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Cápsula do tempo foi citada em livro
Se não fosse a insistência de um amigo, Hercílio Oliveira da Silva Filho, 68, não teria entrado no canteiro de obras do Colégio Aristiliano Ramos e avisado aos operários que uma cápsula do tempo, com mais de 80 anos, estava enterrada ali. Ele foi informado da localização do objeto, porque em 1934, seu pai, que também se chama Hercílio Oliveira da Silva, trabalhou na obra de construção do colégio. A escola viria a se tornar a segunda instituição estadual em Lages, denominada de Escola Normal e que tinha a intenção de formar professores na cidade.
Naquele ano, Hercílio, então com 15 anos, presenciou o ato da Pedra Fundamental, cerimônia de colocação do primeiro bloco de pedra acima da fundação de uma construção, no terreno que abrigaria o Colégio Aristiliano Ramos. Em uma pedra, dentro de uma caixa de metal, foi depositada uma garrafa de vidro com uma ata do dia 03 de outubro, edições do Jornal A Época e moedas correntes do ano. O material foi fechado e assentado pelos operários Carlos Wagenfür e Atilio Floriani. De acordo com registros do Jornal A Época, o evento contou com apresentações musicais e palmas.
>> História_ Durante a sua vida, Hercílio nunca revelou o caso para a família. Foi quando começou a ler as notícias sobre a demolição do colégio, que contou para os filhos. Mesmo aos 98 anos, o aposentado está lúcido e contou com detalhes ao filho onde estava enterrada a pedra. Hercílio Filho revela que sabia da informação há algum tempo, mas não sabia para quem deveria repassar os dados. Foi na última segunda-feira (18), quando passava pelo Calçadão da Praça João Costa, que contou a história para um amigo, que insistiu que ele deveria entrar e revelar o local aos operários. O coordenador do projeto Reuso, responsável pela demolição, Fabrício Martins, conta que até a chegada de Hercílio no canteiro, eles estavam desacreditados que a existência da cápsula fosse verdadeira. Alguns dias antes, o secretário de Planejamento e Infraestrutura de Lages, Clayton Bortoluzzi, havia recebido uma cópia do livro da professora Flavia Maria Machado Pinto, em que revelava a possível existência da cápsula.
>> Cuidado_ Clayton explica que, no mesmo momento, entrou em contato com a equipe que trabalhava na demolição, para que ficassem atentos. “Nós começamos a procurar, mas acreditávamos que estivesse mais no meio da estrutura e não no local onde foi encontrado”, acrescenta o secretário. Hercílio (pai) lembrou com detalhes o local onde foi depositada a pedra. Embaixo de uma janela, do lado da antiga Farmácia América, na Rua Nereu Ramos. Foi bem neste local que, na tarde de quarta-feira, ela foi encontrada. Clayton explica que se a demolição seguisse o curso normal, seria muito mais difícil que a pedra fosse encontrada e preservada. Se Hercílio Filho não tivesse entrado no canteiro de obras, havia a possibilidade do objeto ser descartado com o resto dos resíduos.
>> Trajetória_ Hercílio Filho revela que o pai sempre trabalhou como operário, em obras na construção do antigo Banco Mercantil e do Clube Serrano. Atualmente, ele está bastante debilitado e não consegue mais enxergar normalmente. Foi por e-mail que avisou a irmã que a pedra foi encontrada, mas não sabe se o pai já foi informado. Emocionado, ele diz que é muito importante saber que contribuiu para a história lageana e que espera que o nome do pai, que foi de grande importância para a descoberta, seja lembrado.
30 dias para abrir a garrafa
O superintende da Fundação Cultural, Gilberto Ronconi e o coordenador do Museu Histórico Manoel Thiago de Castro, Ader Godoy, explicam que serão cerca de 30 dias de secagem do material antes da garrafa ser aberta. O maior receio é que o contato com o oxigênio deteriore o material que está dentro da garrafa. Nos primeiros 15 dias, o material ficará em uma caixa fechada com o óleo de melaleuca, uma substância usada para absorver a umidade. Nos outros 15 dias, a peça continua a passar pelo processo de secagem, feito pelos historiadores, arquivistas e outros profissionais do museu. Ronconi explica que, agora, não se sabe o que esperar do material, já que ficou guardado por muito tempo e pode estar deteriorado. A professora Flavia Maria Machado Pinto, autora do livro Primeiras Escolas Públicas de Lages, revela que descobriu a existência da cápsula ao fazer pesquisas nos arquivos históricos do museu, ainda na época em que o seu fundador, Danilo Thiago de Castro era vivo e ajudava com a pesquisa. Ela revela que Danilo ficou muito interessado no trabalho, já que foi um dos primeiros alunos da Escola Normalista. Flavia também estava bastante emocionada com a descoberta da cápsula, já que isso comprovou que sua pesquisa estava precisa. Quando for aberta, ela quer estar presente, para confirmar que os objetos relatados estão, realmente, dentro da garrafa de vidro mais comentada de Lages.