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GreNal: uma paixão centenária

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Foto: Agnes Samantha

É uma narrativa acelerada, assim como os batimentos do coração, que faz com que centenas ou milhares de pessoas, parem por um instante, com as mãos sobre a cabeça, boca, coração, até que escutem o sonar de um belo “gol”!

Paixão, esta é a palavra que define o sentimento de um torcedor. Eles vibram, sorriem e chora, gritam e se desesperam, sem nunca deixar de torcer.  São vitórias e também derrotas, que unidas formas a história de um time e também de seus torcedores.

Para alguns o amor transcende qualquer barreira. A distância é a menor delas, de carro, ônibus ou avião, alguns desses apaixonados, não perdem a oportunidade de estar presente quando seu time entra em campo. O orgulho de mostrar qual é o time do coração está estampado em camisas, bonés, acessórios e o melhor deles, nas memórias.

Mais de cem anos unem as histórias dos times gaúchos, Grêmio e Internacional. O primeiro fundado em 1903 e o segundo em 1909, tem em seu histórico títulos, confrontos e rivalidade. Em Lages, os dois times têm um número expressivo de torcedores, que sempre que possível acompanham os jogos em Porto Alegre ou em qualquer outra cidade do país e até mesmo fora dele.

O Grenal, nome do confronto dado aos dois times, é um dos jogos clássicos, que tem em sua essência a oscilação dos resultados.  Dentro de campo, a rivalidade é explosiva, mas fora dele, o que impera é o amor pelo futebol e principalmente, o respeito.

Grêmio

Hemerson Costa, 26 anos, é gremista desde criança. A influência pelo time, veio do padrinho, já que o pai era palmeirense. Seu sonho era ser jogador de futebol, o pai o incentivava, levava para a escolinha, iam assistir a todos os jogos em Lages aos domingos e não perdiam um jogo transmitido pela TV.

Até que um dia o pai prometeu que o levaria a um Grenal, seria sua primeira experiência em Porto Alegre. A frustação ocorreu quando eles não conseguiram adquirir ingressos e não puderam ver o jogo. Mas esse foi o start para que o garoto iniciasse a trajetória com o time. Procurando ajudar as pessoas que também tinham o sonho de ver uma partida, mas não tinham informação, foi convidado a participar do consulado lageano. Iniciou como Cônsule adjunto e hoje é o Cônsul, além de ser diretor regional na Serra.

É difícil encontrar um jogo que ele não tenha ido assistir em estádios nos últimos anos, atualmente trabalhando como autônomo, consegue adaptar seu horário de trabalho conforme os jogos. “Para mim o Grêmio proporcional experiências de conhecer pessoas e lugares” comenta ele, que entre as bagagens tem uma viagem ao Equador em 2017, semifinal da Libertadores, em que o time foi campeão.

“Fui junto com a direção do Grêmio, viajei ao lado do Luan e do Everton, foi inesquecível, gastei, mas não há dinheiro que pague”. Depois desse episódio, houve uma situação triste. Alguns dias depois, ele e dois amigos foram de carro para Florianópolis, em um jogo contra o Avaí.

Após a partida, alguns torcedores do time adversário atacaram os três na saída do estádio, Hemerson ficou hospitalizado por uma semana, retornou para casa e teve que lidar com algumas sequelas. Mas neste fato o fez temer ir aos jogos ou apagar a paixão pelo time, que está “marcado” em sua pele.

Hoje, realiza excursões de Lages a Porto Alegre, em basicamente todos os jogos. “Iremos com quatro ônibus para o Grenal deste fim de semana” diz. Sempre atuante nas organizações e vibração da torcida, Ediberto Steinck Júnior, 24 anos é o braço direito de Hemerson nas organizações de viagens. O jovem também é torcedor desde a infância, herdou o amor pelo time do avô paterno.

Foi a um jogo pela primeira vez em 2009, quando ele tinha 14 anos, em uma excursão. No início as viagens eram com parentes e amigos, com o tempo, outras pessoas começaram a procurar pelas excursões. Em 2012 foram quase 10 jogos, Ediberto se tornou sócio, a partir dali o número de viagens só aumentou. Em 2016, ele esteve em 3 jogos em apenas 7 dias.

“Nós queríamos um Grêmio mais forte, mostrar que o futebol não é só de vitórias ou de títulos”. Ele também optou por tornar-se autônomo, podendo fazer seu horário e conciliar com os jogos.
Uma das loucuras feita por ele, foi viajar escondido da família para ver um jogo durante a semana, e acabar aparecendo em uma transmissão da televisão.

“Tenho orgulho em dizer que sou da geral do Grêmio, somos um movimento, uma família” comenta ele, sempre com os olhos, brilhando quando fala sobre o time. Não é por menos, já que também, foi em uma dessas viagens que ele encontrou sua noiva. “Foi em 2016 e eu digo que ela é um pé de coelho, sempre nos trazendo sorte”.

Perfil

Emelyn Cristina do Amaral, 24 anos, se dizia gremista desde pequena. O pai, torcedor fanático pelo time, um dia chamou a filha para assistir ao DVD, A Batalha dos Aflitos. Foi ali, que depois de algumas lágrimas, ela se interessou pelo esporte.

Na escola, adorava fazer brincadeiras em que era questionada sobre informações de futebol. Amava programas esportivos e resultado de jogos. Em 2014, ela e o pai embarcaram em uma aventura. A bordo de um ônibus de linha, foram para um jogo em Porto Alegre. Primeiro visitaram o Olímpico, e depois retornaram a pé para a Arena.

“Quem conhece lá, sabe que é longe” conta ela rindo. Um tempo depois, através de um contato em comum ela conheceu a excursão dos meninos do consulado. Foi assim, que além de ir aos jogos do time do coração, ela se apaixonou. “Eu sempre via as postagens dele (Ediberto) no Facebook, foi com uma mensagem para saber sobre uma excursão que nos aproximamos e nunca nos separamos” conta ela.

Sendo gremista fervorosa e agora noiva de um gremista fervoroso, já escutou piadinhas desagradáveis por ser mulher e gostar de futebol. “Então me fala a escalação” questionam ou “Você virou gremista por causa dele”. “Eu ficava com muita raiva, mas hoje em dia eu só concordo” diz.

A garota que sabe todos os resultados, títulos, histórico do time, faz parte dos milhares de mulheres apaixonadas por futebol.

Emelyn e o filho Heitor

Inter

Foi em 1974 que Luis Carlos Machado, 54 anos começou a torcer para o Internacional. Filho de um gremista, gostava de assistir aos jogos e fazer brincadeiras com o pai. Seguido por ele seu irmão mais novo Marcos Aurelio Machado (em memória), também torceu para o Inter, assim como posteriormente, sua esposa, filhos e neto.

O primeiro jogo em que esteve presente foi através de uma excursão realizada em Lages, o adversário era o Flamengo. Atualmente, aposentado, sua agenda é em cima dos jogos. Ele e a esposa, tem um estacionamento de carros no centro de Lages e quando há jogos durante a semana revessam. “Mas ela fica brava quando eu vou e ela não pode ir” conta.

No centenário do time, ele entrou para o consulado, que até então, era um núcleo. E em 2018 tornou-se Cônsul. A diretoria do consulado conta com 10 integrantes, que se reúnem semanalmente para uma reunião e confraternização.

Além de não perder uma transmissão dos jogos, neste ano o objetivo é realizar mais de uma viagem por mês. “Eu fico nervoso vendo o jogo, mas fico ainda mais nervoso quando sei que está passando e não posso assistir”.

Na sala de sua casa, um quadro, com uma camisa assinada por um ídolo e amigo, Valdomiro Vaz Franco, ex-jogador do Inter. Além do sofá, de cor vermelha, em seus móveis e em cada detalhe, pode-se encontrar um pouco do time.

Mas quando se fala em adversários, Luis é enfático, “a rivalidade está dentro do campo, aqui, todos nós nos respeitamos”, diz ele que convidou Hemerson para a confraternização colorada e esteve presente na festa gremista.

É difícil de explicar a paixão de Carlos Alexandre Camargo, 36 anos, pelo Internacional. Filho, irmão e pai de colorados, a família toda compartilha do mesmo sentimento pelo time gaúcho.
2004 foi o ano em que ele esteve pela primeira vez no Beira Rio, em um Grenal, onde a emoção tomava conta do estádio lotado. Mas foi o ano de 2006, que ficou marcado em sua vida.

O dia 16 de agosto, era a data da final da 47ª edição da Copa Libertadores da América, disputada entre Internacional e São Paulo. A emoção pela vitória foi tanta, que outro acontecimento importante daquele dia passou despercebido. “Quando estávamos comemorando o título, que meu irmão falou: Você sabe que dia é hoje? E respondi: é dia de ser campeão da américa, e ele disse: é teu aniversário”, conta ele rindo “foi o meu presente”.

Em 2015, foi a primeira vez que ele levou o filho, Gustavo Camargo, atualmente com 16 anos, ao estádio. Mesmo conhecendo o local, a emoção de ver o estádio reformado e a felicidade estampada no rosto do filho, marejou os olhos do colorado.

Mesmo morando a mais de 300 quilômetros de Porto Alegre, sempre que possível, Carlos vai assistir os jogos no estádio, muitas vezes com as excursões realizadas pelo consulado lageano. A carteirinha de sócio está sempre em dia, para que ele e a família estejam nos jogos.

Perfil

Antes mesmo de nascer, Letícia Alves Raitz, hoje com 20 anos, já era colorada. Ainda bebê o pai, Marcos Aurélio Raitz, a vestia com roupas do Inter, sempre fanático pelo time a incentivava a torcer. Tendo uma família colorada roxa, desde nova, aprendeu a assistir ao jogos e “secar” o adversário.

Com 11 anos ela foi pela primeira vez ao Beira Rio, assistir Inter e São Paulo, trazendo para casa uma vitória de 2 a 0. Depois disso, foi ao estádio mais três vezes. Para sua felicidade seu namorado também é colorado e eles assistem aos jogos juntos.

Sempre teve essa paixão pelo time, aos 12 anos a jovem resolveu fazer um aniversário temático, foi a decoração, bolo e até o vestido com o tema do Inter. Letícia diz que não sofreu muito, com o fato de ser mulher e gostar de futebol. “O que acontecia era a zoação, a rivalidade do granal, quando o Grêmio ganhava alguns meninos da minha sala zoavam, dizendo que eu não sabia torcer”.

Pelo fato de o estádio ser distância de Lages, onde mora, ela não consegue ir sempre. Mas está sempre na torcida, “a cada jogo é uma nova emoção, o coração vai a mil, principalmente em dias de grenal”. Os times se enfrentam neste domingo (17), as 19h, na Arena do Grêmio.

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