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Noriega vê acordo Washington-Paris na pena máxima requerida contra ele
Paris, 30/06/2010, (EFE)
O julgamento contra Manuel Antonio Noriega em Paris ficou nesta quarta-feira pendente para sentença com o pedido da promotoria de aplicar a pena máxima de dez anos por lavar dinheiro do narcotráfico ao ditador, e a denúncia de um suposto acordo político franco-americano contra o ex-ditador panamenho.
"Há algo podre em todo este assunto", exclamou indignado o advogado Yves Leberquier na última audiência do processo perante o Tribunal Correcional de Paris contra seu cliente, após reprovar o promotor Michel Maes que com seu pedido "volta a atuar em benefício dos Estados Unidos".
Maes solicitou a mesma pena de prisão imposta a Noriega no julgamento realizado à revelia em Paris em 1999 pelas mesmas acusações, e que agora se repete à pedido do acusado após ser extraditado no dia 27 de abril pelos Estados Unidos, onde passou 20 anos na prisão.
O representante do Ministério público solicitou, além disso, uma multa de 2,3 milhões de euros, equivalentes ao dinheiro que o ex-governante supostamente lavou.
Noriega "construiu uma verdadeira engenharia do mal" na qual "seu papel era bastante simples: apresentar sua proteção em troca de dinheiro" para que a droga do Cartel de Medellín transitasse pelo Panamá em seu caminho da Colômbia até o mercado americano, ressaltou o promotor.
"Um tráfico de grande amplitude que se prolongou no tempo" com um caráter "estruturado" e no qual as "funções de chefe do Estado" de Noriega "lhe permitiram utilizar os meios do Estado (…) para seu interesse pessoal", acrescentou.
O advogado Leberquier pediu aos magistrados que não atendam o pedido do promotor e levem em conta "o contexto político" da América Central dos anos 80.
Olivier Metzner, outro dos advogados da defesa, questionou se os dez anos de pena máxima solicitada não correspondem na realidade a "outras razões que as judiciais", aludindo novamente aos supostos pactos entre Estados Unidos e França para manter Noriega afastado do Panamá e "fazê-lo calar".
Se trataria, segundo a versão de Metzner, de evitar revelações comprometedoras para Washington sobre o papel que o ex-ditador desempenhou em diversas crises internacionais quando, segundo sua versão, chegou a fazer trabalhos de intermediário.
A defesa do general de 76 anos assegurou que Washingto pediu a seu cliente que interviesse na Nicarágua contra os sandinistas e que, ao se negar, os EUA advertiram que "pagaria caro".
Foi a partir desse momento que a Administração americana começou a acusá-lo de narcotráfico, sustentou.
Tanto Metzner como Leberquier, que pediram a absolvição de Noriega, arremeteram contra a promotoria por não ter "estabelecido o vínculo entre a infração inicial (o narcotráfico) e a lavagem".
"Correspondia à acusação demonstrar as acusações e não o contrário", assinalou Leberquier em referência a que não há nenhum documento nem elementos na condenação de Noriega em 1992 nos EUA (a 40 anos de prisão por narcotráfico) que provem que o dinheiro transferido do Panamá para as contas bancárias da França procedesse do tráfico de drogas.
Leberquier lembrou que Noriega recebeu remunerações da CIA que "lhe pagou milhões e dezenas de milhões de dólares"; que tinha diferentes negócios cuja existência a justiça francesa não se incomodou em verificar e que, além disso, já foi acusado nos Estados Unidos, no Reino Unido e inclusive no Panamá pelo desvio de dezenas de milhões de dólares em seu benefício.
Com isso, defendem que não existem provas de que Noriega tinha incorrido na lavagem de dinheiro da droga, ainda que tivesse trabalhado para interesses obscuros do estrangeiro e tivesse se apropriado de dinheiro público do Panamá.
O tribunal deixou o julgamento para sentença pendente, que se tornará público no próximo dia 7 de julho.
Foto: (EFE)