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Empresas voltam os olhos para a inclusão e diversidade

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Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Composta em sua grande parte por homens heterossexuais e cisgêneros (que se identificam com sua identidade de gênero de nascimento), o clima organizacional de indústrias, independentemente do ramo, é de olhares tortos, piadas discriminatórias e falta de oportunidades de crescimento. Romper com ciclos semelhantes a esse é o que fez o gerente de marketing da Cargill, em São Paulo, William Ramos, de 29 anos.

Natural de Lages, Will – como é conhecido – lidera um time de funcionários composto por LGBTI e pessoas aliadas: o Pride Network. Vivências lgbtifóbicas próprias e de colegas foram o ápice para que trouxesse a iniciativa à multinacional no Brasil. Sendo já realizada em outros países, Will buscou a referência, conheceu outros times em filiais internacionais e, em 2016, deu o start no projeto.

Na Cargill, não chegou a sofrer violências físicas ou verbais, pois no seu ambiente aconteciam manifestações preconceituosas mais “sofisticadas”. A insegurança de falar da vida pessoal, levar o companheiro em encontros com colegas e o receio de perder oportunidades na carreira, entre outras formas. Contudo, esses fatores foram propulsores para o gerente começar essa rede de trabalho.

A Pride Network

Uma das principais ações é a de educação, segundo William. Dentro do time, existe o programa Aliados (Ally), no qual funcionários são convidados para um treinamento inicial e passam a receber materiais educativos e convites para os Pride Talks (painéis mediados) que ajudarão a entender a temática e a adotar comportamentos inclusivos em relação aos seus colegas, amigos e familiares LGBTI. Somente por meio dessa frente, mais de 950 colaboradores em mais de 35 cidades de 12 estados do país puderam aprender sobre diversidade.

Outros trabalhos que se destacam são a inclusão de profissionais transexuais – hoje, são cinco colaboradores; apoio a empregados em processo de transição de gênero – dois se sentiram à vontade para iniciar o processo, a partir do Pride Network; e o desenvolvimento de vendedores sobre como abordar clientes LGBTI.

A recepção, de acordo com o Will, é boa. No início, houve alguns casos de rejeição, mas que logo foram contornados. Ele ressalta que a forma de a empresa abordar o tema é que faz a diferença na educação de todes. Por isso, a Cargill sempre discute pelo viés da segurança no trabalho. Isso gerou uma repercussão grande internamente que, hoje, principalmente pais e mães procuram entender sobre inclusão e diversidade para poder adotar atitudes positivas em casa, na possibilidade de se deparar com filha ou filho LGBTI.

Guia EXAME da Diversidade

A iniciativa liderada por William foi valorosa e relevante, a ponto de a Cargill figurar entre as 36 empresas do Guia EXAME da Diversidade, lista da revista que destaca as organizações no Brasil que trabalham inclusão e diversidade. Com pontuação acima da média dentre os índices avaliados pelo Instituto Ethos, a Cargill figurou entre as melhores para profissionais negras e negros e, obviamente, LGBTI.

O reconhecimento é uma surpresa, tendo em vista que a empresa nunca divulgou externamente as ações realizadas. Em suas redes sociais, William agradeceu a toda equipe que se engajou junto à Pride Network. “Esse prêmio é um gás muito bem-vindo! Ainda temos tanto o que fazer pela frente.”

A empresa conta, também, com outros dois grupos de trabalho que é AfroCargill e Mulheres Operando no Brasil (MOB), citados no guia. Além de estar em início de projeto com colaboradores com deficiência. Todas as iniciativas fazem parte do Comitê de Diversidade, gerido pela diretora de Recursos Humanos, Simone Beier.

O cenário nas empresas

Para o Fórum de Empresas e Direitos LGBT+, a empresa deve garantir que dentro ou em nome dela o respeito e a inclusão sejam valores inegociáveis. Em artigo, Guilherme Bara, gerente de Diversidade e Inclusão da Fundação Espaço ECO® e um dos fundadores do Fórum, destaca que um “ambiente amigável impacta diretamente no sentimento de pertencimento, no engajamento e, consequentemente, na produtividade das pessoas. Ações de comunicação e a promoção de diálogos que explicitam o posicionamento da empresa a favor da diversidade contribuem muito para a construção deste ambiente.”

A Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a lançar, ano passado, um manual como parte da campanha “Livres & Iguais – Nações Unidas pela igualdade LGBTI”, com cinco compromissos para incentivar o empresariado brasileiro a olhar pelo viés da diversidade. Várias empresas se comprometeram com a ONU, a fim de adotar boas práticas para a inclusão dessa comunidade. Além disso, estudos recentes revelam que empresas que valorizam a diversidade em seus ambientes lucram mais e saem na frente de outras que não adotam medidas relacionadas.

Para replicar

William observa que não há uma “receita de bolo” para as empresas abraçarem a causa, pois cada uma terá de encontrar sua linguagem e executar conforme suas equipes. Mas acredita que é possível expandir essa cultura e conseguir com que outras organizações sejam acolhedoras e seguras, como a que ele está inserido.

 

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