Geral
Vida de concurseiro exige dedicação e abdicação
Bernard, Thiago e Gustavo se conheceram no ensino médio e sempre que conversavam sobre o futuro, não se imaginavam fazendo concursos. O tempo passou e o trio percebeu que se tornar funcionário público seria uma boa ideia.
Assim, os rapazes concluíram o que muitos jovens definem como futuro promissor: construir uma carreira que garanta estabilidade. Focaram na preparação para concursos a fim de transformar os sonhos em projetos, arregaçando as mangas para concretizá-los.
Quem não almeja um emprego com segurança e um bom salário? Afinal, trabalhar duro todos os dias e ganhar o que não supre as necessidades é a realidade da maioria dos trabalhadores do setor privado.
Porém, assumir um cargo público não é fácil, os concursos são muito concorridos e tem gente se preparando o ano inteiro. Mas vale o esforço. É o que garante Bernard Wilson Schinaider Leite, de 22 anos. O lageano foi aprovado no primeiro concurso que fez. É bancário no Rio Grande do Sul e está cursando graduação em Administração. Está casado, já comprou apartamento e está prestes a ter a primeira filha
Bernard fez o concurso em 2015, disputando com os mais de 120 mil inscritos, as 300 vagas disponíveis. Até o terceirão, Bernard não sabia o que escolher como profissão. Bateu cabeça e se cobrava bastante.
“Sempre fui muito focado nos meus estudos, quando cheguei no terceirão, em 2013, com 17 anos, como muitos jovens nessa etapa, não tinha a mínima ideia do que eu queria para o meu futuro”, explica ele. O bancário decidiu não fazer faculdade naquele momento, por não ter a certeza que faria a escolha certa. “Decidi realizar cursos técnicos no intuito de experimentar e descobrir minha vocação.”
Embora tenha uma profissão que lhe faça feliz em todos os aspectos, Bernard ainda quer mais. “Meu maior objetivo ainda é o Banco Central, mas farei esse concurso quando estiver formado na faculdade, enquanto isso, vou me preparando aos poucos para ter uma boa base”, argumenta.
Hoje, Bernard é escriturário em uma agência de interior, na cidade de São José dos Ausentes/RS e desenvolve atividades de atendimento ao público geral, direcionado aos produtores rurais (financiamentos para atividades no campo). Logo, ele pretende trabalhar em uma unidade da direção-geral, em Porto Alegre. “O banco proporciona ao funcionário a chance de crescimento, e é isso que busco, diariamente”, salienta.
“Olhando na internet vi uma notícia referente a concursos públicos e o quão almejados eram, então, me despertou interesse. Fui atrás de mais informações sobre concursos, de como funcionava, requisitos e etc. Foi aí que decidi que seria isso que eu queria: ser concurseiro, ter uma carreira sólida, com bom salário e talvez uma das coisas mais importantes: estabilidade.”
Horas de dedicação
Uma coisa os concurseiros descobrem rapidinho. Sem planejamento e organização, dificilmente conseguem passar em concursos concorridos. Cada um a seu modo, monta uma rotina de estudos e com o tempo acaba adaptando-a, porque surgem novas demandas. O certo é que deve haver muita dedicação e, principalmente, abdicação. “Fiz meu planejamento, uma grade de horários super rígida. Houve quem achasse exagerado tudo aquilo para um concurso. Nesta grade tinha horários para acordar, tomar café, tempo máximo até chegar ao trabalho e para voltar, até para o banho e, o mais importante, para o estudo”, detalha Bernard.
Por vezes, passar num concurso não significa que é hora de relaxar. Bernard, por exemplo, foi aprovado para trabalhar no Banrisul e foi convocado quase dois anos após a realização da prova.
Ele quer ser delegado
Gustavo Olivo Manfioletti, de 22 anos, é estagiário na Vara da Infância e Juventude da Comarca de Lages. Cursa a 8ª fase de Direito. O morador do Bairro São Cristóvão se prepara há quatro anos e já tem vasta experiência em concursos. Ele já viu seu nome em lista de aprovados.
O primeiro foi o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no qual classificou-se em 11º lugar tendo sido nomeado para trabalhar nessa fundação pública, onde ficou por cerca de um ano e meio.
Gustavo já obteve outros bons resultados, a exemplo da 14ª colocação no concurso do IGP/SC, para o cargo de auxiliar criminalístico e, recentemente, a 9ª posição no concurso da Udesc. E outros como, Caixa Econômica Federal; Polícia Civil de Santa Catarina; Polícia Civil do Rio Grande do Sul; Policia Civil do Paraná; Defensoria Pública de Santa Catarina; dentre outros).
O acadêmico tem duas rotinas de estudo: uma a longo prazo e outra focada em alguma prova de concurso com edital aberto para a área de sua preferência, a polícia. “Quero ser Delegado da Polícia Civil. Uma meta de longo prazo construída não em alguns meses, mas sim em anos de árduo e ferrenho estudo, foco, resiliência e humildade,”
Gustavo disse que tem um segredo. Não basta estudar apenas uma vez determinado assunto e achar que vai lembrar-se dele no dia da prova. “O segredo está em fazer revisões semanais e resolver mais questões sobre esse assunto, assim, no dia da prova, o conteúdo vai estar fresco na memória.”
O rapaz diz que, definida a área de preferência, deve-se determinar uma rotina. Observa que no começo é muito complicado adquirir ritmo de estudos. “Então, vá com calma, comece estudando duas horas por dia e vá aumentando gradativamente”,sugere.
Aconselha a iniciar os estudos usando videoaulas, porque, segundo ele, vai ser muito mais fácil assimilar o assunto com um bom professor explicando. Após, parta para os livros e aprofunde o assunto cada vez mais. Sempre se mantenha motivado, focado e cumprindo um dia de estudo por vez.”
“Abri mão de muitas coisas, sendo que a principal delas é não poder dedicar mais tempo do que gostaria às pessoas que zelo. É uma vida de privações em prol de um objetivo; abdicação de viagens com a família, encontros com os amigos, relacionamentos e até empregos, a fim de poder amadurecer mais a cada dia e estar mais próximo do objetivo.”
Thiago se interessa pela área de segurança pública
Thiago Souza Wolff de Oliveira, 22 anos, estudante, graduando em Direito se prepara quase todo dia e tem bom retrospecto: foi aprovado em dois concursos. Para ele, não há uma época certa para fazer concurso. Diz que tudo depende da área escolhida pelo candidato (tribunais, segurança pública, carreiras administrativas).
Ele se interessa pela área de segurança pública. Para isso, elabora um ciclo de estudos revezando as matérias. Thiago também está ciente que estudar para concurso obriga a abrir mão de muito lazer com a família, amigos e até namorar.
Tem de cumprir com disciplina o plano de estudos, todavia, não se pode negligenciar por um todo o convívio social. “Todo mundo precisa de uma válvula de escape. Utilizo exercícios físicos e encontros com amigos ao final de semana como recompensa de uma semana fielmente executada com seriedade e disciplina”, garante.
Thiago explica que não existe fórmula mágica: Tem que sentar e estudar. Para ilustrar, os que defendem, o rapaz parafraseia o professor de Direito Constitucional João Trindade que diz “O que faz passar em concurso é a simpatia do concursando, a qual em toda noite de lua cheia, crescente ou minguante, senta a bunda na cadeira e estuda, nunca vi alguém não passar, o que faz passar são horas de bunda na cadeira’. Portanto, aconselha o acadêmico: “se queres realmente ser um servidor público, escolha um cargo que tenha afinidade e admiração, pesquise o edital do último concurso e comece a estudar”.
“Estude! Seja resiliente e paciente. Hodiernamente vivemos em uma fase de profissionalização no mundo dos concursos. Há muitos cursinhos, materiais em PDFs, coaches e livros para cargos específicos. O acesso a material bom e de qualidade ficou muito mais fácil e, como desdobramento lógico disso, o nível da concorrência ficou muito maior”.
Dicas de preparação
O que fazer
Não espere o edital ser publicado para começar a estudar, porque o tempo entre a publicação do edital e a prova é curto (em torno de dois meses) e muitas matérias precisam ser vistas. Portanto, prepare-se com antecedência.
Objetivo
Escolha a área de concursos que lhe interessa. É preciso ver o tipo de atividade, a faixa salarial e outros aspectos, para fazer uma escolha consciente.
Ferramentas
- Procure um curso preparatório que se ajuste ao seu perfil. No curso presencial você vai se sentir mais apoiado, porque vai encontrar pessoas que vivem um projeto parecido. Já o curso pela internet ajuda a economizar tempo de deslocamento e funciona bem para quem tem horários irregulares de estudo, por conta de trabalho. Se forem de qualidade, os dois tipos de curso oferecem ótimo resultado e facilitam a compreensão das matérias.
- Também é importante ter um bom material de consulta. Os livros específicos para concurso são mais indicados do que os de faculdade, porque abordam a matéria de forma objetiva e de acordo com o que vem sendo cobrado nos concursos. Observe se há exercícios didáticos sobre os tópicos abordados, porque são muito úteis durante o estudo.
- Mais recentemente, surgiram os materiais em arquivos PDF. São mais leves do que os livros e mais diretos do que as aulas em vídeo.
- É possível fazer um curso presencial completo e alguns módulos de reforço pela internet ou o inverso. O mesmo se aplica aos materiais escolhidos.
Organização
Organize a rotina de vida para sobrar tempo para estudar, além de assistir às aulas. Um quadro de horário ajuda bastante. Comece pelas matérias básicas da área que você escolheu e estude todas de forma alternada, reservando tempo para cada uma a cada semana ou, se você tiver pouco tempo para estudar, a cada duas semanas.
Assim, você estará apto a participar de vários concursos, em vez de se preparar para somente um, e terá um patamar de conhecimento que facilitará a compreensão de outras matérias que virão depois.
Resistência
Projetos como o de conquistar uma vaga no serviço público demoram algum tempo para serem concluídos. Dificuldades podem surgir no percurso. É natural enfrentar dúvidas nas matérias, falta de tempo, cobranças, falta de dinheiro, cansaço e medo. Todo candidato passa por isso. Mas é preciso buscar soluções ou contornar os obstáculos, e continuar estudando.
Fonte Lia Salgado colunista do G1