Geral

Entrevista com o vereador Luiz Marin (PP)

Published

em

Foto: Marcela Ramos

Colaborou: Suzane Faita

Correio Lageano_ Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre o fato de ter iniciado sua carreira política no MDB e, hoje, está na segunda legislatura pelo PP. 

Luiz Marin_ Você lembra muito bem da Revolução de 1964, em que havia somente dois partidos, Arena e MDB. De diversos partidos, cada um ia para um, e eu, levado pelo meu irmão de Anita [Garibaldi], Isidoro, fiquei no MDB e outros irmãos na Arena. Sempre acompanhei a política, porque ‘a gente’ gosta, mas correndo por fora. Porém, chegou um momento, na época do Dirceu Carneiro [ex-prefeito], que ele ligou e me convidou para trabalhar na Secretaria do Meio Ambiente e Serviços Públicos e acabei aceitando, trabalhei com o Dirceu depois com o doutor Celso [vice-prefeito que assumiu quando Dirceu concorreu a Deputado Federal]. O Dirceu queria que eu fosse candidato, mas o doutor Celso disse que precisava de mim na secretaria. Após a gente perder a eleição para o Paulo Duarte (PDS), fomos convidados pelo [ex-prefeito Fernando] Coruja. Eu tenho a sorte que sempre os prefeitos me convidaram, nunca foi por indicação. Posteriormente, o Renatinho [ex-prefeito Renato Nunes de Oliveira] me convidou para [Secretaria] Meio Ambiente e acabei aceitando. Com essas andanças acabei saindo candidato a vereador por três vezes e estou na terceira legislatura, que está quase no final. 

Agora, o senhor está no PP, mas iniciou no antigo PMDB…

Sim, trabalhei com o Renatinho [ex-prefeito] por quatro anos e meio no PMDB, na reta final ele me chamou: ‘Marin, precisamos de você para candidato a prefeito, a vice ou a vereador, precisamos de você agora, estamos te convidando’. Não tinha como dizer não, quatro anos e meio ali, nunca fui tão bem tratado por nenhuma outra gestão, como na administração do Renatinho. Nunca tive tanta liberdade e nunca fiz tanto para o povo lageano, porque era recomendação dele: ‘temos de dar atenção para quem precisa, quem não precisa não há necessidade’. E foi o que fiz, dava atenção para aqueles que precisavam do nosso trabalho, tanto é, que sou reconhecido até hoje, mas é porque dei atenção para todos e fiz o que pude. Acabei me elegendo pela terceira vez e estou até hoje no PP. 

E falando em partido e candidatura, nas últimas eleições o senhor foi, de certa forma, preterido, pois seria candidato a vice, talvez a prefeito, pelo PP, e acabou sendo substituído pelo Juliano Polese, vice-prefeito de Lages, e a deputado estadual da mesma forma. Como senhor vê essa situação?

Olha, essa questão é normal para mim, pela minha boa índole, sou uma pessoa do bem, não brigo com ninguém, nunca briguei por cargos, sempre fiquei quieto, tranquilo e sempre fui convidado, como já falei. Saí candidato na época, a convite do PP, mas achamos por bem, até atendendo a pedidos da comunidade lageana, Acil, CDL, e outros, que não deveriam sair dois candidatos a deputado federal, e eu, com toda a grandeza, abri mão para a Carmen [Zanotto, deputada federal], fui lá na CDL, li a minha carta de ‘saída da candidatura’. E estava com tudo pronto, até propagandas, mas em nome de Lages e da nossa cidade ter uma deputada, abri mão. Da mesma forma, quando foi para sair candidato a prefeito, daí foi para vice, na época do Renatinho, eles trabalharam ali e colocaram a Sirlei [Rodrigues, candidata a vice de Antonio Ceron, em 2012]. Mas nada me afetou, perderam a eleição. Desta feita, foi a mesma coisa, era para ser candidato, o Juliano [Polese] queria ser, simplesmente abri mão, não tem problema porque não vivo da política e não morro pela política, morro pelo povo. Ele foi candidato e eu caí fora. Então, seria candidato a deputado federal, estava certo, novamente, quando cheguei a Florianópolis, para minha surpresa, chegou o ‘seu’ Juliano Polese [para concorrer a] deputado federal. Me surpreendi e sabe o que fiz? Virei as costas, deixei a reunião, e fui para [Balneário] Camboriú, lógico, fui viver a minha vida. Até para esfriar a minha cabeça, porque essa sacanagem não se faz, esse é um recado que dou.

O senhor se sentiu traído?

Traído e meio, porque não se faz isso com companheiro, mas é que a vida vai nos ensinado, e tem um ditado popular que diz ‘a raposa tanto vai ao ninho até que um dia deixa o focinho’, pode ver que acontece com muitos, são acostumados a só fazer sacanagem, só passar rasteira nos outros, mas um dia encontram a porteira fechada. Eu sempre fui de boa paz, fui sempre do bem, não me preocupei, nem me abalei, por isso, estou forte e firme, sem intriga nenhuma. Sempre tem alguém que não gosta da gente, mas a maioria, onde eu vou, nos bairros, sou bem recebido. 

O prefeito Antonio Ceron já manifestou a possibilidade de ir a reeleição, que a princípio, não iria, se ele confirmar essa candidatura, o senhor acredita que o PP permanece na coligação com o PSD?    

É uma pergunta difícil de responder porque o prefeito Ceron sempre falava que ia uma vez [candidatura a prefeito] e não ia mais. Até dizia para ele, depois de sentar naquela cadeira, nunca vi a pessoa desistir, não fale que não vai à reeleição. É aquela vontade, muitas vezes, de terminar alguma coisa que ficou. E, depois, logicamente, todo mundo quer estar no poder, coisa que nunca me fascinou. Mas ele [o poder] é muito bom se você souber usar. Quando você está no poder é ótimo, acredito que vai à reeleição, logicamente, a reeleição para ele é um pouco mais fácil, porque já sai com percentual da Prefeitura, de votação. Agora, é muito perigoso, também, haja vista o que aconteceu nas últimas eleições, o povo queria mudança, coisa diferente e surpreendeu o Brasil inteiro, especialmente, aqui em Santa Catarina. O governador [de Santa Catarina, Carlos] Moisés, era um desconhecido. 

E isso refletiu nas outras eleições, de deputado e senador.

Eu ia chegar em outro exemplo, como é que o Raimundo Colombo não se elegeu? [ele concorreu ao Senado].

Ficou em quarto lugar… 

Isso é uma coisa que parece assim, que não é real, mas aconteceu. Ele foi governador por duas vezes, ganhando no primeiro turno, já foi senador, deputado e prefeito de Lages. Uma pessoa bem desenvolvida, fala bem, é dinâmica, de repente o povo disse, você não, chega, serão outros. Sempre há surpresas. De repente, sai uma candidatura que você menos espera, e se elege, porque quem determina é o povo. Porque aquela história de antigamente de compra de votos, de levar no cabresto, isso acabou, o povo está mais consciente, graças a Deus, sabendo o que quer e em quem confiar. 

Nessa conjuntura, vamos dizer que o prefeito Ceron seja candidato, qual seria o seu projeto político, o senhor gostaria de compor a chapa como vice-prefeito, ou vai à reeleição como vereador, ou desiste?

A gente nunca sabe se o PP, o PSD e outros partidos estarão coligados. E, agora, para vereador cada partido tem de correr com o time dele, e acabou, não tem mais coligação. Não vou falar agora, porque é cedo, não tenho pretensão nenhuma. Não posso dizer que não sou mais nada e vou embora, que é o que eu deveria fazer. Olha! Um abraço para vocês, já dei minha contribuição, mal ou bem, isso não importa, o povo é que tem de avaliar. Eu estou aposentado, larguei mão de tudo, porque decidi não trabalhar mais, e na política é bom porque a gente se envolve, visita as pessoas, faz favores e recebe favores também. Vou esperar chegar mais perto para ver qual é a minha posição. Se dependesse da família, estaria em casa, já teria entregue o cargo de vereador, porque eles entendem, e eu também, que a classe mais odiada é a classe política, pelas lambanças, pela falta de responsabilidade, pela ‘turma de ladrão’ que tem no meio político, que tem ‘fome de dinheiro’, ganância que não sacia. 

Dinheiro e poder…

Dinheiro e poder, tudo junto, e é o que não me fascina. Meu Deus do céu! A gente não precisa de muito para viver. E coisa mais linda do mundo é você ser correto e ter uma ficha limpa em todos os sentidos. Sabe o que ocorre hoje? Eu falo isso nas reuniões, você chega em uma casa, ou em outro local, e dizem, ‘mais um ladrão ali’. Essa é a verdade, e a gente tem de assumir e entender que essa é a insatisfação do povo, estão odiando os políticos. Mas nem todos são corruptos e sem-vergonha, mas uma parte, a grande maioria, é. Daí, acontece isso, você chega no poder e tem aquela sede que nada sacia. Isso é muito triste, para quem tem esse tipo de comportamento. 

Por mais que seja o povo quem decide quem vai ocupar os cargos, as decisões tomadas depois da eleição, são pelos políticos e nisso o povo não tem como interferir. Por mais que se façam mobilizações e protestos, quem decide são os políticos, a exemplo do Fundo Partidário, que deve ser aumentado em bilhões enquanto a classe trabalhadora está sendo penalizada com uma Reforma Tributária. A decisão do rumo do país está na mão da classe política e isso o povo não consegue interferir. 

É uma classe que, boa ou ruim, se faz necessária. A gente fala na Câmara de Vereadores, deputados, e o Executivo, porque custa caríssimo, mas tem o Judiciário, e os poderes que são independentes, mas, muitas vezes, quem manda mesmo é o Executivo. O [prefeito, governador, presidente] Executivo se elege e manda na Câmara de Vereadores porque tem os acertos, o governador interfere na Assembleia e lá em Brasília o presidente interfere também na Câmara de Deputados e no Senado. E quem paga esse preço é o povo. Vou ao encontro do que você falou, os municípios recebem 12%, para arredondar; o Estado 23%, e 65% ficam em Brasília, que o [presidente Jair] Bolsonaro quer inverter. Venho falando isso desde a época do Dirceu [ex-prefeito], o município é aquele que atende o povo na porta da casa, que o povo pode reclamar, as pessoas não vão para Florianópolis e muito menos a Brasília. O município deveria ser autossuficiente e receber um repasse bem maior para não precisar pedir esmola em Brasília e para o Governo do Estado. Sabe o que acontece? Essas emendas, tenho quase três milhões de emendas que ‘estão vindo’, algumas já vieram, que fui a Brasília pedir.  Essas emendas, lá em Brasília são moeda de troca. Só não vê quem não quer, ou para quem não interessa que diga que é assim. Isso é em todo o Brasil, que acho uma tristeza. E quem paga é o povo, são os altos impostos. Aquele que quase passa fome, que se for tomar um copinho de pinga, até para esquentar, tem um imposto embutido. Você paga 25% na energia elétrica e como vai viver o povo sem energia elétrica? E daí por diante. E o governador quer tirar uns benefícios que tinham uns itens da agricultura [a mudança na tributação dos agrotóxicos é para 2020]. É aquela ganância do caixa do Estado que avança no povo para cobrir o deficit. É que vai muito dinheiro para o governo, e é muito mal aplicado. Se cortassem as mordomias e essas licitações, que eu sou contra, é um absurdo, é uma forma de desviar dinheiro. Vou dar um exemplo, você faz uma UPA [Unidade de Terapia Intensiva], que o Governo Federal mandou [repassou verbas], 20% o município tem de pagar. Mas sabe qual é o problema da UPA? É o recheio, é o que precisa para funcionar, os equipamentos e os funcionários,  cai tudo para o município que é o que menos recebe. 

Precisa de responsabilidade e consciência da necessidade pública. 

E que a lei permitisse [não fazer licitação] comprar somente caminhão da tal marca e direto de fábrica, que é o mais barato que tem e isentar os impostos, porque é para o município e para o povo. Eu sou ‘faladorzinho’ [ri]. Você vai ver nessa Praça João Costa [está sendo revitalizada], ou no Mercado Público [está em obras], ou em qualquer outra, eles chamam de aditivo, não vi nenhuma obra sem ter aditivo. Já fazem lambança, cobram preço mais barato, e depois precisam de aditivo, por exemplo, de 20%, porque teve de ter umas propinas. E a lei permite o aditivo. São as coisas erradas que a classe política faz e que não respeitam o dinheiro do povo. Se entregasse para a iniciativa privada custaria 30% a menos, todas as obras. Mesma coisa o funcionalismo público, deve ter concurso, mas a hora que você não está cumprindo com o seu dever, tinha que ser igual na iniciativa privada, está fora. Mas faz o concurso e diz, ‘eu tenho estabilidade’, é outra coisa que não funciona bem, não são todos, mas uma parte.  

Vamos falar da sua legislatura atual, gostaria que o senhor levantasse alguns projetos que considera importante… 

Por causa da minha idade, a minha memória não é muito boa, quero só olhar alguns aqui. [Pede para o assessor que acompanha a entrevista entregar folhas com os projetos, coloca os óculos e começa a ler o material]. Fizemos duas emendas, uma emenda modificativa, 1.827 indicações, que não sei quantas foram atendidas, 11 projetos de decretos legislativos, 20 projetos de lei, três projetos de lei complementar, dois projetos de resolução, duas propostas de emenda à lei orgânica, três moções simples e 82 moções legislativas. Dentre esses trabalhos, temos uma porção de situações [recebe uma folha com anotações do assessor], mais 85 requerimentos e 61 pedidos de informações.  Além disso, temos feito muitos pedidos de emendas parlamentares, que já falei que sou contra. Mas por exemplo, se for para comprar Melhoral [Infantil], mas você precisa tomar uma Olina [indicado para má digestão] se não você vai morrer, você morre, porque não pode. Dei como exemplo, porque se tem dinheiro para a Rua Nereu Ramos e estamos precisando, porque deu um desmoronamento no bairro, não pode mudar o destino do dinheiro. E entendo que o município tem de saber onde há a necessidade, não vir de Brasília. Porque os coitados de Brasília nem conhecem Lages, é uma vergonha, aqueles burocratas não sabem nem o que é um pinheiro araucária, que deveria ter um manejo, e não tem até hoje, por causa dos burocratas. Devia ter um manejo, meu Deus, é uma riqueza que está aí e você não pode cortar um, só que estão cortando todos, porque quando está nesta altura [mostra a altura], cortam. O meu grande trabalho é atender o povo. A gente vai visitar os bairros, saber o que eles querem, para fazer os pedidos. Sabe qual é a maior coisa que você pode fazer para o povo? Você não tem ideia, vai rir de mim, mas é verdade e eu tenho testemunha, é você chegar e visitar, e abraçar até aquelas garis [profissionais da limpeza urbana], que limpam a nossa sujeira, elas adoram me abraçar. Chegar nas casas desses humildes, bom dia, boa tarde e dar um abraço, não precisa nem atender o pedido, mas se você deu atenção, conversou e sente a dor que estão sentindo, é o maior presente que você pode dar. Não precisa nem fazer, se fizer, melhor, você sabe disso. Como temos feito muita coisa pequena, é que não colocaram na cabeça [coloca as mão na cabeça], o povo só quer coisas pequenas, quer que limpe uma boca-de-lobo, que a rua não esteja só barro, o povo é muito humilde. O que eu mais faço é dar atenção, tomar um chimarrão e café, sabe onde eu atendo? Sabe quantas vezes eu vou na Câmara? poucas vezes, atendo lá em casa, convido para almoçar e para tomar café. 

Vereador, para a gente encerrar nossa conversa, falamos de candidaturas, o senhor já falou que ainda não tem nada definido, mas avaliando a sua  trajetória política como vereador, falou como enxerga a questão política na cidade. O senhor tem sonho e o desejo, de administrar nossa cidade?

Não para ser o prefeito, só ficar dois anos no comando para o povo nunca mais esquecer como atender o povo, como economizar, como fazer as coisas com rapidez. É lógico que falar é mais fácil, mas a hora que você pega uma equipe comprometida, e vou lembrar da equipe do Dirceu [Carneiro], na época que estive secretário. Na época tinha Capão Alto, Painel, Correia Pinto, Otacílio Costa, e tem mais um que me esqueci agora; municípios que foram desmembrados de Lages. Era um município monstro, a receita era pequena, só que tinha um time comprometido com as pessoas que, meus irmãos não gostavam muito, porque diziam que eram comunistas. O custo é baixo, mas o comprometimento é que tem de ser alto, e não desviar dinheiro e não deixar dinheiro ir pelo ralo, porque é bastante dinheiro que entra no município, no Estado e no Governo Federal. Dinheiro tem, o problema é fazer bom uso. Eu faria o seguinte, o povo que ia determinar, em cada bairro, dentro do que é possível fazer. O que precisam? Posto de Saúde, disso e daquilo, mas não posso fazer tudo, só que na hora que você acerta com o povo, não tem mais volta, o povo fica feliz. Sei que esse sonho não vou realizar, primeiro que já perdi a época e a idade, tenho uma saúde de ferro, mas vai cansando. Acho que encerrei minha carreira, não posso dizer, mas acho que vou viver uns 10 anos ainda. 

clique para comentar

Deixe uma resposta