Coronavírus

Comerciantes de Lages protestam e pedem a abertura das lojas

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Os manifestantes levaram cartazes para o protesto pedido para voltar ao trabalho Foto: Adecir Morais

Um dia após o governador do Estado, Carlos Moisés, anunciar a prorrogação das medidas de isolamento social como forma de conter o avanço da Covid-19, causada pelo novo coronavírus, comerciantes e funcionários do Comércio de Lages saíram às ruas para protestar contra a decisão. Eles pedem abertura do comércio. O ato pacífico aconteceu na manhã de ontem, no Centro da cidade.

A manifestação foi organizada por um grupo de Whatsapp. Primeiro, os manifestantes se concentraram na calçada da Rua Correia Pinto. Usando máscaras, luvas e com cartazes, eles se organizaram em fila, mantendo distância entre si e deixando espaços para os pedestres passarem, ao longo da calçada. “Queremos trabalhar, queremos trabalhar”, gritavam alguns deles.

Em seguida, eles foram até o Calçadão da Praça João Costa, onde se ajoelharam e pediram a volta ao trabalho. O protesto durou cerca de duas horas. A Polícia Militar, que ao saber da manifestação havia alertado a população sobre a necessidade de cumprimento do decreto que fechou o comércio por causa da pandemia do coronavírus, acompanhou o protesto.

“Neste momento delicado, o comando do 6º BPM (Batalhão de Polícia Militar) solidariza-se com toda a população, inclusive com empresários e comerciários da cidade de Lages, no entanto, reforça a necessidade de acatarmos as recomendações das autoridades estaduais e trabalharmos juntos na prevenção”, declarou o 6º BPM.

Os donos de lojas ouvidos pelo CL disseram que se sentem prejudicados e querem o direito de voltar a trabalhar, assim como profissionais de outros setores que retomaram as atividades em Santa Catarina. “Não somos contra quem está trabalhando, só queremos ter esse mesmo direito. Queremos trabalhar”, destacou o gerente da Loja Código, Alencar Canello.

Alencar afirmou que a loja em que ele trabalha teve um prejuízo de cerca de R$ 150 mil durante as três semanas em que permaneceu fechada. Segundo ele, uma das preocupações da empresa é em relação à manutenção dos empregos. “Temos 30 funcionários e nossa preocupação é também garantir o emprego de todos eles”, disse.

Proprietária da loja Estação Criança, Nelci de Oliveira, disse que acumula prejuízos de R$ 20 a R$ 30 mil. “A gente está se sentindo péssima. O dinheiro já acabou e não sei como vou fazer para pagar o aluguel, os boletos que chegam a todo instante e a folha de pagamento dos funcionários. Entendemos os cuidados que devemos tomar para evitar a doença e estamos dispostos a trabalhar de forma segura. A gente não aguenta mais. Queremos trabalhar”, desabafou.

A vendedora Sabrina de Lima Nunes, moradora do Bairro Guarujá, diz estar está preocupada e quer voltar a trabalhar imediatamente. “A gente se coloca no lugar do nosso patrão, porque se a loja está fechada, consequentemente ele não ganha e não vai poder pagar a gente. Tenho família, contas para pagar e isso tudo me deixa muito preocupada. Se outros estabelecimentos podem funcionar, por que o comércio não tem esse mesmo direito?” questionou. “Isso é um absurdo”, emendou.

Em ato simbólico, comerciantes e comerciário suplicaram pela volta ao trabalho   Foto: Divulgação

CDL de Lages emite nota de repúdio

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Lages diz que está fazendo o levantamento sobre as demissões que podem ter acontecido no Comércio da cidade em função da crise do coronavírus. O presidente da entidade, Marcos Tortelli, sustentou que o setor quer voltar a trabalhar e está disposto a tomar as medidas necessárias para ajudar a conter o coronavírus. A expectativa dele é que as lojas possam abrir na próxima segunda-feira. “O pessoal precisa trabalhar”, disse.

Em nota, a entidade repudiou o Decreto 550/2020 do Governo do Estado, que prorrogou por mais cinco dias a quarentena para o Comércio. Diz entender a situação delicada da saúde pública por causa da pandemia, mas ressalta que outros setores já estão em funcionamento, o que não está acontecendo com o Comércio.

“Entendemos ser este um momento delicado para a saúde pública, bem como temos ciência das responsabilidades que esta situação demanda. Porém, as medidas limitantes apenas para o comércio, tendo em vista que outros serviços de mais aproximação, já encontram-se abertos, fazem com que o setor se mobilize contra essa decisão”, descreve a CDL.

A nota ressalta o compromisso dos comerciantes em ajudar com as medidas de prevenção para evitar a propagação da doença. “Assim como as demais atividades que já estão em funcionamento, o setor do comércio também está disposto a abrir as portas com todos os cuidados e restrições impostas pelo Ministério da Saúde, preservando assim a vida de nossos colaboradores e clientes, sem deixar de lado o setor econômico, primordial para a preservação da vida da comunidade catarinense”.

O documento também fala sobre o impacto das medidas no Comércio. “Do modo como se está procedendo, como serão pagos nossos impostos, aluguéis e despesas das empresas? A impossibilidade na abertura de nosso comércio, tornou-se uma concorrência desleal. Precisamos preservar a vida, sem deixar de lado a nossa economia. Precisamos pensar nas milhares de famílias catarinenses”, finaliza.

Atividades comerciais já liberadas

As medidas de isolamento social em Santa Catarina se estendem há 22 dias, no entanto, o funcionamento de algumas atividades comerciais já foi liberado pelo Governo do Estado. A liberação das atividades estão sendo feitas de maneira gradativa, à medida em que o Estado vai fortalecendo o sistema público de saúde.

Já estão funcionando estabelecimentos comerciais de materiais de construção, ferragens, ferramentas, material elétrico, cimento, tintas, vernizes e materiais para pintura, mármores, granitos e pedras de revestimento, vidros, espelhos e vitrais, madeira e artefatos, materiais hidráulicos, cal, areia, pedra britada, tijolos e telhas já estão operando. 

Além disso, o governo também já liberou o funcionamento de estabelecimentos da cadeia produtiva automotiva, náutica, de implementos agrícolas e lavanderias, escritórios de advocacia e de contabilidade, clínicas médicas, salões de beleza, casas lotéricas, entre outros.

O governador destacou que a tendência é que a situação se agrave no Brasil nas próximas semanas e todos os cuidados ainda são necessários. “É um esforço de todos para a proteção de todos. O isolamento social ainda é o método mais efetivo para evitar a Covid-19. Nossas medidas já trouxeram resultados positivos, a curva de crescimento de casos está mais atenuada e tenho certeza que, com o esforço dos catarinenses, vamos sair dessa crise que atinge o mundo todo”, avaliou Carlos Moisés.

Recomendação

O Ministério da Saúde recomenda que, a partir da próxima semana, o Estado avalie algumas medidas de flexibilização para iniciar a transição para o distanciamento social seletivo. A orientação se aplica aos estados que adotaram restrições ao convívio onde, atualmente, o número de pacientes internados com Covid-19 não tenha ocupado mais de 50% da capacidade de leitos existente antes da pandemia.

Na Assembleia Legislativa (Alesc) do Estado, tramita um projeto do deputado Jessé Lopes (PSL) que prevê a anulação dos decretos do Governo do Estado que impuseram o isolamento social devido ao coronavírus. A proposta já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e agora o governador Carlos Moisés tem 10 dias para se manifestar sobre as decisões, após esse prazo, o projeto volta a tramitar na Alesc.

Procurador da República pede que governo acabe com restrições ao trabalho

O procurador do Ministério Público Federal, em Lages, Nazareno Jorgealém Wolff enviou ofício ao governador Carlos Moisés solicitando o fim das restrições que impedem as pessoas de trabalhar. No documento, Nazareno deixa claro que não concorda com as medidas que afetam o direito da pessoa em trabalhar. 

“Concomitante com o exercício de profissão, e à saúde,  que é dever do Estado, e vendo que desde o dia 17 de março o Governo de Santa Catarina tem adotado medidas excepcionais, que em muitos casos implicam em vedação da liberdade e do exercício laboral sem uma consequente contrapartida ou fornecimento de alternativa à subsistência de famílias sujeitas à essas restrições, bem como enfatizando também que tem recebido apelos públicos e particulares acerca da ocorrência de dificuldades em famílias que não prescindem dos proventos de suas atividades laborais diárias para provimento e providências de obtenção de alimentação, saúde, assistência, habitação, aquisição de medicamentos, tratamentos e outros insumos básicos à sobrevivência, e que estão com sua renda limitada por esses atos, bem como constrangidas por um verdadeiro “estado policial” que se instalou, não compartilha dessa recomendação no sentido de manter a proibição do exercício do trabalho e de atividades que permitam a dignidade mínima, e inclusive manifesta a necessidade de que o Governo de Santa Catarina considere a realidade geográfica/climatológica específica dos municípios situados no altiplano relacionado à Lages, notoriamente a região que registra as menores temperaturas do Brasil, e também alta incidência de doenças respiratórias e outras relacionadas à elas, fazendo com que, necessite ser atendida por uma política pública específica, inclusive diferente de outras do Estado”, diz trecho do ofício. 

 

Foto1: Manifestação pela abetura do comércio_Adecir Morais_8-4-2020 (14)

 

Legenda: Os manifestantes levam cartazes para o protesto pedido para voltar ao trabalho

 

Crédito: Adecir Morais

 

Foto2: Manifestação do comércio-Divulgação.jpg

Legenda: Manifestantes se ajoelham e pedem a volta ao trabalho

 

Crédito: Divulgação

 

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