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Dança também é coisa de menino

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Professor Rodrigo, Kauan e a supervisora Velci - Foto: Andressa Ramos

Sabe aquelas histórias que você lê na internet e acha que nunca irá ver na sua cidade? Então, é bom se preparar, pois as próximas linhas contarão a história de um garoto que está prestes a mudar completamente o curso de sua vida.

Ele me esperava em frente a sua casa, no Bairro Bela Vista, em Lages, logo depois das 11 horas, em uma manhã de céu azul e baixas temperaturas. Kauan de Oliveira, de 11 anos, estava de chinelos de dedo, calção e moletom.

Sua irmã Hellen, de 14 anos, e o pequeno Enzo, de 7 anos, se aproximaram. Perguntei: “é aqui que mora o escolhido pela seletiva do Bolshoi?” O menino tímido, com olhos marcantes, olhou-me e respondeu que sim.

Desci do carro e entrei na casa da família Oliveira. As escadas de madeira dão os primeiros sinais de uma casa simples. O frio é mais intenso. As frestas deixam ar gélido da Serra Catarinense ainda mais forte.

Não há fechadura na porta de entrada, o forro está prestes a desabar e no quarto de Kauan não existe iluminação. A instalação elétrica é aparente. O quarto é dividido com a irmã por um guarda-roupas. Eles ficam na parte mais quente da casa. Já que a mãe dorme em um quarto feito de tijolos.

Suelen Souza de Oliveira, a mãe, tem 35 anos, trabalha no pesado em uma madeireira perto de casa. Durante a manhã, as crianças ficam com a avó ou uma tia. À tarde, todos vão à Escola Armando Ramos de Carvalho, pertinho também de onde moram.

A vida não é fácil para eles. Sabem a quantidade de roupas que têm. Contabilizam os alimentos. Sobrevivem apenas do salário da mãe. Apesar de todas as dificuldades, expressam carinho, amor e zelo uns pelos outros.

Hellen é muito delicada. Enzo, o caçula, é curioso. Kauan tímido. Na escola o garoto é um bom aluno, dedicado, curioso, engajado com as atividades e sempre demonstra bons resultados nas atividades, e excelentes notas.

Desde os 8 anos Kauan participa de aulas de dança de rua quando surgem oportunidades na escola. Há um ano, ele começou na Cia de Danças Urbanas Impactos, na própria escola. A supervisora de Educação da escola Professor Armando Ramos de Carvalho, Velci Vieira, foi quem teve a ideia de começar um grupo na unidade.

Convidou o profissional de dança Rodrigo, de 37 anos. Apaixonado pela dança há 16 anos, Rodrigo faz na escola um trabalho voluntário. Neste mês, no dia 15, comemoram o aniversário de um ano dessa atividade.

A seletiva

Sempre se destacando na CIA de Dança, Kauan chama a atenção pelo talento nato, flexibilidade e concentração, fatores que o professor Rodrigo acredita terem sido motivadores para que o aluno fosse escolhido na Seletiva do Bolshoi, e que garantiu uma vaga para a etapa de Joinville.

No dia da seletiva estava chovendo, Kauan chegou na escola todo molhado, da cabeça aos pés. Não tinha sapatilha e nem sabia quais passos teria de demonstrar. Nunca havia visto uma barra de balé.

Ao ver o aluno, Velci, uma das principais motivadoras de Kauan, pediu para o garoto ir correndo para o armário de roupas usadas pegar uma meia e uma roupa. Ele se vestiu às pressas e subiu ao palco.

Os profissionais do Bolshoi é que mostraram o que Kauan deveria fazer. Estava se divertindo. E foi assim, sorrindo, fazendo o que gosta e de forma despretensiosa, que Kauan foi o único menino de Lages a ser escolhido para uma das cinco vagas oferecidas. O garotinho de sorriso tímido mostrou que a dança, sobretudo a clássica, também é coisa de menino.

Velci enfatiza que a presença da Escola Bolshoi no bairro e a seleção de Kauan demonstram que os alunos são capazes e que os bairros Pró-Morar e Bela Vista podem ser representados.

Apoio

A seletiva de Joinville será em outubro. Até lá, Kauan terá dias intensos de estudos, alongamentos e atividades. Para isso, será necessário apoio para uma boa alimentação, roupas e até mesmo algum calçado. Quem quiser apoiar o sonho de Kauan, pode entrar em contato com a escola pelo telefone (49) 99835-1868.

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