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Apática, Alemanha tetracampeã mundial cai na fase de grupos pela primeira vez na história

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Foto: Fifa/ Getty Images/ Divulgação

O gol de Toni Kroos contra a Suécia pode ter dado sobrevida à Alemanha, mas pouco valeu. Ao reavivar as expectativas sobre a classificação germânica às oitavas, não considerava as fragilidades do Nationalelf.

Em Kazan, só girar a bola à frente da área adversária não bastou, e os comandados de Joachim Löw pagaram caro pela falta de intensidade diante de um adversário tecnicamente pior. E, no momento do desespero, o gol escancarado aos adversários foi o retrato da desordem alemã que levou à hecatombe: O 2 a 0 representa a primeira eliminação do Mannschaft na fase de grupos de uma Copa do Mundo em 19 participações.

Para piorar, sendo lanterna do Grupo F. Do outro lado, sim, havia adversários: Os sul-coreanos se comportaram muito bem, impedindo os arremates e marcando com dedicação exemplar. Souberam lidar com as próprias fraquezas compensadas pela concentração e tiveram a boa presença de seu goleiro quando necessário para impor o vexame aos europeus. 27 de junho entra para a história das Copas como uma mancha na trajetória tetracampeã do futebol alemão.

A Alemanha deixa a Rússia parecendo não ter entendido o significado da Copa do Mundo. Fez apresentações perdidas já desde a partida de estreia, na derrota contra o México. Sofreu ao extremo para conseguir bater os suecos na estrela de Kroos, mas um lampejo só não bastaria.

As escolhas de Joachim Löw podem ter pesado, parando no meio do caminho entre a ingenuidade da renovação, com jogadores promissores, na companhia de medalhões já em decréscimo técnico.

Em um mundial em que a entrega na marcação parece ser preponderante, a falta de ideias para o ataque entrega a debilidade vista no sem-número de cruzamentos e na previsibilidade das propostas do time. Vai precisar se refazer depois de um choque gigantesco destes. Como aconteceu com a Itália em 2010 e com a Espanha em 2014, a atual campeã mundial cai na fase de grupos.

Os times

Do lado alemão, Joachim Löw não tinha o suspenso Jérôme Boateng, então promoveu a entrada de Nicklas Süle como companheiro de Mats Hummels no miolo de zaga. Pelo meio, Toni Kroos aparecia ao lado de Sami Khedira, com a novidade Leon Goretzka ganhando espaço pelo meio, deixando Thomas Müller no banco.

Marco Reus vinha na ponta oposta, deixando as responsabilidades de armação para Mesut Özil, centralizado, e a liderança ofensiva a Timo Werner. À Coreia do Sul, a resistência tática era vista em um 4–4–2 mais cauteloso, que explorasse as qualidades de suas principais peças, especialmente Heung-Min Son, ao lado de Ja-Cheol Koo na frente — com o detalhe de que Hee-Chan Hwang e Sung-Yueng Ki, de boas partidas anteriores, começando na reserva.

O campinho de Coreia do Sul x Alemanha (Fifa.com)

O jogo

Ao longo da primeira etapa, as posturas de alemães e sul-coreanos foram bem definidas. Enquanto os asiáticos se fechavam em busca do contra-ataque, os europeus tentavam propor o jogo em meio à maré vermelha que se colocava em frente à área. Neste contexto, os momentos decisivos eram raros diante da pouca objetividade alemã em tentar a infiltração nos espaços adversários e da satisfação sul-coreana em dar poucas brechas atrás.

As oportunidades mais claras vinham dos vacilos defensivos. Com a porta da defesa asiática fechada, os selecionados de Joachim Löw começaram a usar a bola aérea jogada na área. Jogada porque não tinha a qualidade de um passe, era mais um lance fortuito procurando que alguém desviasse. Nos minutos iniciais, a Alemanha chegou a ter 78% de posse de bola, mas, ao que parece, mesmo que trocasse passes, não oferecia perigo.

A Coreia do Sul era bem mais perigosa quando chegava ao ataque. ameaçou o gol alemão por duas vezes, no melhor momento que teve na primeira etapa, depois dos 15 minutos. Aos 18, Sami Khedira perdeu o tempo de bola e cometeu falta perto da área. Jung Woo-Young cobrou de longe, direto para o gol.

A bola pegou muito efeito e veio baixa. Neuer se agachou para encaixar, mas não conseguiu segurar. Por muito pouco, Son não chegou de carrinho no rebote. Isso porque o próprio Neuer tirou do camisa 7 com um tapinha.

Então, aos 24, Lee Yong conseguiu o cruzamento para a área pela direita e a zaga não afastou. Son veio de trás para pegar a sobra e emendar de primeira, mas, do bico da pequena área, mandou por cima.

Nos quinze minutos finais, o Mannschaft intensificou a pressão. A Coreia do Sul se limitava a rebater a bola para longe e, cedendo a posse de bola, se voltava à própria área. A Alemanha avançava suas linhas, com Süle começando as jogadas.

Entretanto, mesmo rondando a área, os germânicos apelaram demais a cruzamentos pelo alto e por baixo, e nos chutes de fora, a defesa coreana conseguia bloquear. Aliás, o comportamento defensivo dos asiáticos impressionou, especialmente pelo alto nível de concentração.

Quando os alemães conseguiram entrar na área adversária, depois de cobrança de escanteio, foi Hummels que apareceu à frente. O zagueiro foi bem ao limpar a jogada, mas demorou a finalizar, sendo travado pelos marcadores.

Nas partidas anteriores, o goleiro Hyun-Woo Cho já havia sido importante para evitar que os Tigres Asiáticos sofressem mais gols. Mas especialmente aos dois minutos da segunda etapa, o arqueiro fez sua intervenção mais preciosa.

Depois de jogada trabalhada pela direita, Marco Reus abriu o jogo para Joshua Kimmich. O lateral cruzou na cabeça de Leon Goretzka, que aparecia livre pelo meio. O camisa 23 fez a intervenção providencial. Pouco depois, teve um pouco mais de sorte: Aos 5, Özil partiu pela direita e tabelou com Toni Kroos. Cruzou para trás buscando o deslocamento de Timo Werner. O centroavante pegou de primeira de perna direita, mas a bola passou à direita do gol.

Depois das oportunidades desperdiçadas, a condição piorava. Não por causa das ações diretas no embate entre o Nationalelf e os Tigres Asiáticos. Isso porque a vantagem da Suécia obrigava os alemães a fazerem mais.

Aí, se acentuou a pressa germânica em conseguir o gol de qualquer forma, o que abria espaços aos Coreanos. A proposta era ressaltada pela entrada de Mário Gomez na Alemanha, na tentativa de aumentar a altura dentro da área e ter mais um finalizador, e pela aparição de Hwang, substituindo Ja-Cheol Koo, lesionado.

A postura da Alemanha pouco se alterava, apenas sendo acrescida pela pressão do tempo. Löw arriscou a entrada de Thomas Müller no ataque, retirando Leon Goretzka, que não chegou a fazer uma partida ruim. Mas era a Coreia do Sul que mais assustava, pelos espaços dados em contra-ataques.

Aos 20 minutos, por exemplo, Seon-Min Moon recebeu já dentro da área e limpou o primeiro marcador. Neste momento, deveria ter batido, mas buscou outra finta e se enrolou. Enquanto isso, Jo segurava as pontas lá atrás, em uma defesa segura após a cabeçada de Mário Gomez no centro do gol.

Os asiáticos apostavam em seu camisa 7, Heung-Min Son desde o começo do mundial. E os anseios eram justificados, porque o atacante era o mais perigoso do time. A sua qualidade técnica deixou os alemães em apuros aos 33, quando arriscou um chute rente à trave de Neuer.

E mesmo com a entrada de Julian Brandt, meia, na vaga do lateral Jonas Hector, pouco houve de mudança. Toni Kroos e Marco Reus até tentavam algo. No entanto, Mesut Özil era o retrato da seleção alemã, tanto no jogo quanto na Copa: apático, errava passes e, quando acertava, era para recuar ou tocar de lado.

Era Mats Hummels que se lançava à área produzindo mais que os próprios atacantes germânicos na bola aérea. Foi dele a última chance do time de Löw, aos 41. No único lampejo de Özil, o meia mandou um belo cruzamento para o defensor do Bayern de Munique.

Ele, no entanto, errou o movimento, e viu a bola bater em seu ombro antes de se perder à linha de fundo. O Nationalelf ia ao ataque de qualquer maneira, e a tragédia era anunciada. Não conseguia controlar a velocidade dos avanços coreanos, e não passava pela consistência tática asiática.

Já nos acréscimos, o que poderia ser uma chance de redenção, se tornou um desastre: Depois de um cruzamento fechado em cobrança de escanteio, a bola ficou viva no meio da área e depois do desvio, Young-Gwon Kim superou Neuer.

A dúvida sobre o impedimento no lance foi rechaçada quando se viu que Toni Kroos foi quem desviou para trás, mandando entre as pernas de Süle. Se o toque veio do alemão, pouco importava a posição do atacante.

Mas a imagem que representa o descompasso germânico veio depois: Manuel Neuer já não estava mais na meta há tempos: era visto, isso sim, na área adversária. A defesa coreana afastou a bola da área com um chutão e Son partiu do campo de defesa. O marcador não foi páreo para o camisa 7, que apenas tocou para as redes vazias para decretar a vexatória eliminação dos campeões mundiais.

O cara da partida

Hyeon-Woo Jo. O guarda-redes coreano vinha de aparições não tão brilhantes, mas ia segurando as pontas diante do México e da Suécia, impedindo goleadas apesar dos reveses. Na partida contra a Alemanha, impediu que as poucas chegadas se concretizassem em gol. O seu momento na partida veio no começo do segundo tempo, quando negou o gol à Alemanha depois de espalmar uma cabeçada de maneira plástica.

Como fica

A Coreia do Sul não se classificou, mas impediu com louvor o avanço dos Germânicos à fase de mata-mata. Foi taticamente inteligente e se comprometeu com a marcação desde o primeiro momento. Por outro lado, os alemães não foram incisivos o suficiente nas ações ofensivas, com poucas ideias e alternativas escassas além da bola aérea.

Já desesperados em busca dos gols, deram espaços para o contra-ataque e sofreram nos acréscimos um dos piores momentos da história do futebol alemão em mundiais. Em um grupo com Coreia do Sul, Suécia e México, a Alemanha conseguiu ficar na lanterna, se despedindo da Rússia com apenas três pontos, alcançados na vitória diante da Suécia. Pouco, muito pouco.

Ficha técnica

Alemanha 0x2 Coreia do Sul

Local: Arena Kazan, em Kazan

Árbitro: Mark Geiger (EUA)

Gols: Kim Young-gwon, aos 46’/2T; Son Heung-min, aos 50’/2T

Cartões amarelos: Jung, Lee, Moon, Son (Coreia do Sul)

Cartões vermelhos: Nenhum

Alemanha

Manuel Neuer, Joshua Kimmich, Niklas Süle, Mats Hummels, Jonas Hector (Julian Brandt); Toni Kroos, Sami Khedira (Mario Gómez); Leon Goretzka (Thomas Müller), Mesut Özil, Marco Reus; Timo Werner. Técnico: Joachim Löw.

Coreia do Sul

Cho Hyun-woo, Lee Yong, Yun Young-sun, Kim Young-gwon, Hong Chul; Lee Jae-Sung, Jang Hyun-soo, Jung Woo-yung, Moon Seon-min (Ju Se-Yong); Son Heung-min, Koo Ja-cheol (Hwang Hee-chan, depois Ko Yo-Han). Técnico: Shin Tae-yong.

Por Luiz Henrique Zart