Economia e Negócios

Vinhos e Vinhedos: Emprego e renda; e como tudo começou em São Joaquim

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Na segunda parte da reportagem, contamos como foi o início do setor, que atualmente emprega 2 mil pessoas somente em São Joaquim - Fotos: Vinicius Prado

Com a chegada das vinícolas a São Joaquim, houve um incremento na geração de emprego e renda, consequentemente, contribuindo para o desenvolvimento. As funções dentro de uma vinícola são as mais diversificadas possíveis, desde quem colhe até o próprio enólogo, responsável por cuidar de todo o processo de vinificação e, também das parreiras no vinhedo.

Mas o cargo que se destaca ainda é o famoso “faz-tudo”. Com certeza, não há um lugar que não haja alguém responsável por executar diversas tarefas, a fim de auxiliar na cadeia produtiva da fabricação dos vinhos.

Na Villagio Bassetti, há 10 quilômetros do Centro, esse faz-tudo se chama Claudionei Artismo, de 35 anos. O rapaz é natural de São Joaquim. Começou a trabalhar porque soube da vaga de tratorista e decidiu tentar. Desde então já se passaram seis anos.

Mas ele não imaginava que essa seria a porta de entrada para um mundo apaixonante. De tratorista, ele passou a caseiro do local, onde mora com a esposa e duas filhas.

Claudionei ajuda na colheita, na rotulação das garrafas, no conserto das máquinas, com o trator, enfim, uma lista de tarefas que ele diz fazer com orgulho, não só porque gosta, mas porque a cultura do vinho o atrai.

Ele é um dos dois mil empregados do setor, na cidade. São empregos diretos e indiretos durante o ano, desde o plantio até a colheita, engarrafamento e comercialização. É possível ser um faz-tudo como Claudionei, mas também ser colhedor, tratorista, enólogo, sommelier, guia turístico, atendente até o dono da vinícola.

Enólogo

Mas entre as áreas que mais chamam atenção de quem gosta de vinho está a enologia. O enólogo Joelmir Grassi, de 25 anos, por exemplo, está desde 2010 na Villagio Bassetti, ou seja, começou bem cedo no ramo e não saiu mais.

Atraído desde pequeno pela cultura do vinho, Grassi sempre trabalhou com agricultura. Filho de pais agricultores e natural de Frederico Westphalen (RS), ele, além de ajudar em casa, quando “guri”, como conta, durante as férias escolares do colégio agrícola, ia com os amigos a uma vinícola de Bento Gonçalves, auxiliar na época da colheita.

Isso fez com que optasse a cursar o superior em tecnologia em Viticultura e Enologia, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), tornando-se um enólogo. Este mesmo curso, inclusive, está disponível na Serra Catarinense, no câmpus Urupema do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). O curso de Urupema do IFSC é a única graduação na área em Santa Catarina.

Outros ramos e empregos

Um estudo do Sebrae nacional, aponta que o vinho movimenta 45 negócios diferentes, ou seja, mais pessoas são beneficiadas pelo setor, indiretamente. “O vinho vem ativando o movimento de restaurantes, cafés, pousadas, hotéis e dos diferentes segmentos do comércio local”, diz Acari Amorim. “Um bom exemplo disso é o Restaurante Pequeno Bosque, um dos melhores da cidade: em muitos dias, o valor da venda dos rótulos de altitude supera o valor das refeições servidas”, comenta.

O enólogo Joelmir Grassi, de 25 anos, por exemplo, está desde 2010 na Villagio Bassetti, ou seja, começou bem cedo no ramo e não saiu mais

Como tudo começou em São Joaquim

A vitivinicultura, em São Joaquim, ainda é jovem. Está prestes a completar 20 anos. Os pioneiros deste segmento na região foram os empresários Acari Amorim e Manoel Dilor Freitas, fundadores das vinícolas Quinta da Neve e Villa Francioni, respectivamente.

Essa paixão começou em 1999, em ambos os empreendimentos, quando se instalaram nas redondezas da cidade. Definir quem chegou primeiro não é relevante para destacar a importância que essas duas vinícolas têm na economia joaquinense e para a cultura do vinho.

A história da Quinta da Neve começou quando os quatro sócios: Acari Amorim, Robson Abbdala, Nelson Essemburg e Francisco Brito; compraram uma área de 87 hectares, no distrito de Lomba Seca, conhecido como a antiga Fazenda Bentinho, há 30 quilômetros do Centro.

Os frutos não demoraram a ser colhidos, literalmente. No 2000, começou o plantio das mudas viníferas, importadas da Itália e de Portugal. Quatro anos depois, era lançado o primeiro rótulo da vinícola. “Eu tenho o maior orgulho que foi a maior experiência”, ressalta Amorim.

Hoje, esse trabalho pioneiro é seguido por quase uma centena de empreendedores que administram empreendimentos de plantio e produção de vinhos e que formam a Vinhos de Altitude – Produtores Associados.

A vinícola tem em produção 25 hectares de uvas, com destaque para as variedades Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Merlot, Sangiovese, Montepulciano, Touriga Nacional, Sauvignon Blanc e Chardonnay, além de uma área de experimentação com 16 variedades diferentes.

Paixão

Esse é o adjetivo que pode ser usado para definir a história da implantação da Villa Francioni. Sr. Dilor, como era conhecido, veio do ramo industrial, trabalhando por anos em uma empresa de cerâmica. Certa vez, a paixão pela arte vitivinicultora falou mais alto e, colhendo informações ao redor do mundo, percorrendo as melhores regiões produtoras ou dialogando com os maiores especialistas, ele escolheu a Serra para estabelecer a vinícola de maior referência do país.

Como define seu próprio histórico, o empreendimento consolidou a interação entre o meio ambiente, trabalho e conhecimento, fazendo com que Dilor encontrasse o caminho para viabilizar um projeto promissor e duradouro.

Seu hobby de colecionar obras de arte, aliado ao seu olhar visionário, foram alguns dos componentes que transformaram a elaboração do vinho em alta cultura. Capacitada para produzir 300 mil garrafas por ano e com uma produção anual de 160 mil, a vinícola tem uma área total de mais de 4,4 mil metros quadrados.

Amizade é um ingrediente vital

Quem acompanhou de perto o crescimento e desenvolvimento dessas primeiras vinícolas e, consequentemente, a expansão do setor em São Joaquim, é o empresário e dono da Casa do Vinho, Vilson Ribeiro de Borges, de 64 anos.

Se for para falar de pioneirismo, Vilson é a pessoa mais adequada da região. Ele foi quem vendeu os primeiros rótulos das icônicas vinícolas citadas, mas também foi quem começou a venda de garrafas de vinhos de outras regiões do Brasil. Além de ser amigo próximo dos pioneiros Acari e Dilor.

Até 1995, Vilson era distribuidor de cervejas. Com a chegada de uma grande empresa fabricante dessas bebidas, o então representante decidiu abrir a Casa do Vinho, no município e vender as garrafas.

Taxado de louco por familiares e amigos, o empresário não teve tanto apoio no início, porque naquela época o ramo não era tão promissor. Existiam somente vinhos simples e de mesa, segundo conta Vilson.

Naquela época, conheceu o Sr. Dilor e ficaram amigos. Vilson lembra que naqueles anos, as pessoas não tinham o hábito de tomar vinho, principalmente porque consideravam a bebida cara. “Foi uma batalha bem complicada. Eu mesmo ia nos restaurantes e lojas especializadas para explicar sobre o vinho”, lembra.

Ele chegou ao ponto de solicitar aos seus amigos, que pedissem por vinhos nos restaurantes, como estratégia para que os proprietários desses lugares enxergassem a necessidade de ter uma carta de vinhos.

Empresário e dono da Casa do Vinho, Vilson Ribeiro de Borges

Série
  • Sábado e Domingo (18 e 19) Investimentos, inovação e pesquisa
  • Segunda-­feira (20) Emprego, renda e pioneirismo
  • Terça­-feira (21) Enoturismo
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