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Idosos querem continuar ativos no mercado de trabalho

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O estoquista já encaminhou a papelada para se aposentar mas não vai deixar seu atual trabalho - Fotos: Bega Godóy

Sabe aquela cena do idoso planejando a aposentadoria que hora ou outra vemos em comerciais, em imagens que ilustram agências de viagens, roteiros de filmes e os mais variados cenários? Pois é. Ela está ficando cada vez mais distante da realidade brasileira.

E é por um bom motivo. As pessoas estão adiando a aposentadoria. Isso porque o avanço da medicina e o estilo de vida mais saudável estão contribuindo para essa nova condição. Assim, aquele senhor ou a senhora que há décadas passadas preparavam-se para ficar no sofá aos 60 anos, hoje, estão a todo vapor.

Os lageanos, Dalila Santos Paes, de 76 anos, e Jair José Pereira, de 56 anos, se enquadram nesse novo perfil. Ambos querem manter-se ocupados e úteis, e consideram, ainda, a questão financeira, pois, como se sabe, apesar da contribuição de uma vida inteira, o retorno é quase sempre baixo aos trabalhadores comuns.

Mas não só eles vislumbram uma vida longa e ativa. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos, os idosos somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro do registrado em 1991. E a projeção é que serão 30% da população em 2050 (em 2010 eram 10%).

Os empresários já estão repensando a postura diante desse consumidor potencial, já que a maioria das empresas no Brasil ainda resiste em contratar pessoas com mais de 50 anos. Realidade que terá de mudar porque a tendência é de aumento gradativo da população idosa e de faltarem jovens no mercado de trabalho.

Essa é a justificativa do presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio SP), José Pastore, durante encontro que discutiu a atual e a futura situação do idoso no mercado.

Segundo o economista, por enquanto, a sociedade não se deu conta da desproporção entre o envelhecimento dos profissionais e a oferta da mão de obra juvenil. Porém, à medida em que a economia for retomando o crescimento, isso será mais facilmente constatado, já que “haverá dificuldade em preencher vagas”.

Pastore manifestou preocupação com o fato de os parlamentares federais estarem postergando a reforma da Previdência. “As pessoas estão envelhecendo muito depressa no Brasil e daqui a alguns anos, vamos ter mais idosos do que jovens, e a Previdência não vai ter condições de sustentar as pessoas idosas, que vão durar mais tempo. Isso é inexorável, e temos de acompanhar o que já ocorre em sociedades avançadas: fazendo com que o idoso trabalhe por mais tempo.”

Ele alertou, no entanto, que, para se manterem ativos no mercado, os mais velhos terão que se requalificar, principalmente, no que se refere à tecnologia. Pastore lembrou, inclusive, que muitos fornecedores de ferramentas digitais vêm simplificando os aplicativos, o que ajuda nessa inserção.

Cursos de qualificação

Em Lages, não há um programa específicos direcionado para a colocação do idoso no mercado de trabalho. Mas há o Qualifica Mais que é vinculado à Secretaria de Desenvolvimento do Econômico que disponibiliza cursos gratuitos para quem está desempregado, e tem idade acima de 18 anos. Segundo o coordenador, Marcelo Lima, neste ano, 1.070 pessoas fizeram cursos nas áreas da beleza, administrativa e operacional e desses 15% eram idosos.

No Banco do Emprego, a informação é que dos cerca de 80 cadastros diários, entre 2 % a 3% são de idosos. Outra abertura para esse público, são as lojas de departamentos, supermercados que acolhem esse trabalhador.  

Apesar da absorção do idoso nas empresas o economista da Fecomercio/SP, José Pastore, afirma que é muito baixa a participação dos idosos no mercado de trabalho, em torno de 25%, enquanto o desemprego nessa faixa é de apenas 4%. Ele reconhece, porém, que muitos nem vão atrás de trabalho por temer o preconceito das empresas. “Precisamos atuar em duas frentes: abrir espaço para eles nas empresas e encorajá-los a trabalhar.”

Na opinião do presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, Nilton Molina, toda a sociedade deveria ser conscientizada sobre o desafio da longevidade. “As empresas que hoje dificultam a admissão de uma pessoa da terceira idade vão ter que pedir perdão, porque daqui a 15 ou 20 anos teremos muito poucos jovens para trabalhar.”

Números

Em 2015, havia 16,1% de pessoas com mais de 60 anos inseridas no mercado de trabalho, percentual que deve subir para 58,4% em 2060, ou seja, dentro de quatro décadas, mais da metade da população será idosa. Dados IBGE

Quase três décadas como zeladora

A zeladora, dona Dalila Paes trabalha há 29 anos num edifício do Centro de Lages, seu segundo emprego com carteira assinada. Por essa razão, já virou referência quando o assunto é informação. Há sempre alguém procurando um endereço. E ela ali, bem próximo da calçada pronta pra ajudar é a opção de centenas. Aos 76 anos, e aposentada há 15 mas ela não arreda o pé da função que tanto ama. “Fiz muitas amizades. Conheço todo mundo. Vi muita gente aqui crescer, casar e ter filhos”, conta ela.

Quando dona Dalila começou a trabalhar no prédio, eram apenas dois andares. Hoje são sete e 56 salas. “Recolho os jornais, correspondências e encomendas”, explica.

Casada há 59 anos, começou a trabalhar fora depois de casada e com filhos, coisa pouco comum na sua época; enfrentou o marido e assumiu parte da despesas. “O filho mais velho cuidava dos mais novos. Eu adiantava a comida e lavava as roupas à noite. Cansei de deitar na madrugada”, afirma ela que mora no Bairro Santa Helena, onde criou oito filhos, tem 15 netos e o sexto bisneto está a caminho. E não tão diferença de quase de mulheres que gostam de renovar a mobília e eletrodomésticos da cozinha. “Comprei geladeira, TV e quando posso, estou repondo”, comenta ela que conta com o apoio do marido, que é mecânico aposentado.

Zeladora quer ainda muita saúde para continuar na ativa

Prestes a se aposentar

Misturar a energia e a agilidade de funcionários jovens à experiência em atendimentos diferenciados dos mais velhos é uma tendência. Na empresa onde seu Jair José Pereira, de 56 anos, trabalha, o ambiente é assim. E por um motivo muito simples: as pessoas estão envelhecendo mais tarde.

O estoquista exerce a função há 30 anos e já encaminhou a documentação para o INSS a fim de se aposentar. Mas garante que não vai parar. “Comecei a trabalhar cedo. Passei por umas cinco empresas de diferentes setores, mesmo assim não vou ficar em casa depois da aposentadoria. Não consigo me imaginar num sofá vendo televisão”, diz o homem ao assegurar que irá trabalhar até que tenha saúde. “Sempre é bom ter uma renda a mais”, resume o morador do Bairro Copacabana e pai de duas filhas adultas.

Idosos ativos

O IBGE calculou, em 2007, que quase 20% dos idosos aposentados ainda trabalham. Os principais motivos, de acordo com a pesquisa publicada pela Revista Brasileira de Ciências da Saúde são: necessidade de remuneração extra ou vontade de permanecer ativo.

A estimativa é que em 2020 pelo menos 13% da população economicamente ativa seja compostas pela terceira idade. A maior concentração dos idosos no mercado de trabalho está no setor de serviços, representando cerca de 53% dos empregos. O comércio tem a segunda maior ocupação, com 22,3%, seguido pela indústria com 11,9%.

Em relação ao vínculo empregatício, a maior parte dos idosos no mercado de trabalho são autônomos e representam 43,9% dos demais vínculos empregatícios.

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