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Retirada do monumento a Getúlio Vargas ainda é dúvida

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Nesta semana, iniciaram-se os trabalhos de revitalização da Praça João Ribeiro, em frente à Catedral Diocesana de Lages. A empresa Terra Engenharia é a responsável pelas obras. Por se tratar de um local que tem no seu entorno patrimônios históricos tombados, como três casarões do século XX, além da Prefeitura e da Catedral, não é obrigatório, mas indica-se que o projeto seja submetido à Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Até terça-feira (26), a entidade não havia recebido o projeto e encaminhará e-mail, pedindo informações. Entretanto, a Fundação Cultural de Lages (FCL) informou que será feita a comunicação oficial à FCC.

“Agradeço a vocês pela preocupação com isso, mas pode ter certeza que estamos fazendo tudo dentro da lei”, disse o superintendente da Fundação Cultural de Lages (FCL), Gilberto Ronconi, informando que a Fundação Catarinense de Cultura será informada sobre os detalhes do projeto. 

Na tarde de segunda-feira (25), o prefeito de Lages, Antonio Ceron, o secretário de Planejamento e Obras, João Alberto Duarte, e representantes da Terra Engenharia reuniram-se para decidir o que será feito. Ficou definido que o projeto inicial será mantido, e contará com a substituição das calçadas e de todo o piso por pedra basalto, a mesma da Praça João Costa. A Iluminação será em led e as árvores serão mantidas. O estacionamento em frente à Secretaria de Assistência Social será retirado para dar mais espaço aos pedestres. Com relação ao monumento do Getúlio Vargas, o prefeito vai se reunir com o arquiteto idealizador do projeto, João Preto Argon de Oliveira, para discutir a medida correta a ser tomada.

O monumento 

Ponto mais polêmico desta intervenção refere-se ao monumento em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas, que está na Praça, desde 1958. A questão deste monumento está bastante ligada à memória afetiva das pessoas, porque muitas gerações brincaram no local. 

Segundo o superintendente da FCL, há a possibilidade de o busto e a estrutura em ferro serem deslocados. Nesse caso, a estrutura de concreto seria destruída. Entretanto, disse, também, que pode não haver intervenção e o monumento ser revitalizado. “Não está definido ainda. Trabalhamos com plano A e plano B, podemos manter como está e, se for necessário deslocar, permanecerá na praça”, afirmou. 

História da praça e do monumento 

Uma planta da cidade, com data de 1796, 30 anos após a fundação da póvoa de Lages, disponível no Museu Histórico Thiago de Castro, mostrava a Praça da Igreja, hoje Praça João Ribeiro. O espaço remete à fundação de Lages, assim como a Praça João Costa. Em 1958, o local recebeu um monumento em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), que cometeu suicídio em 1954.  

Inaugurado em 26 de setembro de 1958, teve a presença do então vice-presidente da República João Goulart (PTB). O monumento foi idealizado pelo arquiteto João Argon Preto de Oliveira e o Correio Lageano acompanhou as tratativas para a colocação. O jornalista Névio Fernandes lembra de estar na reunião, no gabinete do prefeito Vidal Ramos Júnior, quando decidiu-se o local. Os integrantes do PTB apoiaram a ideia, afinal, Getúlio era o símbolo do trabalhismo, defendido por eles. 

A opinião da FCC

A praça não é tombada. O diretor de Patrimônio Cultural da Fundação Catarinense de Cultura, Diego Minks Rossi Fermo explica que os tombamentos realizados na década de 1990 visavam ao tombamento desse conjunto, embora, os tombamentos sejam por unidade. São três casarões, a Catedral e a prefeitura. “A Catedral tem esse adro, no entorno, que é o espaço fronteiriço, em algumas situações se amplia para a praça. A praça, de alguma maneira, é indissociável daquele espaço. Os casarões estão expostos de uma maneira tal que conformam a praça, e ela é entendida como um elemento que precisa ter o nosso acompanhamento também”, conta.

Ele comenta que, muito embora não seja obrigatória a aprovação do projeto de revitalização da praça, é importante o acompanhamento da FCC. “Fato é que, dependendo do que se vai colocar, pode-se alterar, volumetricamente, a estrutura e aí gerar perdas visuais a quem está num lado da praça, ou no interior da praça, em relação aos imóveis tombados no seu redor”, argumenta. 

Em relação ao monumento em homenagem a Getúlio Vargas, a FCC recebeu um pedido, em 2015, para a retirada dele e a colocação na Praça da Imprensa, que fica no início da Avenida Presidente Vargas. Na época, o parecer da entidade não se opunha, “muito embora entendêssemos que o projeto precisava da nossa ciência para informar de que maneira retirariam a estrutura e como transportariam, garantindo a integridade.” A manutenção do monumento, segundo o diretor, se dá por conta da produção do espaço da praça, faz parte de um determinado momento do espaço e de alguma maneira interagiu com as pessoas que por ali transitaram. 

“O monumento não interfere na visualização dos bens tombados, inclusive a catedral. “A manutenção dele ali não era um problema.” 

Segundo a FCC, não houve convite para vir a Lages tratar desse assunto, e nas vezes que estiveram aqui não foram informados de qualquer encaminhamento nesse sentido. “Seria importante a FCC ser ouvida, minimamente.”

IAB se posiciona 

O Instituto de Arquitetos do Brasil, núcleo Lages, por meio de uma nota assinada pelo vice-presidente Rafael Marcos Zatta Krahl, comentou as recentes intervenções no espaço urbano na cidade. Segue trechos da nota:

“[…] que se deve considerar a respeito do Patrimônio Cultural lageano, de modo geral, é que a ausência de participação da comunidade (população, acadêmicos e profissionais) na tomada de decisões sobre esse assunto gera, na maioria das ocasiões – e, isso historicamente se comprova – narrativas de apenas um ponto de vista e, por consequência, perdas irreparáveis ao patrimônio. Edificações em bom estado de conservação já foram demolidas sob justificativas baseadas em suposições ou apenas vontades políticas e interesses econômicos de pequenos grupos com o poder de decisão. Mas não cabe a nós apontarmos culpados ou retomarmos situações que, hoje, infelizmente não podemos reparar. […] Por fim, o IAB Núcleo Lages defende que as mudanças em nossa cidade possam ser capazes de envolver a comunidade no processo, sendo preciso para isso: ouvir, primeiramente; pensar as questões com uma visão multidisciplinar; desenvolver soluções técnicas que possam atender àquilo que se demanda em concordância com a realidade de seu contexto; por fim, respeitar os projetos propostos a partir desse processo participativo. Assim, através de uma postura ética, honesta, consciente e com engajamento, podemos contribuir para uma cidade viva, que cria seu futuro, sabendo carregar consigo suas raízes.”

Nota na íntegra:

Patrimônio Cultural paisagístico, arquitetônico e urbanístico em Lages

 

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