Turismo
#CLentrevista o ex-ministro de turismo Luiz Barretto
Luiz Barretto é ex-ministro de turismo, especialista em empreendedorismo, gestão empresarial e pequenos negócios, com atuação nos setores público e privado. Nesta semana, esteve em Lages participando do 1º Workshop Identidade Cultural da Serra Catarinense.
Correio Lageano: A Serra Catarinense está criando a sua identidade cultural para explorar o mercado turístico. Ainda é o início, mas estamos no caminho certo?
Luiz Barretto: Com certeza, agregar, cooperar, ter uma identidade regional que faça com que toda a região cresça, que todo o território se potencialize, não apenas um destino turístico, que a gente possa repensar a região. Ter uma governança que olhe o conjunto das cidades da Serra Catarinense, é um ponto positivo e vai na direção correta. Todas as regiões turísticas que se desenvolveram, que se tornaram sustentáveis, são aquelas que trabalham de maneira cooperativa. Você tem um município que é mais forte em um aspecto, em um tipo de produto, no ecoturismo, por exemplo, o outro no turismo rural. Acho que esse é o caminho certo. A Serra Catarinense é um produto turístico que pode ser reforçado, pode crescer no mercado brasileiro.
Como o brasileiro vê a Serra Catarinense?
Eu vou dizer como paulista, o paulista ainda vai muito à Serra Gaúcha, mas sabe que aqui (Serra Catarinense) é o lugar mais frio, a gente vê imagens. Eu vim preparado para o frio, mas está quente. Tem referências importantes, Lages tem uma tradição no turismo rural, tem uma viticultura que está crescendo. Tem vários aspectos que são positivos, que precisam ser reforçados, trabalhados no mercado. Há uma grande concorrência e você tem um turista muito diferente do que tinha há 10 anos, que é o turista conectado e digital, que tem muita informação, que pesquisa e que compara. Esse mundo novo que a gente vive, também impacta a oferta turística e a demanda, como a gente deve entender o turista. Acho que a Serra tem todas as condições de se tornar um produto, não só para o catarinense, gaúcho ou paranaense, mas abrir mais o mercado de maneira geral. Tem um ponto de conectividade importante, aliás, tive a boa notícia, queria confirmar com vocês aqui, vamos ter voos da Gol novamente no aeroporto de Lages.
Quais os aspectos precisamos aperfeiçoar para sermos uma região ainda mais atrativa?
Vocês tem uma trabalho a ser feito, na gastronomia, por exemplo, que é uma identidade regional também. Trabalhar com que a oferta turística tenha acessibilidade, sinalização, ter um bom receptivo, criar aqui uma identidade que possa ser cooperativa, muita colaboração dos municípios. Uma governança do território que fique com o poder público e o setor privado e aí significa a melhoria da infraestrutura, a rede hoteleira, o serviço de wi-fi, são fundamentais, infraestrutura não só logistica da área urbana. A principal questão quando um turista vai para o local, a escolha dele, está muito pré-determinada, por exemplo, se tem wi-fi ou não. Vocês têm a 260 quilômetros daqui, uma Serra muito consolidada, que tem produtos muito parecidos com o que têm aqui. Mas vocês têm características próprias, uma estrada maravilhosa, há muitos anos fiz este trajeto da Serra do Rio do Rastro. Eu acho que todo local tem de procurar sua identidade, seus aspectos culturais, isso é fundamental para um conjunto da população envolvida. O turismo, evidentemente, pode ocupar um espaço maior na economia, no PIB local da região.
Qual é a importância do trabalho convergente entre poder público e privado para trazer o turista para a Serra?
Tem de ter o poder público, o setor privado, a universidade, o terceiro setor, todos unidos num sentido de reforçar esses aspectos. Não podemos ser só dependentes do poder público, o empresariado tem um papel importante. Mas algumas questões são do poder público, infraestrutura, a sinalização turística, a venda, como se potencializa no mercado, como se posiciona o produto turístico Serra Catarinense no mercado interno brasileiro. E aqui tem uma questão importante, para poder tomar decisão, modificar e crescer, a gente precisa entender quem vem para cá. Observatório com os números do turismo local, se são homens, mulheres, qual a idade, a principal procura, se é ecoturismo, turismo rural ou de eventos. Para ter decisão correta, alocar recursos que são sempre escassos, tem de ter muita informação, muitos dados, isso é decisivo para que os destinos sejam sustentáveis. A cooperação entre poder público e o setor produtivo é fundamental, a gente fala em território, em rota, não em uma cidade. A rota da Serra Catarinense tem de agregar o conjunto dos municípios, do poder público e do empresariado, não só o segmento hoteleiro, de toda a cadeia do turismo. Tratar de maneira única esse turista.
E a importância destes eventos, onde são debatidos os aspectos turísticos?
Todo território, toda cidade tem a sua identidade, os pontos fortes e os que precisam ser superados. Você tem um debate cultural. Vocês são um dos maiores produtores de maçã, de papel e celulose. Como você junta toda essa cadeia produtiva de valor, que não é só no turismo, mas em outras áreas. Como a gente transforma os atrativos naturais num produto turístico? Atender a demanda, vender. Disputar esse mercado. Há muita coisa rica positiva aqui, tem gastronomia, tem vinho, que um turista como eu, que sou de São Paulo pode aproveitar e ficar mais tempo aqui.