Turismo
Projeto leva alunos a campo para conhecer produção em vinícolas da Serra e do Meio-Oeste
Alunos da Escola Estadual Padre Antônio Vieira, de Anita Garibaldi, na Serra Catarinense, estão descobrindo os sabores de uma experiência extracurricular bem diferente. Uma vez ao bimestre, uma turma de estudantes com idade entre 10 e 17 anos faz uma saída a campo que inclui a visita em uma das vinícolas da rede de empreendimentos que une a Serra e o Meio-Oeste na produção de vinhos finos de altitude.
O projeto é conduzido pelo professor de História, Gil Karlos Ferri, que encontra na iniciativa uma forma de mudar a percepção dos alunos sobre o lugar onde vivem e a forma de interagirem. “A Serra Catarinense tem despontado com muita qualidade na produção de vinhos, e o que se construiu em pouco mais de dez anos é de alto padrão”, avalia Ferri.
“Quero que eles aprendam a se reconhecer nesta realidade que atrai os olhares de todo o mundo e que, toda vez que ouvirem falar dos vinhos da Serra, sintam-se parte desta história”, explicou. Ferri revela que antes do projeto, muitos alunos acreditavam que o acesso a uma vinícola, por exemplo, era coisa exclusiva da alta classe social.
Depois de concluir a graduação na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), em Florianópolis, o professor Gil voltou para lecionar na região serrana, onde, segundo ele, conseguiu unir a paixão pela vitivinicultura e a profissão.
Ele denomina o projeto “Aprendizado de Saber”. Com a parceria dos proprietários das vinícolas, o professor organiza a excursão e leva as turmas para campo. A programação inclui a visita aos empreendimentos, uma conversa com os enólogos sobre tudo o que envolve a transformação da uva em vinho, além de atividades culturais. Sem degustar a bebida, o lanche é acompanhado de suco natural de uva.
O governador Eduardo Pinho Moreira reforça que o projeto contribui para o fortalecimento da produção de vinhos no Estado. “Em Anita Garibaldi, o professor Gil, de forma muito inteligente, envolveu os alunos de ensino médio para que conheçam a história da vitivinicultura em Santa Catarina, que já é uma atividade econômica muito importante e que deve crescer ainda mais”, afirmou.
Processo de produção
Depois de visitar uma vinícola que fica em Água Doce, a aluna Eduarda Amorim, 15, disse que “a prática transforma o conhecimento adquirido em sala de aula”. O que mais surpreendeu a estudante foi observar o processo de transformação do açúcar em álcool, por meio de leveduras.
O professor Gil reforça que cada visita revela mais do que o processo que está transformando a região numa referência em vinhos de qualidade. “Além dos meios pedagógico e científico, o aprendizado ocorre quando conseguimos ampliar a percepção das possibilidades de inserção social e econômica dos jovens na região”, explica Ferri.
Segundo o professor, o projeto até pode despertar o empreendedorismo dos estudantes para atuarem no setor, mas a missão principal é romper os paradigmas que envolvem os índices de desenvolvimento humano na região e a capacidade de transformá-los em um cenário positivo.
Projeto Carro-Chefe
O diretor da Escola Padre Antônio Vieira, Dhian Rafael Barbosa Ramos, destaca que o projeto é o único nessa modalidade, e que a adesão dos pais e alunos à ideia fortalece ainda mais o projeto. “A escola não dispõe de muitos recursos, cada aluno paga a passagem e a refeição. O apoio da família é fundamental e tem dado certo”, afirma o diretor.
Ele acrescenta que o projeto é referência na escola e que os alunos gostam de participar. “É muito importante que eles aprendam e, quem sabe, no futuro, até transformem essa experiência em uma vocação”, complementa.
Apoio dos empresários
Nesta terça-feira (24), os alunos saíram para mais uma visita a campo. Desta vez, conheceram a Fazenda Bom Retiro, onde fica a Vinícola Thera. Linda Cristina Depiné de Freitas, diretora de eventos, explica que o projeto foi constituído em setembro de 2013, no pilar conceitual: vinho, arte e natureza. O vinho é o pilar central, com as primeiras garrafas colocadas no mercado em novembro de 2016.
O projeto independente é direcionado prioritariamente aos vinhos branco e rosé, com projeção para vinhos tintos como complemento. Atualmente, há em torno de oito hectares em produção e mais seis hectares reimplantados, tendo como plano chegar a 18 e 20 hectares em dez anos. A meta é alcançar a produção anual de 100 mil garrafas, a longo prazo.
Hoje estão disponíveis cinco rótulos: Sauvignon Blanc, Chardonnay, Rosé, um tinto de nome Madai, composto por Merlot, Cabernet Franc, Syhaz e Malbec e um espumante chamado Auguri.
A visita dos alunos do professor Gil é comemorada com a expectativa de consolidar cada vez mais a região na produção de vinhos finos de referência. “Para a Vinícola Thera é um grande prazer contribuir com este relevante projeto com os alunos, no sentido de preparar futuros profissionais, seja na área técnica de vitivinicultura ou na parte da historia, ou ainda na troca de conhecimentos essenciais para o fomento do Turismo, atividade abrangente, que é veículo de cultura e prosperidade”, garante a diretora de eventos da vinícola.
Em Santa Catarina
De acordo com a Epagri, os vinhedos de Santa Catarina ficam localizados nos pontos mais altos do Estado, entre 900 a 1,4 mil metros, acima do nível do mar. O primeiro empreendimento ligado à fabricação de vinhos finos se instalou em São Joaquim, na década de 1990. No ano seguinte, outros projetos foram iniciados e se sucederam, até a criação da Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude (Acavitis), em 2005.
Hoje, a atividade representa mais de 300 hectares em produção no Estado, nas regiões de São Joaquim, Caçador e Campos Novos. A produção média anual permite a elaboração de uma carta de vinhos com aproximadamente 120 rótulos, sendo que a maioria já participou de concursos nacionais e internacionais, conquistando premiações.
Por Governo do Estado