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Usar tecnologia em sala de aula, ainda é um desafio
Com apenas alguns cliques, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos conseguem se conectar com diversas parte do mundo. A internet possibilita às pessoas conhecer um país ou saber sobre a vida de um animal. Praticamente não existem limites para as novas tecnologias, mas a aplicação delas em sala de aula, encontra várias barreiras, principalmente da rede estadual de Lages.
Algumas escolas possuem ferramentas, mas não há estrutura suficiente para a internet funcionar e atender a demanda dos professores. Em contrapartida, quando há o aparelho, muitos professores não sabem como conciliar a prática pedagógica com a tecnologia, ou, nem mesmo como usar os equipamentos.
Em 2013, as escolas estaduais da Agência de Desenvolvimento Regional, que possuíam ensino médio, receberam 521 tablets. A expectativa era a de que os eletrônicos mudariam a rotina da sala de aula, o modo de apresentar o conteúdo e até a velocidade em acessar informações. Porém, para muitos professores, isso não aconteceu. E a falta de internet foi o fator principal para que a expectativa não tenha se tornado realidade.
Equipamento não chegou
A professora, Lilian Cordova, comenta que nunca recebeu os tablets e percebeu que os colegas que receberam nunca usaram. Ela disse ainda, que uma professora, por não ter sinal wi-fi na escola, usava o tablet como calculadora para fechar as notas.
A professora Eliana Zimmermann Bornhausen relata que não recebeu o tablet, pois na época estava afastada, ela acredita que os outros professores não usem ou nem tenham mais. “Na minha escola cada professor usa seus equipamentos pessoais. A escola é que precisa dar jeito na internet, para que possamos acessar o sistema. Dificilmente conseguimos trabalhar com a internet nas salas. Aí o trabalho se acumula por que precisamos lançar tudo no professor online (sistema)”.
O professor de matemática Adriano Cardoso foi um dos professores que recebeu o tablet em 2013 e deu entrevista à Secretaria da Educação na época. Porém, a história de expectativa versus realidade aconteceu com ele.
Com a falta de suporte e internet, o tablet funcionou por apenas oito meses, e, hoje, está guardado. Adriano frisa que com a infinidade de possibilidades na internet, é preciso instigar o aluno para questionar, analisar, estimular o pensamento crítico e a capacidade de se inteirar, ter discernimento. “É uma forma de aumentar o leque de recursos pedagógicos”.
Curso de capacitação
O professor e Gerente Regional de Educação, Humberto de Oliveira, afirma que alguns professores já utilizam ferramentas tecnológicas. A Gered possui um núcleo de tecnologia que oferece cursos gratuitos aos professores de capacitação para utilização de plataformas e outros meios. Humberto enfatiza de que nada adianta ter a tecnologia se os docentes não mudarem a metodologia de ensino. “A tecnologia precisa ser vista como uma das ferramentas pedagógicas”.
Neste primeiro semestre, cinco cursos estão sendo ofertados, gratuitamente, aos professores (Tecnologia e Diversidade; Teoria da Diversidade e as Tic’s; Oficina Lousa Digital e Suas Funcionalidades; Conhecendo o Google For Education e suas ferramentas; Fotografia como recurso pedagógico).
Escola não têm telefone
Sobre a internet nas escolas, Humberto destaca que algumas escolas, principalmente as do interior, não possuem nem telefone, quiçá internet. Tanto é que em uma escola do interior de São José do Cerrito, uma professora só consegue registrar os alunos no sistema online quando chega na praça da cidade.
O desafio, agora, além de desenvolver tecnologicamente os professores e aumentar a potencialidade da conectividade e o número de escolas contempladas. As escolas estaduais possuem rede banda larga, via satélite e rádio, o aumento da velocidade está sendo gradativo, conforme o número de alunos.
O gerente explica sobre o funcionamento dos tablets, alguns estão sem funcionar, outros guardados, e ainda há os que foram direcionados para o uso de contabilização da merenda. Eles são usados para leitura do QR Code da carteirinha do estudante na hora do lanche.
O que dizem os especialistas
Rui Fava (autor de livros)
“Na educação brasileira a mutação digital aparenta estar muito distante, tanto em relação a tempo quanto a geografia, contudo, já se detecta reflexos dessa transmutação. Os educadores começaram a interpelar sobre a necessidade de uma metamorfose nos atributos desejados para os profissionais do futuro.
Para educar egressos capazes de conceber, implementar, operacionalizar produtos, serviços, processos, sistemas em um ambiente moderno baseado em equipe, se faz mister os desenvolvimentos de comportamentos altitudinais como: cooperação, resiliência, ética, liderança, além de serem tecnicamente especializados, socialmente responsáveis, ecologicamente conscientizados, inclinados a criatividade e inovação.
Esses atributos são essenciais para alcançar excelência em um ambiente cada vez mais baseado em sistemas tecnologicamente complexos que devem ser sustentáveis. É fato que devemos fazer um melhor trabalho na preparação de estudantes para este futuro, e que somente será factível transmutando meticulosamente a educação tradicional.
O mundo que os estudantes vivenciam fora dos portões da escola, as respostas não estão prontas, o certo e errado é relativo, estão diuturnamente convivendo com uma tecnologia que a escola ainda não sabe como utilizá-la em benefício do processo de ensino e aprendizagem. A tecnologia não deve ser o fim, todavia, certamente deverá ser o meio para tornar o processo de educar mais eficiente, efetivo, eficaz, sem perder o foco no que realmente importa: a aprendizagem.
A educação assistida não utiliza a tecnologia para melhorar a aprendizagem, mas simplesmente transpõe o ensino tradicional para uma interface de computador. Por outro lado, a aprendizagem baseada em computador, utiliza-o como uma ferramenta para treinar as habilidades de pensamento de nível superior”.
Tânia Córdova (doutora em educação)
“No cenário da educação brasileira, ainda, é forte a ideia de que a inserção da tecnologia passa pelo equipar a escola com recursos físicos, isto é, levar tecnologia para a escola é “dar” computadores, tablets ou outro equipamento para o professor ou para o aluno.
A tecnologia na sala de aula, precisa ser compreendida como um meio, como um recurso que amplifica, que potencializa a aprendizagem. Essa compreensão da tecnologia como meio só vai se fortalecer quando nossos dirigentes ou as pessoas que pensam a educação nas esferas públicas entenderem que alunos e professores não são meros consumidores de tecnologia, mas, também, produtores dela.
Um movimento nessa direção, já pode ser vislumbrado, na Base Nacional Comum Curricular. Nesse documento, que é uma diretriz para a educação no país, a Cultura Digital, é destacada como uma competência a ser desenvolvida no estudante.
Acredito que essa orientação, inicie um novo processo de construção dos sujeitos escolares (professores e alunos), uma vez que exigirá novas estratégias de aprendizagens. Estratégias essas que exigirão novas ressignificações para o “uso” da tecnologia em sala de aula. Estratégias que, certamente, deslocarão, professores e alunos da condição de consumidores/reprodutores para a condição de sujeitos que aprendem novas maneiras de usar a tecnologia, de criá-la e criá-la com base em suas próprias ideias”