Geral
Não tema o diagnóstico
O medo faz parte dos sentimentos do ser humano. E, muitas vezes, move ou paralisa ações. Mas quando se trata de uma doença, o medo não pode estagnar as ações de cura.
No caso do câncer, o maior dos medos é o diagnóstico. Saber que está com a doença causa mais medo do que o próprio tratamento.
Grande parte das pessoas rejeita. Passa pela fase da negação, antes de procurar por um profissional.
No mês de outubro, acontece a campanha “Outubro Rosa” de prevenção ao câncer de mama. Ressaltando a importância de procurar um médico nos primeiros indícios da doença, de fazer exames preventivos conforme a sua faixa etária e sanar as dúvidas sobre os fatores de risco. E, mesmo assim, a incidência de mulheres que descobrem o tumor em estágios avançados é grande.
Segundo a oncologista Maitê de Liz Vassen Schurmann (CRM 11094 – RQE 7324), boa parte dos pacientes adia o máximo a procura por um profissional por medo do diagnóstico. Ela ressalta a importância de ir ao médico pelo menos uma vez por ano.
“Mais importante do que o autoexame, é a mulher ter consciência do seu corpo. Olhar-se no espelho, prestar atenção nos detalhes e perceber as mudanças.”
Para uma avaliação clínica, a pessoa pode optar pelo seu médico de confiança, sendo ele, clínico-geral, ginecologista, oncologista, mastologista, o importante é ter um parecer quando percebe que algo está fora do normal.
Tratamento
Durante e após o tratamento, a pessoa deve cuidar da mente, do corpo e do espírito. Evitar o estresse, manter uma boa alimentação e realizar exercícios físicos regularmente. Para Maitê, o papel do oncologista é valorizar o momento presente. Ajudar o paciente a acreditar que dará certo, pensar no bem-estar e na cura. “Ter fé, pois fé é entrega”.
Muitos pacientes têm o câncer como um gatilho para questionamentos como: qual é meu propósito? Para que ainda vou continuar vivendo?
Assim como Laura (nome fictício), de 64 anos, que há 15 anos passa por tratamento para o câncer e viu seus fios de cabelo caírem cinco vezes. Lutou sempre com muita garra e teve o apoio da família. Tendo sempre ao lado uma das filhas, que a acompanha no tratamento.
Já houve períodos em que estava muito bem, curada. Mas nunca deixou os cuidados de lado. Evita o açúcar, faz exercícios físicos e cuida da mente.
Há cerca de um mês, passou por uma das piores experiências. Ficou internada por um período e hoje continua em busca de tratamentos que possam curá-la. O seu rosto inchado mostra na pele a luta diária. Sem desistir.
Mas, desta vez, ela tirou uma das mais importantes lições. Desde o primeiro tratamento ela não tinha conseguido se conectar espiritualmente como agora. Buscou por orientação e conseguiu mudar sua mente.
Cuidados profissionais
Laura sempre teve muito cuidado com a saúde. Afinal, muito nova perdeu uma de suas irmãs para o câncer.
Fazia o autoexame regularmente e quando percebeu um pequeno caroço próximo à axila, foi até uma clínica. Lá, obteve resultados positivos, mas, mesmo assim, não descuidou e continuou realizando os exames preventivos.
Depois de algum tempo, por um alerta de sua mãe, resolveu realizar o exame em uma clínica diferente. E foi aí que recebeu o diagnóstico.
Ela, hoje, alerta para o fato de ter atenção e referências do local onde serão realizados os exames.
Além, de prezar pelo bom relacionamento com seu médico. Vindo de vários tratamentos, queixa-se, assim como sua filha, do desinteresse de alguns profissionais que desacreditam da cura e não procuram por outros processos.
Hoje, ela sente-se satisfeita com o atendimento que recebe. Com as informações sempre muito claras e a busca por novas soluções.
Muitos dos seus resultados valem ao seu esforço pessoal, do cuidado com o corpo por tantos anos.
“Já vi muitas pessoas que, mesmo durante o tratamento, não se ajudam. Nem no corpo nem na mente. Tratar-se espiritualmente é fundamental. Guardar mágoa e rancor, por exemplo, é um dos piores sentimentos.”
Você não está sozinha
Elenice Posse Nissola, 50 anos, descobriu o câncer de mama no dia 13 de julho de 2016. Estavam juntos, o marido e a filha mais nova. No retorno para casa, em Campos Novos, não se ouviu uma só palavra. Apenas o choro de Elenice.
Depois de passado o choque, ela conversou com a filha e lhe fez um pedido: que ela, que tem os cabelos negros bem longas, não os cortasse como forma de apoio.
Assim como para os demais integrantes da família, ela disse que não era o corte de seus cabelos que lhe traria apoio, e sim, as suas companhias.
Mas engana-se quem pensa que ela se queixou. Isso de nada adiantaria. Colocou-se no lugar dos filhos e fez de tudo para dar certo.
Iniciou o tratamento e tentou encará-lo com naturalidade. O marido Gilmar Nissola, 55 anos, a acompanhou durante o processo. Auxiliou nos momentos de mais fragilidade, como quando começou a perder os cabelos.
No começo, estar careca era muito difícil para ela, que não conseguiu nem se encarar em frente ao espelho. Estava sempre com um lenço na cabeça, mesmo dentro de casa.
Quando finalizou a quimioterapia e o cabelo começou a crescer, sentiu-se melhor para andar com os fios, mesmo que ainda bem curtos.
Aprendeu muito com esse processo. “Percebi que o importante é ter cabelo e não como ele é e, claro, a saúde sempre em primeiro lugar.”
Hoje, ela valoriza o presente, mudou seus hábitos, saiu do emprego e procura por uma vida mais leve, sem tantos estresses, ao lado das pessoas que ama.
“O nome da doença, câncer, assusta, temos até medo de falar,” comenta Gilmar. “Mas é uma doença e deve ser tratada como as outras.”
Os projetos depois do câncer de mama
No dia 29 de maio de 2014, Ana Cláudia Bett completava seu 48º aniversário e com ele recebia o resultado de uma biópsia, confirmando que estava com câncer de mama.
O diagnóstico não a surpreendeu tanto assim, pois um nódulo no alto da mama esquerda a acompanhava há alguns anos, e era cada vez mais sensível ao toque. Ela já havia consultado alguns médicos, mas apenas um afirmou que o nódulo tinha características malignas. Como havia uma certa dúvida, resolveu esquecê-lo por um período.
Com o tempo passando, o nódulo ia crescendo, assim, resolveu repetir os exames.
Ela não tinha procurando por um oncologista ou mastologista, especialistas que poderiam ter dado o diagnóstico precoce. Segundo ela, no fundo, queria acreditar que não estava com câncer. E essa espera fez com que entre os anos 2012 e 2014 o nódulo crescesse de 1 para 4 centímetros.
Hoje, ela tem consciência que um diagnóstico no início da doença faz muita diferença, e ter confiança nos médicos, dá segurança ao paciente.
Com o diagnóstico, fez a cirurgia, e após o procedimento, demorou um pouco para se dar conta do que realmente estava acontecendo. Estava feliz por ter se livrado do nódulo, mas também descobriu que ele não estava sozinho, havia mais dois, quase do mesmo tamanho. 40 dias após a cirurgia, o câncer começou a se espalhar pelos linfonodos. A sua reação diante das informações foi tranquila. Imaginava que retiraria os nódulos, faria o tratamento, ficaria careca e ponto final.
“Lembro bem quando entrei no consultório médico para fazer as marcações na pele, minutos antes da cirurgia. Eu não quis saber o que seria feito, se eu retiraria um quadrante da mama, se faria uma mastectomia, se ficaria sem a mama, se faria reconstrução. Eu só queria me livrar do nódulo.”
Ana Cláudia só ficou sabendo da mastectomia radical que havia passado, com reconstrução da mama, quando viajou novamente para saber o resultado da biópsia, 40 dias depois. Neste período, ela sentia a mama endurecida, mas pensava que logo tudo voltaria ao normal. Quando questionou seu mastologista sobre o fato, ele a avisou que a tendência era piorar. Além do fator estético, que a incomodava, a mama endurecida causava dor. Após a radioterapia a mama endureceu muito mais e ela precisou passar por nova reconstrução mamária. Livrando-se do que a causava tanto desconforto.
Para ela, embora ninguém saia de um tratamento sem sequelas físicas ou emocionais, o câncer não pode te impedir de ser feliz.
“Acredito que não deve ser fácil para uma mulher, acordar da cirurgia, sem a mama, sabia que eu levaria alguns meses para aceitar a mutilação, mas também penso que uma mulher deve se amar acima de tudo, com suas imperfeições. Tive a chance de renascer com o término das etapas mais agressivas do tratamento.”
Depois desta fase, Ana iniciou o projeto social Laços de Vida, para ajudar mulheres que enfrentam o câncer a manter a autoestima. Também começou um trabalho com os idosos de um asilo, com o objetivo de levar carinho e sensibilizar crianças e adolescentes a terem um olhar mais solidário na doença e na velhice.
Seu projeto mais recente foi o lançamento do livro, ‘Se tiver uma chance reinvente-se’, que conta a sua experiência de uma forma mais leve. Toda a renda da venda dos livros é revertida para o projeto Laços de Vida.