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Mandatos de deputados são restituídos em SC

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Manoel Dias é o único dos políticos cassados nos anos de 1960 que está vivo - Fotos: Fábio Queiroz/Agência AL/Divulgação

A sessão de restituição dos mandatos dos políticos cassados entre os anos de 1964 e 1969 aconteceu na noite de terça-feira (13), no plenário da Assembleia Legislativa. Familiares do vice-governador Francisco Dall’igna, e dos deputados Addo Vânio de Aquino Faraco, Evilásio Nery Caon, Fernando Brügmnn Viegas de Amorin, Genir Destri, Paulo Stuart Wrigth e Waldermar Sales, além do ex-deputado Manoel Dias participaram da solenidade. 

A sessão foi presidida pelo deputado proponente Rodrigo Minotto (PDT). Um documentário foi exibido para retratar a história dos políticos cassados. Paulo Stuart Wrigth foi morto pela Ditadura e seu corpo continua desaparecido. 

Entre os políticos que tiveram o mandato cassado está o lageano, Evilásio Caon. O filho Leoberto Caon, um dos quatro filhos do ex-deputado, estava com 14 anos quando o pai perdeu o mandato de forma arbitrária. Ele foi cassado em 1969 quando  era deputado estadual e líder do MDB na Assembléia.  “Meu pai era ligado ao trabalhismo do PTB, amigo de Jango e Brizola. Nunca teve medo de ser cassado, pois dizia que tudo era possível em uma Ditadura”, conta. 

Evilásio foi processado por subversão na Auditoria Militar de Curitiba, mas acabou absolvido. “O processo nos traumatizou muito, devido às acusações cretinas e às perseguições constantes, como um carro militar vigiando nossa casa das 18h até 7h”, recorda.

Leoberto relata que depois do ocorrido o pai não quis mais se envolver com política, focou sua vida na advocacia. “Ele não desejou mais retornar à política e ficou advogando até morrer, em 1997. Eu tinha noção clara da Ditadura, lia muito e o pai falava dos abusos e receio de prisão ou desaparecimento.”

As consequências da cassação foram sentidas pela família.  Leoberto conta que quase todos os amigos sumiram e que eram hostilizados no colégio e em outros espaços sociais. Além dele, outros familiares receberam a restituição simbólica pelos sete políticos já falecidos.

Entrevista com a deputada estadual Ada de Luca, filha do deputado estadual Addo Vânio de Aquino Faraco, cassado em 1964. Pela sua família, quem recebeu a restituição simbólica foi o irmão, Vânio Faraco. 

Correio Lageano: Passaram-se mais de 50 anos da cassação de seu pai, e essa é uma ferida para diversas famílias. Entretanto, ainda há quem defenda os 21 anos de Ditadura Civil Militar. Por que a senhora acha que as pessoas ainda  cultivam essas opiniões?

Ada de Luca: Porque a maioria dessas pessoas não sentiu na carne o que aconteceu. As cicatrizes da ditadura são marcas violentas na história de nosso país. Meu pai é só um exemplo dos que foram torturados pelo regime. A redemocratização foi um processo de luta, que não pode ser esquecido nem ignorado pelas atuais gerações. Há quem defenda o autoritarismo, pessoas que preferem isso à democracia instaurada atualmente. A Ditadura foi sustentada por ameaças, prisões e mortes, então, é difícil entender os argumentos para cultivar esses pensamentos.

Faz tempo que alguns deputados procuram restituir o mandato dos deputados cassados e do vice-governador. Por que demorou tanto tempo?

A Assembleia Legislativa de Santa Catarina foi a última  a autorizar. Sempre tentamos, mas foi negado. Agora, o presidente Júlio Garcia autorizou. O importante neste momento é o sentimento de justiça. Tardou, mas chegou. É uma homenagem e reconhecimento que eu e minha família esperávamos que acontecesse. Não corrige, mas dignifica a memória de meu pai.

Que idade a senhora tinha quando seu pai foi preso?

Meu pai foi preso em primeiro de março de 1964, eu tinha 14 anos. Ficou preso por 8 meses, sendo que por quatro meses incomunicável e minha mãe recebia meia pensão como se fosse viúva, estabelecida pelo Governo Militar de Castelo Branco. Eu era órfã de pai vivo. Um período muito triste que nossa família passou.

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