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Terapia de quatro patas traz saúde e arranca sorrisos

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Foto: Susana Küster

Ao entrar em um leito de hospital, normalmente vemos pessoas acamadas, com soro, apáticas, dormindo ou com aquele olhar triste de quem não quer estar ali. Risadas e brincadeiras não são algo comum de se encontrar nesses ambientes tão silenciosos.

Mas, um programa vem mudando essa realidade, graças a seres simpáticos de quatro patas. O Cãoterapia possui cerca de dez voluntários, que levam seus cachorros para animar as crianças e adolescentes internados no Hospital Infantil Seara do Bem, em Lages.

O programa ajuda na recuperação dos pacientes. Um dos exemplos citados pelos voluntários, é o caso de um menino que depois de um dia que brincou com um cachorro, seu organismo começou a responder melhor aos medicamentos, foi mais receptivo com os médicos e otimista com o tratamento. Não é a toa que, também, leva o nome de terapia assistida por animais. 

Samuel Oliveira Moraes, 10 anos, abriu um grande sorriso quando viu a cachorrinha chamada Dama, como a personagem do filme “A dama e o vagabundo”. Diz que sentiu melhor ao dar carinho nos cães, que achou bem bonitinhos.

Sua colega de quarto, Beatriz Borges, 4 anos, que tinha sido internada devido a uma convulsão, ficou com dois cães em cima da sua cama. Revezava os carinhos entre um e outro. “Achei muito legal, me diverti muito”.

A mais interessada na visita dos cães foi Helena Dressel, 3 anos. Ela não queria largar um deles, chegava a posar para fotos. Sua mãe, Jaqueline Dressel, conta que a filha é internada com frequência devido a um problema pulmonar e sempre fica animada com a visita dos cães.

Se engana quem pensa que a visita dos animais somente arranca sorrisos das crianças, dos adolescentes e seus responsáveis. Quando os cães chegam no colo dos voluntários, os funcionários também se animam. Eles servem também para quebrar a rotina do ambiente.

Todos os dias, algum voluntário vai até o hospital com seu cão. Em datas comemorativas, como Páscoa, Dia das Crianças e Natal, todos se reúnem e vão ao local. Setores como UTI e a ala de queimados, não recebem a visita dos animais. Antes de entrarem nos quartos, o voluntário pergunta se as pessoas que estão no local, querem receber o cão. 

Para quem está se perguntando sobre a higiene do ambiente hospitalar, devido a visitação dos cães, não precisa se preocupar. “Todos são de porte pequeno e dóceis. Tomam banho no dia da visita ou na data anterior, não caminham no chão do hospital, são treinados para não fazer as necessidades fisiológicas em ambientes fechados, e têm as patas limpas sempre quando saem de uma maca e vão para outra”, explica o coordenador do programa, Fabiano Salbego. Os cães também possuem todas as vacinas em dia e são vermifugados. 

O programa está se expandindo para os asilos do município e também para algumas escolas. Com os estudantes, a ideia é mostrar como é importante cuidar da saúde e bem estar dos animais, para que tenham uma posse responsável e o abandono diminua nas ruas de Lages.

Os animais beneficiam no tratamento de várias doenças

O benefício terapêutico dos bichos já vem sendo observado há algum tempo. Em 1955, no Brasil, a psiquiatra Nise da Silveira relatou os benefícios desta interação no convívio de seus pacientes esquizofrênicos com cães e gatos adotados pela instituição onde trabalhava.

Diversos problemas infantis podem ser melhorados com o convívio com animais. Um exemplo é a melhora no quadro de portadores de autismo. “Elas têm muita dificuldade no contato social e a simples presença de um animal treinado associada a atividades adequadas para eles auxiliam nesse desenvolvimento”, relata Paula Lopes, neuropsicóloga da Associação Brasileira de Hippoterapia e Pet Terapia (Abrahipe) e do Centro de Reabilitação Gessy Evaristo de Souza. 

Estudos mostram que as crianças autistas apresentam diminuição nos comportamentos negativos, como agressividade, alienação, isolamento, dentre outros com a presença de cães nas seções, por exemplo. Idosos que possuem o mal de Alzheimer, também são beneficiados. O contato com o animal proporciona alguns benefícios que podem ajudar na diminuição do impacto emocional desta patologia. Dentre os benefícios, estão a melhora do humor, relaxamento e diminuição da agressividade e do estresse, proporcionados pela doença.

Alívio para pessoas com câncer

Pessoas em tratamento para o câncer conquistam uma grande melhora terapêutica no convívio com animais, com uma série de benefícios. “Dentre eles podemos citar a maior interação com os profissionais envolvidos no tratamento, alívio da dor e desconforto, redução da ansiedade e de sintomas depressivos, diminuição da sensação de solidão ocasionada pelo tratamento, dentre outros…”, lista Cristiane Blanco, psicóloga do Instituto Nacional de Ações e Terapia Assistida por Animais (Inatta).

Auxilia pacientes cardíacos

Há uma literatura médica extensa sobre a relação entre animais e o tratamento de doenças cardíacas. Uma pesquisa realizada pela Baker Medical Research Institute comprovou que proprietários de cães e gatos apresentam taxas menores de colesterol e triglicérides que aqueles que não tinham animais. Ambas as taxas favorecem a aterosclerose, formação de placas que entopem as artérias, possibilitando infartos e outros problemas no coração. Além disso, ter um animal de estimação faz com que pacientes com maiores riscos de problemas cardiovasculares, por apresentarem fatores de risco como fumo e excesso de peso, melhoram seus hábitos ao possuírem um animal de estimação.

Reduz o estresse

É comprovado que o contato com os animais ajuda a liberar diversos hormônios do bem: endorfinas beta, prolactina e ocitocina. Eles todos atuam regulando as taxas de cortisol, hormônio relacionado ao estado de alerta, o que reduz o estresse. A psicóloga Laís Milani, da Inataa, relembra outros benefícios: “Estudos indicam que a interação homem-animal traz uma sensação de bem-estar e conforto, resultando na diminuição dos níveis de adrenalina, relacionado ao aumento da pressão arterial”. Além disso, essa convivência libera outro hormônio, a acetilcolina, que está relacionada ao estado de tranquilidade, diminuição da pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória, todos sintomas do estresse.

Melhora o quadro de depressão

É um consenso entre os especialistas que estar com um animal de estimação aumenta a autoestima, senso de valor próprio, o estabelecimento de hábitos positivos e o interesse pelo outro. Tudo isso pode beneficiar pacientes depressivos, que apresentam problemas nessas áreas. “Estudos verificaram um aumento da produção e liberação da serotonina e dopamina, hormônios responsáveis pela sensação de prazer e alegria, após 15 a 20 minutos de interação com o cão”, reitera a psicóloga Cristiane Blanco.

Ajuda no tratamento de paralisias

A pet terapia pode ajudar na reabilitação de pacientes de um derrame cerebral, vítimas de acidentes ou portadores de paralisia cerebral, dentre outros quadros que envolvem a paralisia. São casos que envolvem muita fisioterapia e também uma queda de autoestima dos pacientes, portanto a interação com os bichos pode ser fundamental para evoluir a parte motora e também atuar no aspecto emocional do paciente. As crianças com paralisia cerebral se beneficiam demais, principalmente nos aspectos cognitivos, motores e emocionais, relata Paula Lopes, neuropsicóloga da Associação Brasileira de Hippoterapia e Pet-Terapia. Os cães, por exemplo, podem ser usados durante os exercícios, inclusive o que tira o foco do tratamento para a doença, e o torna uma brincadeira, mesmo para o adulto.

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