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#CLentrevista o arquiteto e pesquisador Fabiano Teixeira

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Foto: Marcela Ramos

Correio Lageano: A principal obra histórica que acontece em Lages, é restauração do Casarão Juca Antunes, uma construção do século 19, a mais antiga do espaço urbano que mantém as suas características originais. Você está acompanhando essa obra, pode adiantar algum detalhe?

Fabiano Teixeira: Uma obra bastante emblemática e importante para o patrimônio cultural da Cidade. Há algum tempo passou por uma intervenção. É uma edificação protegida por tombamento em âmbito estadual. Há 10 anos tive uma experiência muito bacana. a partir do meu trabalho de conclusão de curso, na faculdade, consegui um apoio da proprietária na época, e aporte da Lei Estadual de Incentivo a Cultura e foi possível fazer uma obra emergencial. A casa em 2005 demandava uma série de cuidados. É com tristeza, que tenho acompanhado o descaso e o nível de deterioração que a casa chegou, porque, pela obra que se fez em 2005/2006, se tivessem feito a manutenção corretamente, certamente não teria chegado ao estado de quase ruína. Felizmente houve uma intervenção do Ministério Público, em função do descaso e abandono do imóvel, que resultou, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta, na aquisição desse imóvel que foi repassado à prefeitura, e na contratação de um projeto de restauração, do arquiteto Lurian Furtado, aqui de Lages, e com a Terra Engenharia realizando as obras de restauração. Achei muito bacana da parte deles, me convidarem para acompanhar a obra, pela minha experiência e algum conhecimento adquirido nesses últimos anos. Devo isso ao Lurian e ao pessoal da CTG e da Terra. Tento colaborar, até porque, surgem dúvidas no dia a dia da obra, em relação aos materiais, procedimentos técnicos.

Será possível reconstruir os materiais usados na época da construção da casa na década de 1850?

Existe uma série de critérios e conceitos por trás de um projeto de restauração, nunca um caso é igual ao outro. Temos conceitos, inclusives internacionais, cartas patrimoniais para além de uma legislação específica, que atua e dá alguns parâmetros, mas cada caso é sempre muito particular, e ali (Casarão) não é diferente. Tem elementos, materiais e técnicas construtivas que, eventualmente, podem ser reconstituídas, outras não mais, às vezes, porque não têm pessoas que tenham habilidade e detenham aquele conhecimento. Por outro lado, aquela casa passou por muitas transformações na parte interna nesses últimos 170 anos. Temos, por mais que tenhamos estudado, levantado, pesquisado, muitas dúvidas, de por exemplo, de como era a compartimentação original. Conseguimos avistar alguns vestígios, mas tem muita coisa que fica só no campo da hipótese. Quando a gente chega na hipótese num restauro, preferencialmente, temos de buscar soluções que sejam reversíveis, que possam, no futuro, ser substituídas, por algo melhor e que não interfira na leitura. Aquilo que é sabidamente original tentar manter ao máximo, se há alguma dúvida tem de ter muito cuidado. Em relação a isso uma dúvida é, reconstituir ou não as paredes de pau a pique, uma trama de madeira fechada com barro que eram as paredes originais, das quais a gente não encontrou mais vestígios, isso já foi substituído pelas paredes que estão lá hoje. Volta ao pau a pique? Mantêm o que tem lá hoje? Substitui por um material novo, contemporâneo? São questões que a gente está discutindo toda semana, tentando contribuir para que a obra aconteça da maneira mais adequada e de forma respeitosa com a edificação.

Em Lages, e no Brasil não é diferente, as construções históricas tombadas ou não, com algumas exceções, só são valorizadas quando estão em péssimas condições. Por que isso acontece?

Em geral, não é regra, a gente sempre tem uma dificuldade muito grande. Trabalho com isso há praticamente 15 anos e sempre é difícil. Primeiramente porque existe uma dificuldade muito grande, uma questão cultural do brasileiro, de lidar com a sua memória, com a sua história e com o seu passado. No âmbito geral, a gente não tem essa relação com a história e com o passado. Nunca é prioridade a cultura e muito menos o patrimônio cultural. Desde a limitação de recursos, passando por essa falta de consciência da população, esbarramos nas dificuldades da gestão pública desse patrimônio, muitas vezes temos o patrimônio tombado, uma legislação, um órgão que deve atuar nessa área, fiscalizando e buscando recursos e isso também costuma ser limitado. É uma área bem difícil, e é sempre uma luta. Muitas vezes a gente acaba tendo visibilidade para esse patrimônio quanto está em risco, e há uma mobilização, de um grupo pequeno, que se sensibiliza e corre atrás para que essa construção não caia.

Sempre que se fala em prédios históricos se pensa em casa de cultura ou museu, mas uma construção histórica pode ser utilizada para outras funções, como unidade de saúde ou escola, por exemplo?

O uso social é sempre interessante, em algumas situações até preferível, para democratizar, permitir a apropriação daquela edição historicamente importante. Mas isso não é regra, e uma edificação devidamente mantida, recuperada e adequada em termos de instalações hidráulicas e elétricas, se presta a qualquer uso. Claro que, algumas edificações tem uma vocação específica por conta das suas características arquitetônicas. Então pode ser desde uma residência, um comércio, até uma instituição. Essa coisa de pensar a edificação antiga e histórica como museu, ou como arquivo, o que costuma acontecer, é inclusive equivocada, porque esses edifícios não têm as melhores condições para conservação desses acervos. O fato é que, se vamos ter um uso social, público, a apropriação da população sobre esse bem é muito maior, tende a ser muito mais valorizada e efetivada.

Qual a importância para a sociedade a preservação e a valorização dos prédios históricos?

Os edifícios históricos são como documentos, ajudam a contar a nossa história, guardam fatos na nossa memória, dizem respeito a nossa identidade cultural. Nós, da área do patrimônio, procuramos justamente valorizar e difundir essa ideia de que o patrimônio edificado é parte da nossa identidade cultural e uma referência para sociedade. Preservar cidades históricas, centros históricos e edifícios antigos é preservar quem nós somos.

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