#CLentrevista o maestro do Música na Serra, Jean Reis
A 6ª edição do Festival Internacional Música na Serra começa no domingo (15), às 20 horas, no Teatro Marajoara, em Lages, com entrada gratuita. O evento segue até o sábado (21). O maestro Jean Reis, diretor artístico do Festival, falou sobre o evento ao Correio Lageano.
Correio Lageano: Como surgiu o circuito de festivais de música erudita?
Jean Reis: Pela ação dos músicos e estudantes que vão aos festivais e gostariam de ter o festival também em suas cidades. E foi o que aconteceu aqui em Lages, um participante que foi a um dos festivais em Bagé, solicitou que viéssemos aqui para falar com as pessoas responsáveis. E em contato com Isabel Baggio, que incorporou na programação de atividades, fez com que o festival acontecesse.
O festival está na sexta edição em Lages, mas existe há mais tempo em outros lugares. O primeiro do Circuito de Festivais acontece há 20 anos, em Poços de Caldas (MG), é o Música nas Montanhas. Temos também o Festival Internacional de Música no Pampa, em Bagé; na cidade de Ivoti na Serra Gaúcha (Musivoti) e Caxambu na Serra Mineira.
A música clássica não é tão ouvida na atualidade, mas o festival dá oportunidade às pessoas interessadas em aprender e também a formar platéia?
Na verdade, o Festival tem aspectos importantes. O primeiro deles é a formação acadêmica dos alunos que vêm aos festivais. Alunos estes, selecionados de outros estados do Brasil e do exterior, especialmente dos países vizinhos, que vêm em busca de aperfeiçoamento acadêmico. Nesta seleção de bons alunos, temos o resultante que é uma orquestra com nível alto. Na parte da tarde, os alunos têm aulas com os professores artistas que vêm também do exterior e de outros estados brasileiros. A parte artística é que a cidade tem acesso gratuitamente, os professores-artistas que vêm para o Festival e um ou outro convidado, participam de concertos gratuitos noturnos. São concertos abertos ao grande público, e convidamos para que todos aproveitem, pois, de outra forma, teriam de assistir em grandes centros musicais, como Paris, Nova Iorque, ou outros estados brasileiros, como São Paulo, lugares em que esses músicos se apresentam. Temos aqui essa função do festival que é trazer essa música para essas pessoas que não estão tão habituadas a essa música. Eu também não estou habituado a dirigir uma Ferrari, mas sei que existe, não preciso ser um engenheiro mecânico para saber se um caaro é bom. Temos que trazer boa música para as pessoas. Em cada estilo de música tem a que é boa e a que não é tão boa. Temos de ter a consciência de escolher o que é melhor da música erudita para oferecer ao público. Ao mesmo tempo, que temos de ter a consciência que mesmo nos estilos que nós mais gostamos, há músicas que não são tão boas. A sensibilidade das pessoas é a mesma, todos conseguem ver o que é bom e o que é ruim.
As aulas oferecidas aos músicos que vêm em busca de aperfeiçoamento, assim como as apresentações ao público, são gratuitas?
Se o aluno tem uma forma de se hospedar na cidade, o festival, em si, é gratuito. O público indo aos concertos também tem acesso gratuito e é uma forma de difundir a música na parte artística e pedagógica.
Que resultados o senhor já observou em todos esses anos de festivais?
Essa é a parte que não tem preço! Ver alunos que chegam com 15 anos, buscando uma formação, uma reafirmação de que estão no caminho certo. Por exemplo, lá em Poços de Caldas, há 19 anos, um pai chegou e disse, “eu posso comprar uma viola erudita?”, eu disse: “você não comprou ainda? já deveria ter comprado.” Hoje, aquele menino é um dos expoentes no mercado musical como instrumentista. Há pouco tempo, estive com um menino que é de Bauru (SP), foi para o festival de Poços, ganhou uma bolsa nos Estados Unidos, fez mestrado, fez doutorado e está voltando para o Brasil. Estava empregado lá em uma orquestra, como profissional, e está vindo porque quer fazer com que seu trabalho continue entre nós. Você muda a vida de alunos. Outro aluno, que passou pelo festival, depois foi estudar com o professor de contrabaixo da Sinfônica de Israel. Saiu de um nível social que não é privilegiado para ter uma vida profissional que proporciona a ele viver por si mesmo. São apenas alguns exemplos, temos vários outros.
O que as pessoas podem esperar do Festival Internacional Música na Serra?
Eu queria que as pessoas não esperassem nada, que colocassem na sua agenda para que às 20h não tenham nada que as segure em casa. Que vão assistir com seus amigos e sua família. Vamos ter música de câmara com instrumentos de corda e concerto com instrumentos de madeira. A novidade deste ano são alunos de balé que farão apresentação, na quinta-feira (19) à noite, com as crianças, acompanhadas da Orquestra do festival. Entre outras apresentações.