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Desconstruindo padrões

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Foto: Ilustrativa/Divulgação

Entre tantos padrões de beleza impostos pela sociedade para as mulheres, a depilação está entre os mais conflitantes. Há quem diga que o fato de a mulher se depilar não está relacionado apenas à estética e sim à higiene íntima. Neste ponto, as mulheres que optaram por deixar a depilação de lado e exibir seus pelos naturais contestam: “então, a maioria dos homens não tem higiene? ”

O assunto está em grande destaque na mídia e nas redes sociais, por meio de artistas que andam desfilando suas axilas com pelos. Os comentários são diversos, alguns apoiando, muitos outros questionando e demostrando a insatisfação. A onda que se inicia, de mulheres que deixaram de lado a supervalorização da aparência, com a imagem de mulher perfeita, imposta pela sociedade, faz com que o assunto ganhe espaço.

Essa não é a primeira vez que um grupo, neste caso, grande parte formado por feministas, tenta descaracterizar o perfil da mulher perfeita. O movimento hippie fez isso na década de 1960, mesmo que por um curto período de tempo. O grupo questiona se o fato de a visão dos pelos corporais não satisfazerem as mulheres, está relacionado a uma opinião pessoal ou a pressão imposta pela sociedade, assim como o cabelo o peso e as medidas.

Marina Severo começou a se depilar aos 12 anos, quando percebeu os primeiros pelos à mostra. Resistiu apenas à depilação nas pernas, local que até hoje nunca depilou. Começou a retirada dos pelos a exemplo das outras mulheres que faziam isso, por questão de higiene, como pensava à época, sempre vinculada à questão da feminilidade. Quando começou a questionar os padrões, se perguntou por que a imposição não acontecia também aos homens. “Demorou até que eu entendesse que não se tratava se questão de higiene e que era, tão somente, uma imposição social apenas às mulheres”. Essas questões vieram à tona em sua vida, quando teve mais contato com o feminismo. E hoje, deixa claro a quem questiona, que o movimento não diz respeito a mulheres peludas e sem higiene e sim ao fato de respeitar suas escolhas, de optar sobre o desejo de depilar-se ou não.

Atualmente, sua rotina não é mais a mesma. Depila com cera apenas algumas partes do corpo, para conforto, sem comprometimento com os possíveis olhares de julgamento. “Acredito que é necessário que a sociedade passe a se questionar quanto ao que é imposto para as mulheres. Já que muito do que é cobrado não tem sentido lógico e nem diz respeito ao que queremos para nós mesmas.”

Quem dita as regras?

 

A regra natural é que os seres humanos tenham pelos, naturalmente, por algum motivo, seja ele de proteção das áreas de dobra, para evitar atritos na pele ou imunidade contra o frio. Segundo a ginecologista e obstetra Tatyana Stenger (CRM/SC 16067), não existe evidência científica que traga ponto e contraponto sobre a depilação, além das informações divulgadas com a palavra de especialistas, principalmente dos seus colegas dermatologistas. “Não há um indivíduo mais higienizado ou menos higienizado apenas pelo fato de escolher se depilar ou não”.

Historicamente, no antigo Egito, a depilação era uma prática comum entre homens e mulheres, quando nas altas castas existiam “padrões de beleza”. Com o passar do tempo, o hábito da depilação foi se perpetuando. No Brasil, por exemplo, a cultura vigente é a do corpo completamente depilado pelas mulheres, e de alguns homens que se interessam pelo assunto. As mulheres, de forma geral, acabam se rendendo mais a esse costume, por estarem há mais tempo à mercê da indústria que dita a moda e os padrões de beleza.

“Depilar-se ou não, quando fazer ou de que forma, é uma mera construção social ou de gosto pessoal. Na maioria dos casos, não há como, com os dados científicos atuais, um profissional de saúde abonar ou desabonar tal prática,” finaliza Tatyana.

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