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Acervo doado é ganho cultural para Lages

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Fotos: Núbia Garcia

Documentos raros que remontam parte da história da Lages do século 18; atas da Câmara de Vereadores datadas do século 19; o Código de Leis da Província de Santa Catarina de 1856; e um diploma da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, pertencente ao juiz Joaquim Fiuza de Carvalho, emitido em 1864 e assinado pelo imperador Dom Pedro II, são algumas das raridades que integram o acervo do historiador Walter Dachs, doado para o município de Lages.

Quando a Fundação Cultural de Lages recebeu as seis caixas contendo o acervo, guardado pela família de Dachs por mais de cinco décadas – desde sua morte, em 1964 – não imaginava as preciosidades que estavam escondidas nelas.

“Estes documentos se uniram ao que já existe aqui [no Museu] e fecham uma série documental importante. Pode-se dizer que este foi o maior ganho cultural de todos os tempos para Lages. Este material possibilita uma visão mais real do contexto social da época, não apenas o histórico”, comenta o historiador Felipe Reis, um dos três pesquisadores responsáveis por fazer o levantamento, identificação, higienização e catalogação de todos os documentos.

Para ele, como todos os documentos são originais, é possível utilizá-los para remontar uma parte da história de Lages e região. Em meio à papelada, há registros da passagem da Revolução Farroupilha por Lages (entre 1839 e 1840); todas as atas de vereança que não constavam nos registros do Museu Thiago de Castro e da Câmara de Vereadores.

Um livro descoberto entre a papelada e apontado por Reis como raridade é “Lages – Historico da sua fundação, até 1821 – documentos e argumentos”. Escrito pelo paranaense Romário Martins e publicado em 1910, é um importante estudo que aponta versão diferente sobre as origens de Lages.

Segundo o autor, a cidade se formou a partir de um desmembramento de Curitiba e não de São Paulo, como diz a versão oficial dos fatos. Reis explica que a origem curitibana de Lages sempre foi defendida e apoiada por Walter Dachs.

Um dos documentos encontrados é um diploma da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, pertencente ao juiz Joaquim Fiuza de Carvalho, emitido em 1864 e assinado pelo imperador Dom Pedro II

Personagens da história

Outro livro que chama a atenção é a “Actas das Sessoens do Jury Lages”, de 1848; destaque para um documento contendo o discurso de Octacilio Costa (grafia do documento), feito no Rio de Janeiro, em 1949, com o título “Anita Garibaldi. Heroína de Dois Mundos”. Outro, sem identificação do conteúdo, dá conta de registros de reuniões do período de 1829 a 1836.

Documentos traduzem a identidade do lageano

Há ainda documentos que discorrem sobre fatos da história de Santa Catarina, a genealogia de personalidades locais. “As peças do quebra-cabeça que faltavam se completam com este material. A gente tem uma série documental completa com este material. Ele traduz não só a história social de Lages e região, mas a identidade do serrano”, diz Reis.

Além de tudo isso, Reis já encontrou listas nominativas dos moradores de Lages, publicadas por volta de 1840. Tratam-se de ofícios que informam sexo e idade de todas as pessoas que moravam no município, diferenciando os escravos.

Em duas das caixas contendo os materiais, há apenas escritos de Walter Dachs. Esta parte dos documentos será analisada em um segundo momento, visto que os demais são mais antigos e apresentam maior estado de deterioração (o que faz com que precisem de atenção com mais urgência).

Documento de 1891, vindo de Desterro (atual Florianópolis) informava ao intendente de Lages sobre a criação do Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Preservação

Após a abertura das caixas e identificação dos materiais, todo o documento passará por arrolamento e inventário das fontes, higienização, conservação, digitalização e indexação eletrônica. Após todas estas etapas concluídas, o material será digitalmente disponibilizado ao público para pesquisas.

O trabalho está sendo feito voluntariamente por três historiadores: Felipe Reis (especialista em conservação de documentos em suporte de papel), Lenilson Maia (especialista em cultura popular) e Sérgio Lamartine Abreu (especialista em genealogia).

Todo o trabalho deve ser concluído dentro de 10 a 12 meses. O acervo terá curadoria do Instituto Histórico e Geográfico de Lages e guarda da Fundação Cultural de Lages, por meio do Museu Histórico Thiago de Castro.

Walter Dachs

Nascido em abril de 1900, o pesquisador e escritor alemão Walter Dachs veio para o Brasil aos 24 anos. Aos 42, casou-se em Lages e, logo em seguida, iniciou seu trabalho de pesquisa sobre a história e genealogia do município e da região.

Após sua morte, em 1964, a família ficou com todo o acervo levantado em mais de duas décadas. Antes de ser doado para o Museu, por Leticia Muniz, neta de Walter, o acervo estava em Vitória, no Espírito Santo.

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