Enxurradas deixam estragos, mas há problemas recorrentes

As pancadas de chuva diárias que atingem Lages ininterruptamente há pelo menos uma semana, têm deixado estragos por toda a cidade. Além das grandes ocorrências noticiadas por veículos de comunicação, há outros casos que não ganham tanta notoriedade, mas são recorrentes durante todo o ano e se agravam no período de chuvas.

Marcos Roberto Andrade, 49 anos, mora na esquina das ruas João Maria Faustino dos Santos e Sebastião da Luz dos Santos, no Bairro São Pedro. Ele conta que os alagamentos em frente à sua residência são comuns há cerca de dois anos e meio.

Segundo ele, isso acontece porque, dos três bueiros existentes ao redor da casa, dois estão completamente entupidos por pedras e terra, e um está acima do nível da rua e, por isso, não escoam a água.

“Os dois bueiros da frente entupiram porque, quando a prefeitura passa com a máquina na rua, joga terra para cima da calçada e cai tudo no bueiro. Por causa dessas máquinas, o bueiro ao lado de casa está mais alto que o nível da rua e a água que deveria escoar por ele, escorre pelo canto da rua e leva mais pedras e terra pra frente da minha casa”, conta, mostrando a terra e as pedras acumuladas em frente à calçada.

Outro grave e constante problema está na Rua Cláudio Manoel da Costa, no Bairro Várzea. De acordo com os moradores, a chuva não precisa ser intensa para que a água se acumule e cause alagamentos no local.

Eles contam que os alagamentos se tornaram constantes há cerca de quatro anos, depois que uma madeireira do bairro “aterrou uma parte de seu pátio e acabou enterrando uma tubulação”.

Rudimar Jung Frol, 35 anos, comprou um imóvel nesta rua há um ano e já enfrentou quatro alagamentos (o último foi no sábado passado). “Nas três primeiras vezes, perdemos tudo o que tínhamos dentro de casa, até nosso carro. É um problema grave que precisa de atenção. Sentimos como se esta parte da cidade estivesse esquecida. A chuva nem precisa ser forte pra alagar tudo. Agora, imagina como ficamos quando chove muito”, diz.

Luis Carlos dos Anjos, 33 anos, mora de aluguel em uma casa próxima a de Rudimar. Ele foi o morador mais prejudicado com o temporal do último sábado (15). A água da chuva desceu pela rua de trás da casa e se acumulou no pátio do vizinho. Com a pressão, o muro entre as duas residências se rompeu e a água invadiu a casa de Luis em poucos minutos, atingindo cerca de um metro e meio de altura.

“Foi tudo muito rápido, não deu tempo de tirar nada de casa, nem os eletrodomésticos. Como o muro caiu na frente da garagem, não consegui tirar meu carro, que ficou em baixo d’água e está todo estragado. É muito triste porque não pagamos nem a primeira prestação”, lamenta.

Luis, a esposa e os dois filhos perderam tudo e estão dormindo na sala da própria casa, em colchões doados por vizinhos. “Mas depois dessa enxurrada forte, o medo é constante. Na terça, quando começou a chover, meu filho mais novo correu pro quarto pra se esconder, por medo que alagasse tudo de novo.”

Secretário diz que medidas paliativas são constantes

De acordo com o secretário de Planejamento e Obras, Clayton Bortoluzzi, durante todo o ano são feitas drenagens das redes e desentupimento de bocas-de-lobo da cidade, bem como limpeza de córregos e valas, na tentativa de minimizar a ocorrência de alagamentos e enchentes. Com a intensidade das pancadas de chuva da última semana, os serviços estão voltados para o atendimento de casos mais urgentes.

Bortoluzzi ressalta que as equipes da pasta estão trabalhando intensamente nestes casos e resolvendo o que é passível de resolução no ato, ou oferecendo medidas paliativas nos casos mais graves.

O secretário explica que, além das medidas emergenciais, a Secretaria de Planejamento e Obras, em parceria com a Defesa Civil, está elaborando um Plano de Macro e Micro Drenagem, que vai apontar as reais condições do sistema de drenagem de água da cidade.

O objetivo é que, dentro de dois anos, este plano esteja finalizado. O documento será um diagnóstico do sistema de drenagem e, a partir dele, será possível definir ações e metas para minimizar alagamentos e enchentes.

Casos recorrentes

Sobre a situação dos moradores da Rua Cláudio Manoel da Costa, no Bairro Várzea, Bortoluzzi ressalta que o problema do local é agravado por causa de construções irregulares e só terá uma solução quando estes imóveis forem removidos.

“Estes são casos mais complexos que, por mais que a gente vá verificar, não tem nem por onde tirar a água, a não ser que tiremos as casas. E pra tirar as casas, tem que indenizar ou realocar os moradores.”

Sobre a situação da madeireira, Bortoluzzi explica que não é possível garantir que a obra de aterramento agrave os alagamentos, contudo, destaca que a empresa foi notificada há cerca de um ano, e que há um processo tramitando na Procuradoria-Geral do Município (Progem).

Sobre o caso apresentado no começo da matéria, envolvendo um morador da esquina entre as ruas João Maria Faustino dos Santos e Sebastião da Luz dos Santos, no Bairro São Pedro, Bortoluzzi destaca que, se o morador fez algum pedido de reparos junto à prefeitura, o serviço está no cronograma de ações. Porém, não informou uma data para que o serviço seja executado.