Esportes
Volnei, ortopedista no Leoas da Serra, integrou equipe médica Seleção Brasileira
O médico ortopedista Volnei Correia da Silva foi convocado para integrar a equipe médica da Seleção Brasileira de Futsal Feminino enquanto servia as Leoas da Serra. O especialista em joelho atuou na Copa América, ocorrida em Assuncion, no Paraguai, no período de 13 a 20 de dezembro.
Ele, que é também ciclista-maratonista, recebeu o convite em novembro. A preparação para a competição aconteceu em Londrina no Paraná. Equipe composta por 14 atletas, entre elas; Amandinha, Diana e Tampa, das Leoas e os oito membros da comissão técnica se apresentaram dia 4 de dezembro, ficando no Norte paranaense até dia 11.
Comandadas pelo Wilson Sabóia, professor e treinador da Unifor, de Fortaleza, as atletas brasileiras enfrentaram na primeira fase as seleções do Chile, Uruguai, Argentina e Equador, e na semifinal: Colômbia; e na final, novamente, encararam a argentinas. Com a vitória de 4 a 1, o Brasil conquistou a Copa América.
Assim, Volnei entrou para a história do futsal brasileiro feminino, uma vez que as meninas alcançaram de forma invicta o hexacampeonato. Para ele, receber o convite para defender as cores do Brasil numa competição, seja como atleta ou como membro da comissão técnica, é um orgulho e uma enorme alegria.
“É o reconhecimento do trabalho, do esforço realizado pela modalidade. É o sonho de qualquer profissional. Fiquei muito lisonjeado e radiante com o convite”, disse ele. O médico falou da oportunidade, dos bastidores, do convívio, avaliou a modalidade e acredita que deixou uma boa impressão.
Correio Lageano: Qual o impacto na sua carreira ao ser convocado?
Volnei Correia da Silva: Em relação ao impacto na minha carreira, essa convocação, sem dúvida, me fará buscar ainda mais o aprimoramento no que tange à função de médico de equipe no intuito de proporcionar às Leoas da Serra uma melhor condição de saúde para enfrentarem as competições que virão em 2020.
Existe possibilidade de novas convocações?
Fiquei sabendo que a organização do futsal, tanto feminino quanto masculino, passará por mudanças agora no início de 2020. Então, não sei se terei oportunidade de participar de uma nova convocação. Acho que deixei uma boa impressão do meu trabalho e, com isso, é claro que há esperança de ser novamente convocado existe.
Como foi o primeiro contato com a comissão da Seleção Brasileira ?
Sempre existe um pouco de ansiedade como em qualquer coisa nova que você vai fazer, mas já conhecia alguns membros da comissão e também as três atletas das Leoas da Serra que estavam na preparação para a Copa América (Amandinha, Diana e Tampa), o que deixou mais fácil a minha inserção no grupo. Fui muito bem recebido por todos. Os membros da comissão são muito receptivos e a filosofia de trabalho foi bem de encontro àquilo que eu penso, então, foi rápida a interação minha com eles.
Qual sua avaliação do futsal feminino? Afinal, o senhor está fazendo parte da história dessa modalidade, que é tão negligenciada por autoridades que deveriam estimular a prática?
O futsal feminino depende de mais visibilidade, de mais apoio, de mais profissionalismo de todas as partes. Houve uma melhora nestes quesitos nos últimos anos, mas estamos muito longe de estar no mínimo necessário que a modalidade precisa. Veja o que é o projeto Leoas da Serra em nossa região. É um projeto que vem buscando o empoderamento feminino e, com isso, tentando baixar a violência contra a mulher. Felizmente, depois de muita luta da diretoria das Leoas da Serra, a cidade vem abraçando o projeto, mas este envolvimento precisa ser mais consistente para que não haja a possibilidade de ter que ser encerrado por falta de apoio.
E os bastidores das competições quer seja em ambiente com vitória ou derrota?
Os bastidores da Copa América são de muito trabalho, muita dedicação de todos (atletas e comissão) muita conversa, discussão, troca de idéias, aprendizado, cumplicidade e claro, de momentos de descontração. Há uma rigidez de horários, regras bem claras e foco sempre no objetivo maior que era a conquista da Copa América. Cada um fazendo sua parte mas também ajudando o outro a fazer a dele caso fosse necessário.
Como é acompanhar o esforço de uma atleta para se recuperar e, por fim, ter que dizer que não há condições de ir pro jogo?
Quando existe um objetivo bem definido e todos convergem para a conquista deste objetivo, os problemas se tornam bem mais fáceis de serem administrados e resolvidos. Tivemos vários problemas médicos a serem enfrentados durante os período de convocação. Desde atletas que chegaram com lesão e foi preciso fazer um trabalho de recuperação; bem como uma atleta que sofreu lesão ligamentar do tornozelo no período de treinamento, dois dias antes de irmos ao Paraguai e houve necessidade de decisão sobre corte ou não da atleta. No Departamento de Saúde éramos dois fisioterapeutas e eu. As decisões sobre a condução dos problemas eram discutidos entre os três e conjuntamente chegava-se ao caminho a seguir. Felizmente, esta atleta que sofreu esta lesão não foi cortada.
Quais são as lesões mais frequentes?
As lesões mais frequentes no futsal são do tornozelo e joelho. Elas acontecem tanto por conta da situação intrínseca, pessoal do atleta (cansaço, sono, lesões prévias,) bem como de fatores extrínsecos (ambiente, quadra, clima, momento do jogo, número de horas de atividade). Normalmente, há uma soma de fatores que levam à lesão. Sem dúvida, as lesões são mais frequentes nas competições, mas também ocorrem durante os período de treinamento.
Um médico se prepara como para servir à Seleção Brasileira?
A atividade do médico de equipe é muito abrangente. Inicia-se antes da competição, quando você precisa avaliar a condição clínica de cada atleta. Passa pelo período de competição, quando precisa cuidar de tudo o que possa levar o atleta a ter problemas de saúde. Vou dar um exemplo: quando uma delegação vai a algum lugar para competir, há mudança de alimentação (tipo, maneira de preparação, temperos) e isso pode levar a problemas gastrointestinais. Tivemos a maioria das atletas e comissão com problemas gastrointestinais nos primeiros dias no Paraguai. Com a preocupação de que pudessem ser problemas relacionados à infecção intestinal por conta de comida estragada (estava muito quente lá) eu, antes de a delegação entrar, ia verificar toda a alimentação. Com isso, orientava a todos o que estava liberado e o que deveria ser evitado. Felizmente, não houve problemas de infecção gastrointestinal, mas era simplesmente adaptação gastrointestinal. E continua após a competição, quando estou acompanhando, esta atleta que sofreu entorse do tornozelo, em como está sendo a evolução de sua recuperação.