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Serra Catarinense é destaque em número de queimadas

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Foto: Dionata Costa/ Divulgação

Já é praxe que, nesta época do ano, as paisagens se alterem devido à fumaça proveniente das queimadas nos campos. Mas, neste ano, os olhos estão mais atentos aos céus, já que as fortes queimadas na região da floresta Amazônica têm afetado até as cidades do sul e do sudeste do País. 

Na Serra Catarinense, não é diferente. Na cidade de São Joaquim, por exemplo, num período de 30 dias, foram atendidas 26 ocorrências de incêndio referentes a queimadas. O bombeiro da cidade, sargento Maciel, que há 25 anos trabalha na área, revela que as principais dificuldades nos atendimentos está no número reduzido do efetivo no Corpo de Bombeiros. Por dia, são apenas três bombeiros atendendo ocorrências em São Joaquim. 

“Além disso, encaramos terrenos acidentados, muita fumaça tóxica. Hoje, temos equipamentos melhores para o combate, antigamente, possuíamos apenas abafadores de borracha, isso exigia um esforço físico maior”, ressalta o sargento.

Outro fator que atrapalha é a extensão territorial de São Joaquim. Caso aconteçam dois incêndios simultâneos, a guarnição precisa escolher para socorrer àquele que oferece mais risco. Eles atendem ocorrências que estejam oferecendo perigo a residências, e propriedades rurais, porém, o perímetro urbano tem preferência. O sargento Maciel relembra que no dia em que aconteceu o incêndio no depósito de bins de maçã na empresa Serra Frutas, estavam de serviço apenas três bombeiros militares, sendo o terceiro combate no mesmo dia relacionado às queimadas. 

O capitão Marco Antonio Marafon Júnior, comandante da Polícia Militar Ambiental (PMA), explica que quem fica na ponta desse tipo de ocorrência são os bombeiros. Entretanto, a PMA realiza as fiscalizações nos pontos de queimada. Além do monitoramento por terra, passarão a receber apoio do Águia para chegar às ocorrências. 

Ele acrescenta que nos períodos de agosto e setembro são mais comuns as ocorrências de queimada e a fiscalização é intensificada. Isto porque, grande parte das queimas em campos são feitas sem a devida autorização dos órgãos ambientais. Quem não apresenta o documento com a liberação para realizar esse tipo de tratamento de solo, responde judicialmente pelo ato, além de se tratar de uma infração punível com multa de R$ 1 mil por hectare ou fração e, tanto a PMA quanto o Instituto do Meio Ambiente (IMA) podem realizar a autuação.

É no IMA que são liberadas as queimadas. Para isso, como explica o coordenador Regional do IMA em Lages, Fernando Araldi Sommariva, é preciso realizar a solicitação através do cadastro, no Sistema de Informações Ambientais – SinFAT. Deve-se, também, apresentar o requerimento de queima controlada, informando a localização com as coordenadas geográficas, recolher a taxa, anexar cópia da matrícula do imóvel e Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, do profissional habilitado, entre outros estabelecidos pela Instrução Normativa nº 30, do IMA.

Esta Instrução Normativa, além de relacionar os documentos necessários para a Autorização para a Queima Controlada, também especifica e estabelece instruções ao solicitante de como deve proceder a prática, cuidados e precauções com a vegetação e vizinhança; quais as condições climáticas para a realização e o uso de recursos humanos treinados.

Queimadas são questão cultural na região 

O engenheiro florestal, doutor em manejo florestal, Thiago Floriani Stepka explica que o uso do fogo na agricultura vem desde a agricultura rudimentar. Ele serve como renovação de pastagem. Nesta época do ano, com a passagem do inverno, Thiago ressalta que a vegetação fica seca após as geadas e para estimular o crescimento, é realizada a queimada. 

Mesmo controversa, Thiago acrescenta que a queimada é efetiva para a melhora da qualidade do pasto. Entretanto, o profissional ressalta, que este procedimento não deve ser feito todo o ano, porque, assim, torna-se mais prejudicial do que favorável. Com a queimada realizada de forma descontrolada, é possível expor o solo à erosão, desprendimento de carbono – o que acaba causando poluição – e vai ocasionando a erosão mais acentuada do solo. 

Em Santa Catarina, a Serra Catarinense é o local onde mais são realizadas queimadas. Isto porque, na região, esta é uma técnica cultural. “Vem de um conhecimento empírico, passado de gerações. Claro que tem seus benefícios, como o controle de plantas daninhas e outras ervas. Mas se é feita todo ano, causa mais dano que benefícios”, ressalta Thiago. 

O que se deve fazer é sempre buscar o órgão ambiental e um profissional da área. Evitar realizar queimadas em meses secos, como é caso do mês de agosto, para que o fogo não se espalhe de forma descontrolada. 

Clima da Serra tem relação com o que ocorre na Amazônia

A engenheira ambiental, mestre em Ciências Sociais, Tamires Liza Deboni explica que todo o regime de chuvas da região vem da direção da região Amazônica. As queimadas no norte brasileiro podem afetar o clima em Santa Catarina: em vez da movimentação de ar, vem a fumaça. Somando-se com a já existente na nossa região, há o aumento das doenças respiratórias e as consequências para a biodiversidade na região. “As consequências são para o País como um todo. Já podemos sentir as consequências da fumaça vinda do norte, que estamos respirando. Mas ela ainda não está no nosso nível de visão”, acrescenta a professora. 

Ela também ressalta que a queimada é uma questão cultural na nossa região. Como as pessoas precisam realizar limpeza dos campos, criou-se essa cultural. Existem outras formas de ser realizada, com a utilização de máquinas, mas, segundo Tamires, são mais onerosas. 

Vista do espaço

As queimadas que atingem a Amazônia desde o fim de julho têm sido tão fortes que podem ser vistas do espaço, segundo fotos do satélite Aqua, divulgadas pela agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa, na quinta-feira (22).

De acordo com a agência, “o número dos incêndios pode ser um recorde” e a fumaça que aparece nas fotos é o resultado disso. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre janeiro e agosto deste ano, as queimadas aumentaram 83% em relação ao mesmo período do ano passado — o que representa o maior número registrado nos últimos sete anos, com 72.843 pontos de incêndios. 

Outros dados do sistema de alertas em tempo real divulgados também pelo Inpe, mostram um aumento de mais de 40% nos alertas de desmatamento entre agosto e julho.

 

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