Economia e Negócios

R$ 165 mil só na compra de pinhão

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Lages, 03/06/2010, Correio Lageano

 

O primeiro projeto de sociobiodiversidade do Sul do Brasil foi assinado ontem, para formar uma reserva de mercado do pinhão e seus subprodutos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) garantirá a comprar 65 toneladas de pinhão e aos produtores rurais caberá entregar o produto.


A efetivação do negócio se deu em encontro da Ecosserra com produtores rurais de toda região da Amures e até de Campos Novos e Fraiburgo. Eles formaram a denominada Cédula de Produtor Rural (CPR) e assumiram um contrato no valor de R$ 165 mil, em que a Conab se compromete absorver a produção. O documento prevê um teto de até R$ 8 mil por família de agricultor e será pago R$ 1,12 por quilo de pinhão.


Natal Magnanti, membro da diretoria da Ecosserra, explicou que a região passa a viver uma nova realidade no extrativismo do pinhão. “Agora deixaremos de vender o pinhão de forma in natura e passaremos a agregar valor. Uma agroindústria de pinhão, em Urubici, vai se encarregar da moagem do pinhão”, informou.


A experiência da sociobiodiversidade envolve o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. E permitirá que uma parte do pinhão colhido na Serra Catarinense seja comercializado de forma organizada e com valor agregado. O projeto fará frente a uma realidade em que, mais de 90% do pinhão colhido na região é vendido sem nota fiscal.


O Centro de Socioeconomia de Planejamento Agrícola (Cepa) aponta que o município que mais emite nota fiscal de pinhão no Estado é Santo Amaro da Imperatriz. Os atravessadores compram o pinhão nos municípios serranos sem nota e a partir de Santo Amaro emitem nota como se a origem do produto fosse deles. E barrar essa realidade é uma das propostas da sociobiodiversidade. Assim como isentar o pinhão da tributação de ICMS, como ocorre com a maçã.


Hoje, a realidade do pinhão é completamente dispersa. Não se sabe o volume de produção, o número de produtores, de catadores e a diversidade. Um exemplo é o produtor rural Elias Misturi, da localidade de Farofa, em Painel. Este ano ele colheu 80 sacos de pinhão e deixou cerca 20 sacos de pinhão espalhados pelos pinheirais para a natureza. “Em média 20% é para os animais silvestres. É um volume que amadurece e cai do pinheiro e não é catado”, afirma.


O contrato com a Conab foi comemorado pelos produtores. No caso do produtor Misturi, ainda tem uma reserva de oito mil pinhas para entregar pelo novo convênio. Na safra deste ano, ele colheu cerca de 300 pinheiros e salientou que a formação de estoque pela Conab é uma maneira de valorizar o trabalho do produtor.


O que defende Misturi é que o pinhão é conhecido de todos, mas poucos sabem o trabalho que dá sua colheita. O risco de acidente e o desgaste físico. O superintendente substituto da Conab, Vilmar Barbosa Dutra, disse que a proposta é a sustentabilidade do preço do pinhão e a garantia de rentabilidade ao produtor.


“Esse projeto tem a ideia de agregar valor, organizar a produção e evitar os especuladores”, frisou Vilmar Dutra. Tanto que a Conab poderá aumentar o volume de compra como faz com outras culturas. O pinhão a ser comprado pela Conab vai para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e chegará à mesa dos catarinenses nas mais diferentes regiões.


Só este ano, o PAA deve investir R$ 1,5 milhão em aquisições e grande parte deste dinheiro pode parar no bolso dos produtores de pinhão.

 

fotos: Daniele Melo e Onéris Lopes