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Atropelamento: A recuperação de um dia inesquecível

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Fotos: Vinicius Prado

“Nasci de novo”. Essa é a frase que praticamente todas pessoas que foram atropeladas no dia 1º de dezembro de 2017 dizem até hoje – e ainda irão dizer. As sete vítimas do acidente sobreviveram e se recuperam física e psicologicamente. O Correio Lageano conseguiu conversar com três pessoas e conta a seguir seus depoimentos e o que lembram do dia fatídico.

O sargento da Polícia Militar, Joel Alves de Souza, só lembra de fechar os olhos e esperar a morte. Um pensamento estranho, para quem naquele dia havia acordado feliz por ser dezembro e, também, com todas as conquistas pessoais e profissionais do ano. Mas Joel não tinha como imaginar que, naquela sexta-feira, iria parar debaixo de um carro.

Estava em serviço, para ser acionado em qualquer circunstância que a PM necessitasse, seguia em deslocamento com a moto da polícia pela Rua Serafim de Moura, quando foi surpreendido pelo Sandero conduzido por Giovanni de Oliveira Fornari. O sargento lembra que viu a aproximação rápida do veículo através do retrovisor e não deu tempo de fazer nada.

Joel lembra do carro bater na traseira da moto e o arremessar para cima do capô, fazendo-o cair, depois, em frente ao carro. Foi quando o motorista ao invés de parar, continuou e arrastou o policial por quatro metros. Enquanto isso, ele se debatia no veículo pedindo para parar. Giovanni teria parado. Joel conta que nesse instante se sentiu aliviado, mas logo a esperança passou.

O carro voltou a andar e passou por cima do sargento, prendendo-o no rodado e arrastando por quase 10 metros. Nessa hora, Joel conta que pensou que iria morrer. “Eu fechei os olhos e só esperei a morte”. Lembra de algumas coisas, apenas, como as pessoas gritando com o motorista, para que ele parasse. Somente na Rua Fausto de Souza que o Sandero parou, com o policial embaixo do carro, e o motorista tentou fugir a pé. Numa força conjunta, pessoas que estavam na rua, ajudaram a levantar o veículo e conseguiram tirar Joel.

Entendimento e oração

Hoje, o sargento sabe que deveria estar lá, naquela hora e lugar. Conta que se não estivesse lá, o motorista teria seguindo em frente. “Ficou bem claro que o motorista poderia ter atropelado mais pessoas”. Destino ou proteção divina. Qualquer um dos dois, Joel credita seu livramento a Deus. Evangelista na Igreja Assembleia de Deus, estava em uma campanha de oração durante duas semanas. No dia do acidente, seria o 10º dia da campanha, a qual toda a igreja estava orando por Lages, pedindo proteção e segurança para a cidade, a população e autoridades..

Recuperação dolorida

O sargento ficou internado apenas um dia no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres. Entrou na sexta e saiu no sábado. No dia do acidente já queria ir para casa, pois ainda gostaria de participar do último dia de oração na igreja. Teve de deixar para sábado, após receber alta. Inclusive nesse mesmo dia, gravou um vídeo para os colegas da corporação, explicando seu estado de Saúde.

Joel fraturou a coluna vertebral e teve diversas escoriações. A primeira quinzena foi a mais difícil, devido às dores. Agora, está mais tranquilo. Os últimos exames trouxeram resultados positivos e deve iniciar a fisioterapia em breve, enquanto permanecerá afastado das atividades por, pelo menos, mais três meses. Em casa, dá graças a família e a Deus, por estar bem e se recuperando.

Janaína segue em recuperação

Dentre as vítimas que mais se machucaram durante o acidente está Janaína Antunes Corrêa, de 33 anos. Ela é deficiente auditiva, por isso não ouviu os gritos das pessoas no Calçadão Túlio Fiúza De Carvalho, no dia do acidente. Janaína teve politraumatismo e, atualmente, está numa cadeira de rodas, fazendo a recuperação.

A sua irmã Adriana Corrêa, que tem ajudado junto aos outros irmãos, conta que Janaína teve um grande avanço. Ela terá de fazer uma cirurgia para a retirada dos parafusos dos joelhos e, assim, começar a dar os primeiros passos.

Adriana conta que sua irmã não fica mais nervosa com relação ao ocorrido. “O emocional dela está bem. A gente procura nem falar sobre, mas se perguntar, ela lembra sim”. Desde que voltou para casa, Janaína tem contado com a ajuda de algumas pessoas, mas a vaquinha online, feita em dezembro passado, ainda está longe de ser alcançada, parou em R$ 1.439,00, sendo que o objetivo é de R$ 25 mil.

As dificuldades não abateram a jovem. Adriana diz que ela sempre procura fazer rir quem está perto. “Brinca que agora já pode virar para o lado e dormir. Rimos muito com ela, porque quando queremos decair, ela arranca um sorriso do nosso rosto. Uma graça”.
É desse modo, se recuperando e tentando seguir em frente sem desanimar, que as pessoas levam a vida após o acidente.

Um dia difícil de esquecer

Dona Helena Maria Pires, de 67 anos, esposa do picolezeiro Alcindo de Lima, 68, que o diga. Ela conta, hoje, que seu marido precisa comemorar dois aniversário: o oficial, no dia 1º de janeiro; e o novo, no dia 1º de dezembro. Assim, como o sargento da PM, senhor Alcindo conta que “nasceu de novo”.

Ele estava atrás do seu carrinho de picolé, onde trabalha há quase 40 anos, na Rua Nereu Ramos, quando o carro de Giovanni bateu em cheio e o arremessou a alguns metros. Alcindo logo foi atendido pelas pessoas que estavam perto e relatou não ter se machucado. Mas as dores começaram no dia seguinte e, desde então, ainda incomodam.

O joelho e o quadril são os lugares onde Alcindo sente as dores. Diz que hoje não adianta mais ir atrás de auxílio médico, porque consegue trabalhar e fazer as coisas. Além disso, conta que nos exames de raio-x não apareceu nenhuma fratura. Dona Helena fica preocupada, mas cuida do marido.

Ela estava junto com ele no dia do acidente. Como sempre faz, leva almoço a ele, por volta do meio dia e o acompanha no serviço até o meio da tarde. Mas naquela sexta-feira, como o movimento estava fraco, resolveu passar no mercado e o deixou ali. Depois, quando retornou, só viu as pessoas ajudando seu marido. “Ele nasceu de novo. Se eu tivesse junto, não teria”, diz. Isso porque, ela sempre fica ao lado do carrinho e, acredita, com o impacto poderia ter sido mais atingida.

Senhor Alcindo não consegue esquecer tão fácil. “O trauma fica”. Mas o sorriso no rosto e a companhia de Dona Helena o ajudam na recuperação, de um dia que, para todos, será inesquecível.