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João recebeu um sim, mas não resistiu à cirurgia
Era 5h11 de terça-feira (1º) quando a família de João Vitor Oliveira Machado, 16 anos, recebeu uma ligação que era esperada há tempos. Do outro lado da linha, um profissional da saúde informava que os meses de angústia haviam chegado ao fim e João receberia o esperado transplante de coração.
Portador de cardiopatia congênita (uma anormalidade na estrutura do coração, que surge antes do nascimento), nos últimos meses João estava com a imunidade baixa e passou mais tempo internado do que em casa. Seu último internamento foi na segunda-feira (30), em um hospital de Porto Alegre (RS). Por isso, quando a família recebeu a notícia de que um coração compatível foi encontrado, João já estava no hospital.
Sua mãe, a registradora civil Suzine Marina Oliveira Taborda Machado, 39 anos, conta que o garoto entrou no centro cirúrgico por volta das 8 horas de terça-feira. A cirurgia de transplante deveria ter durado entre quatro e seis horas, mas devido às aderências no corpo de João, causadas pelas inúmeras cirurgias paliativas feitas ao longo da vida, os médicos demoraram para conseguir retirar seu coração.
Suzine contou que a demora no procedimento acabou comprometendo o ventrículo direito do novo coração. A cirurgia de João encerrou por volta das 18 horas e ele foi levado para a recuperação. Era 00h40 de quarta-feira (2) quando a família soube que o garoto não resistiu e a batalha de uma vida inteira teve fim.
“Alguém, em um momento muito doloroso, disse sim pra vida do meu filho e aceitou doar órgãos de um ente querido. Mesmo que o resultado não tendo sido o que nós esperávamos, uma família disse sim ao João, pra ele ter outra chance.
O que ele mais queria era ter recebido este coração, por isso, o legado que nos deixa é que temos que continuar lutando”, conta Suzine, que mesmo passando por um momento tão delicado, já decidiu que vai se engajar em campanhas de doações de órgãos, para que outras pessoas tenham a mesma oportunidade que seu filho teve.
O corpo de João está sendo transladado para Lages. O velório começou às 17 horas de quarta-feira (2), no Parque da Saudade, e o enterro na manhã de quinta-feira (3). “Eu não perdi e ele também não perdeu, porque ele teve o sim que tanto esperava. Agora, quero que outras pessoas tenham a mesma chance que o meu filho recebeu”, completa Suzine.
A espera
João e a família souberam no fim do ano passado que ele precisaria de um transplante, o que mudou completamente a rotina da família. Como seu tratamento era feito no Rio Grande do Sul desde os dois meses de vida, o garoto mudou-se para a capital gaúcha no início de 2019, junto com o pai, o corretor de imóveis Fábio Taborda Machado, 41 anos, para esperar pelo transplante.
Suzine continuou morando na Serra Catarinense, por causa do trabalho, mas nos fins de semana e folgas sempre estava ao lado do marido e do filho. Como Fábio estava sem trabalhar, a família criou uma vaquinha online, a fim de arrecadar dinheiro para as despesas com os medicamentos e a moradia em Porto Alegre. O Correio Lageano contou esta história na edição de 27 e 28 de julho deste ano.