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Marrocos completa 55 neste mês

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Foto: Camila Paes

É só estando lá dentro e observando os detalhes com muita atenção que se entende a importância do Cine Marrocos para a história e a cultura da Serra Catarinense. De arquitetura imponente, no meio da modernidade que avançou pela cidade, o cinema, inaugurado em 1964, completa, neste mês, 55 anos de sua inauguração. 

Foi em setembro daquele ano que o Marrocos abria as portas para o público em geral. Quem entrava no prédio, deparava-se com o mais novo ponto de encontro da cidade, decorado com classe para entreter a população. As famosas poltronas vermelhas estavam lá para receber os convidados e autoridades. Que, aliás, podiam ser muitos. A capacidade de lotação do cinema é de 1.012 pessoas.

A data correta do ato de inauguração não é muito precisa. De acordo com a edição do Correio Lageano do dia 16 de setembro de 1964, a abertura do espaço estava marcada para às 16h do dia 17. Já no próprio cinema, um mural de fotos destaca a data de 26 de setembro do mesmo ano. 

Ainda no material publicado pelo Correio Lageano, o jornalista que esteve presente no dia anterior à inauguração destacou a emoção por estar conhecendo o novo cinema. Declarou que a abertura do Marrocos era o “acontecimento mais expressivo de Lages dos últimos tempos”. Os aparelhos usados para a exibição dos filmes foram importados da Alemanha e eram únicos no Brasil. A tela de exibição era de nylon, côncava, de 17,5 metros de comprimento e 6,8 metros de altura. “O palco do Cine Marrocos possui um área de 250 metros quadrados, com condições para apresentações de balé, orquestras sinfônicas e revistas musicais”, revelou o texto do jornal. Todo o material utilizado para a construção era de primeira qualidade e os cristais foram importados. 

A inauguração do Cine Marrocos foi importante não só para o cenário cultural de Lages, mas também de todo o Brasil. Por causa disso, o arquiteto que projetou a estrutura foi escolhido a dedo. O paranaense Rubens Meister, responsável pelo Centro Cultural Teatro Guaíra, projetou o cinema em 1962, ano em que se iniciaram as obras. As características do estilo do arquiteto são muito marcantes e presentes no Cine Marrocos, principalmente na fachada e no cuidado com a colocação das poltronas na sala de cinema, para garantir uma melhor acústica das produções apresentadas.  

A solenidade reuniu diversas autoridades. O então prefeito Wolny Della Rocca (1930-2019) cortou a fita de inauguração. A lageana Salete Chiaradia, Miss Santa Catarina daquele ano, foi a grande atração da festa. O bispo Dom Daniel Hostin abençoou o local. O filme exibido na estreia foi o norte-americano Tempero do Amor (1963), estrelado por Doris Day e James Garner. 

Antes da inauguração do Marrocos, na Rua Governador Jorge Lacerda, os Cine Teatro Marajoara, Cine Teatro Tamoio e Cine Teatro Avenida já estavam em funcionamento. Atualmente, estão em funcionamento apenas o Marajoara, como teatro e Marrocos como cinema. 

A chegada do novo empreendimento marcou Lages como o maior centro empresarial de cinema no Brasil. Foram anos áureos, que resultaram, até, em festivais de cinema na cidade. O primeiro aconteceu em 1975, de 11 a 15 de novembro. O filme vencedor foi “A Extorsão” que ganhou cerca de 50 mil Cruzeiros pela vitória – o que hoje equivale a cerca de R$ 5 mil. A atriz Vera Fisher também foi vencedora do festival e esteve em Lages para receber o prêmio. 

Titanic levou 25 mil pessoas ao cinema

Na época da inauguração, o Cine Marrocos vivia lotado. A sala de estar, no piso superior, e a sala de espera, no piso inferior, viravam passarelas, onde homens e mulheres desfilavam suas roupas da moda. 

Mas foi em 1998, que o maior público passou pelas poltronas do cinema. Foi o sucesso Titanic que levou mais de 25 mil pessoas a assistirem ao longa-metragem que ficou dois meses em cartaz. O filme chegou para superar uma crise de quatro anos, período em que a sala deixou de lotar. Em 1999, o filme a Múmia voltou a lotar o local. Seguido pela exibição do último filme da saga Harry Potter. 

Mas foi em 2018, que um filme produzido e rodado em Lages, lotou as mais de mil poltronas. A Voz da Cidade, que retrata a chegada do comunicador Carlos Joffre do Amaral em Lages, voltou a trazer as filas para a bilheteria do Cine Marrocos. 

Portas se fecham

Em 2009, o Cine-Marrocos fechou as portas. O último filme exibido foi numa quinta-feira, 30 de janeiro. O filme reproduzido para sete pessoas, foi Sete Vidas, de Will Smith. Em 2011, o cinema voltou a funcionar, como a maior sala de cinema 3D do Brasil. A partir daí, o cinema histórico passou a andar de mãos dadas com a modernidade, para se manter funcionando. 

Tombamento é discutido

O prédio do Cine Marrocos está em processo de tombamento desde 1998. O diretor de Políticas Culturais da Fundação Cultural de Lages, Fabrício Furtado, explica que Prefeitura, Secretaria de Planejamento e Fundação Cultural, estão analisando o processo. Mas não há nada definido, porque o prédio é considerado novo e em boas condições. Além disso, é preciso, também, revisar o interesse dos proprietários, já que o prédio é uma propriedade privada. 

 

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