, é claro, que tonifiquem o corpo, só que [quando comecei] achei muito difícil, dói muito e deixa hematomas”, lembra. Mas, depois de começar, não parou mais, apesar das dificuldades. A evolução foi lenta, mas ela é determinada, às vezes, treina quatro horas para conseguir fazer um movimento. Há algum tempo, comprou uma barra e instalou no apartamento em que mora com o marido e o filho de 3 anos e oito meses. “Sempre que posso, procuro treinar para evoluir cada vez mais, hoje sou completamente apaixonada pela modalidade.”

Tatiana Favretto, de 35 anos, graduanda de Educação Física e professora de pole art em Florianópolis, destaca que a modalidade é uma atividade física extremamente favorável para corpo e mente, e seus benefícios podem ser sentidos a curto, médio e longo prazo.

“Desenvolve a coordenação motora e a consciência corporal, aumenta a autoconfiança,  fortalece os músculos, melhora a flexibilidade e diminui a timidez”, conta a instrutora Tatiana Favretto. 

Ela explica que, além do esforço de sustentar o corpo na barra, é preciso coordenação, equilíbrio e entendimento acerca dos movimentos executados durante as aulas. “Ao trabalhar o corpo e a mente durante a atividade física, o pole ajuda a desenvolver a coordenação motora. Esse aspecto é extremamente benéfico a longo prazo, porque ajuda a retardar o envelhecimento, torna os movimentos mais naturais, contribui para maior consciência corporal e percepção do espaço em relação ao meio em que se vive.”

A prática de pole geralmente é realizada em grupos. Para Tatiana, o fato de encontrar pessoas que passam pelas mesmas dificuldades e se apoiam entre si, que realizam coreografias e interagem umas como as outras, auxilia muito na diminuição da timidez. 

 

O começo do pole no Brasil

No Brasil, o pole ganhou fama na novela Duas Caras, da Globo, exibida entre 2007 e 2008. Na novela, a atriz Flávia Alessandra interpretou uma dançarina instrutora de pole. Foi a partir disso que muitos estúdios foram abertos. Flávia foi aluna de Alexandra Valença, uma das difusoras da modalidade no Brasil. A modalidade é, relativamente, nova no País, o primeiro estúdio é de 2008 e, a partir disso, começam os campeonatos nacionais de fitness e sensual. Em 2009 foi fundada a Federação Brasileira de Pole Dance, que hoje é responsável pela organização do Campeonato Brasileiro de Pole Dance.  

          

Nath Menegueli atribui ao pole a aceitação ao próprio corpo

A designer gráfica, Nath Menegueli, de 32 anos, acredita que a modalidade melhora a autoestima da mulher.  “Também nos dá uma sensação de liberdade e empoderamento. A comunidade do pole é bastante unida, e ver mulheres se unindo e promovendo respeito e apoio, uma pelas outras, numa sociedade que nos quer competindo é maravilhoso”, define.

Ela chegou a modalidade por indicação de uma amiga e estava em busca de uma atividade física que não fosse apenas a academia comum, algo que fosse mais divertido. “Mudou minha disposição para tudo! Hoje tenho mais confiança, consciência corporal, aceito meu corpo com suas imperfeições e me sinto muito melhor comigo mesma.”

Sobre o preconceito, ela diz que existe e, principalmente, pelo pole ter sido popularizado nas boates pelas dançarinas. “No entanto, as pessoas desconhecem que sua origem vem na verdade do “mallakhamb”, que é uma modalidade de ioga praticada no poste”.

 

Nath, executa um movimento chamado Lois Lane Foto: Nua e Crua/Divulgação

 

Amanda queria uma atividade desafiadora

 

Médica veterinária e professora universitária, Amanda Leite Bastos Pereira, de 30 anos, escolheu o pole por conta do desafio e por ‘trabalhar muito bem a autoestima, pois alia o desenvolvimento postural, corporal e também, por que não?, a sensualidade”. Lembra que ainda que possa ser encarada como uma técnica sensual, vai muito além disso.

As aulas semanais são o seu momento de relaxamento. “Como minha rotina é cansativa, é no pole que me permito rir e me divertir, sem me preocupar tanto com o avanço no esporte. Claro, quero me superar, cada movimento ou trava apreendidos é uma alegria, mas aprendi a respeitar o meu tempo e a minha situação”, comemora.

Amanda executa uma posição básica do pole, conhecida como start  Foto: Suzane Faita

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