Geral
“Qualquer lugar é melhor que na Venezuela”
No primeiro semestre deste ano, mais de 300 estrangeiros foram atendidos pela Polícia Federal de Lages. A venezuelana Hanameel Elena Perez Mendonza, de 31 anos está entre eles. Há três anos no Brasil, ela estava em Indaial e se mudou para Lages de onde não pretende sair. Advogada, relata que na sua terra natal não ganhava nem para a comida e agora sua meta é trazer os pais e um irmão. “Qualquer lugar é melhor que na Venezuela,” diz ela em tom de desabafo.
Hanameel foi a primeira de sua família a sair da Venezuela. A moradora de Caracas é formada em Direito e trabalhava com direito mercantil, mas o que ganhava não dava para suprir suas necessidades básicas. Quando chegou ao Brasil se instalou em Indaial e seu projeto era montar uma chocolateria, mas alega que a burocracia dificultou a abertura da empresa.
Assim, para sobreviver, ela passou a produzir biscuit, atividade que também realizava na Venezuela, mas as vendas eram fracas.
No Brasil, conheceu um homem da Alemanha com quem teve o Christopher. O garoto está com um ano e nasceu em Lages. Hanameel foi aconselhada pelo companheiro a vir para Lages quando estava grávida. “Ele disse que aqui a vida era melhor, o clima mais agradável e o povo caloroso”, explica.
Antes de vir para Lages, ela se separou e saiu do Brasil com destino ao Peru. Lá as coisas não deram certo e ela voltou para reclamar os direitos do filho.
A venezuelana foi acolhida numa chácara de uma amiga brasileira, no interior de Lages, a Dayane Perotoni. Ficou um ano e, nesse tempo, conseguiu comercializar seus biscuits. Há menos de dois meses, buscando independência, mudou-se para o Bairro Araucária, numa casa geminada que abriga outra família.
“Vivo com a pensão de um salário mínimo do meu filho e das vendas dos artesanatos”, explica. Da pensão, tem que tirar o aluguel, R$ 150, as despesas regulares e as necessidades dos filho, como fralda, remédio e coberturas de imprevistos.
Apesar da renda curta, Hanameel disse que se sente feliz e segura pela decisão que tomou. “Qualquer coisa é melhor que na Venezuela”, reforça a mulher, relatando os momentos de horror que vivenciou no seu país. Viu pessoas morrerem de fome.
“A comida, principalmente começou a subir muito, mesmo assim, havia esperança de melhorar. Como a situação não melhorou, nos últimos cincos anos as pessoas deixaram o país”. Ela avalia que saiu antes de a crise se agravar. “Com o meu salário não conseguia nem comprar comida. Nada”.
Até os produtos para confeccionar os biscuits encareceram ou sumiram das prateleiras. “As matérias-primas não eram liberadas e quando encontrava, os valores eram absurdos, alta de mil por cento. E quando conseguia produzir não tinha para quem vender”, conta.
Assim que conseguir emprego, ela quer trazer os pais
A família de Hanameel tem casa própria em Caracas, mas vai vender barato para fugir da ditadura do presidente Nicolas Maduro. “As pessoas vendem suas propriedades por valor muito baixo, para ter um pouco de dinheiro e sair”. A situação está tão difícil, que quando os carros estragam ficam nas garagens, porque as peças para reposição são muito caras.
A advogada planeja alocar os pais e o irmão na casa de quatro cômodos. Por enquanto, a mãe deve cuidar do neto até que abra vaga na creche do bairro. Na Venezuela, a mãe que tem 54 anos fazia faxina e o pai, de 57, vai tentar colocação como eletricista-industrial.
Ela é a filha mais velha de quatro irmãos. Uma de suas irmãs estava com o marido e o filhinho em Roraima e aconselhada por Hanameel se mudou para Lages. Ela também alugou casa no Bairro Araucária. Assim como Hanameel eles estão esperando uma oferta de trabalho.
O que preocupa a família Mendonza é que a vinda de seu compatriotas para a região diminuem as chances de emprego, o que pode forçá-los a se mudar em busca de oportunidades. Mas nem passa pela cabeça dela sair do Estado, tanto que ela tem um canal no Youtube que se chama traveldiversity e fala das belezas de Santa Catarina.
Maioria entra pela fronteira seca
Quase todos os dias, estrangeiros vindos de várias partes do mundo buscam refúgio ou pedem autorização de residência na Polícia Federal em Lages. Porém, o fluxo migratório é, na maioria das vezes, de pessoas que moram em países fronteiriços. Somente no primeiro semestre deste ano passaram pela PF mais de 300 pessoas em busca de regularização da situação no Brasil.
Foram 74 solicitações de refúgio (todas as nacionalidades) e 234 registros (autorização de residência e registros de vistos).
Os refugiados usam quatro meios para entrarem no país e a condição terrestre fronteiriça lidera as estatísticas. Os venezuelanos geralmente entram por Roraima, o que representa 62,64% das opções. A entrada aérea compreende 37,20% do meios utilizados. Pelo mar a entrada representa 0,01% e o meio fluvial alcança 0,15%. São dados apontados pela PF de 2017 a maio de 2019.
Milhares no Brasil e 10 em Lages
Desde antes de 2015, os venezuelanos fogem do regime de Nicolas. O agravamento da crise fez subir os números para 170 mil pessoas que já se retiraram do país petroleiro. Nos primeiros seis meses deste ano, 10 venezuelanos cruzaram a fronteira e vieram para Lages. Nesse período, seis pediram solicitação de refúgio e quatro autorizações de residência.
O responsável pelo Setor de Imigração da Polícia Federal em Lages, Thales Brasil, explica que a solicitação de refúgio compete ao Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) julgar. Leva um bom tempo para apreciar o pedido e emitir uma decisão. Já a autorização de residência é aprovada no momento do atendimento e encaminhada imediatamente para a expedição da Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM).
Santa Catarina é sétima colocada
O delegado chefe da delegacia de Imigração do Estado de Santa Catarina, Alessandre Mauro Tomaz, disse que o fluxo de estrangeiros em Santa Catarina é intenso. Ele, que trabalha com gerenciamento, não consegue precisar o número de estrangeiros que pedem refúgio ou residência no Estado.
Garante que o acolhimento acontece da melhor forma possível. Também reconhece que como em quase todos os órgãos públicos, a exemplo da PF, há carência de efetivo para resolver todos os problemas.
A polícia tem muito trabalho a fazer este ano, sobretudo porque o Estado aparece na sétima colocação quando o assunto é acolhimento de venezuelanos. Roraima abre a lista com 46.632 refugiados, São Paulo vem em segundo com 7.986, o Amazonas figura na terceira posição com 6.262. Já o Rio de Janeiro acolheu 3.704, o Paraná refugiou neste período 2.021 pessoas enquanto que, o Rio Grande do Sul soma 1.368. Santa Catarina é responsável por abrigar 1.365 pessoas.
São mais de cem mil solicitações no Brasil
As solicitações de refúgios ativas e inativas colocam a Venezuela entre as nações que mais procuram o Brasil. Também procuram a Polícia Federal para legalizar seus documentos, haitianos, cubanos, angolanos, sírios, indianos, chineses, ganeses, nigerianos entre outras nacionalidades Dados são do site da PF de Brasília.
Fonte: Site da PF (base: maio)
Solicitações
- Venezuela: 104.244
- Haiti: 62.193
- Senegal: 9.340
- Cuba: 6.007
Bilionário se sensibiliza com condições dos refugiados
O bilionário Carlos Wizard Martins vendeu sua rede de escolas e idiomas para um grupo britânico Paerson. A intenção é ter tempo para se dedicar junto com a esposa Vânia exclusivamente na força tarefa humanitária de acolhimento dos Venezuelanos.
O casal mudou-se em agosto de 2017 de São Paulo para a capital de Roraima, Boa Vista. Por fazer fronteira com a Venezuela, a cidade brasileira concentra muitos refugiados. Desde então, o casal tenta encaminhá-los e intermedia postos de trabalho, dando assistência às famílias no que elas necessitam para ficar no Brasil.
Ele criou uma rede de voluntários que ajuda com o essencial: uma casa para receber as famílias, além de roupas e alimentos. O empresário estabeleceu parceria com o fundador da Azul, David Neeleman, que ofereceu dezenas de assentos em voos para as viagens de refugiados a cidades brasileiras. Três meses depois, outras duas companhias aéreas, a Latam e a Gol, aderiram à iniciativa. “Sem gastar R$ 1,00, conseguimos transportar 4.000 pessoas pelo Brasil”, diz Wizard Martins.
Empregabilidade
O volume de emissão de carteiras de trabalho para migrantes ao longo do ano tem oscilado bastante, porém num patamar superior a 6,5 mil carteiras/mês, tendo sido março o mês de menor emissão, muito influenciado pelo fechamento da fronteira por parte do governo venezuelano.
Maio, com pouco mais de 8,2 mil CTPS emitidas, oscilou positivamente 64,4%, em relação ao mesmo mês do ano anterior, e 12,8% quando comparado a abril de 2019. Venezuelanos, haitianos e cubanos destacam-se entre as principais nacionalidades a obterem este tipo de documento.
Chama atenção a variação anual nas emissões para os cubanos, na ordem de 200,8% e de 12,1 no comparativo mensal. Essa é uma nacionalidade que, apesar de não representar um contingente muito expressivo de migrantes, vem sustentando uma tendência crescente no recebimento de CTPS.
Do ponto de vista da relação entre os sexos, nos últimos 12 meses, o volume de carteiras emitidas para mulheres saltou 96,1%, com elas experimentando a mesma evolução relativa dos homens na comparação mensal.
O mercado de trabalho formal para os migrantes movimentou um volume de trabalhadores superior ao mesmo período no ano anterior, embora, no balanço das vagas, maio de 2018 conseguiu gerar uma pouco mais de postos de trabalho para esse segmento.
Em relação a abril de 2019, a movimentação foi inferior e o saldo de vagas também foi inferior, 1.384 contra 270. Resultados que reforçam a volatilidade do mercado para força de trabalho migrante. Um dado interessante diz respeito à relação de gênero no mercado de trabalho.
Se no momento do acesso à CTPS a diferença é de quase 40% em favor dos homens, a participação efetiva na inserção laboral formal aponta uma assimetria muito grande, dado que a presença masculina é 2,7 vezes maior.
Haitianos e venezuelanos são as principais nacionalidades em volumes de movimentação, sendo que no mês de maio os nacionais da República do Haiti sofreram retração nos números de vagas, ao passo que os venezuelanos ampliaram 718 postos de trabalho. Esses, juntos com cubanos e colombianos, sustentaram o ligeiro balanço positivo no mês de maio.
As Regiões Sul e Sudeste foram as de maiores movimentações no mercado laboral para migrantes, mas com comportamentos distintos, dado que no Sudeste houve retração no número de vagas e no Sul a geração de emprego, que aliado ao desempenho da Região Norte, sobretudo no estado do Amazonas, asseguraram o resultado positivo no total do país.
Em relação à escolaridade, os profissionais com nível médio foram os mais preservados. A combinação desses dois resultados sinaliza que a maior idade e o baixo nível de instrução influenciaram diretamente no mercado de trabalho no mês de maio.
Os melhores desempenhos foram registrados para os trabalhadores ocupados como alimentadores de linha de produção e no setor de carne, ao passo que os balanços negativos foram distribuídos pelas diversas ocupações. Do ponto de vista do ramo de atividade, destacam-se positivamente os frigoríficos, com a geração de 167 vagas, e, contrariamente, restaurantes e similares, com a perda de 69 postos de trabalho.
Fonte site Polícia Federal * dados até maio deste ano