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O Dia da Mentira não é mais 1º de Abril

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Foto: Freepik

O 1º de Abril, conhecido por ser a ocasião em que muitos países celebram o Dia da Mentira, está perdendo o seu posto. Nesta data, ao longo de muitas décadas, sempre foi tradição pregar peças e contar mentiras. Na história mais recente, empresas aderiram à brincadeira e, neste dia, jornais e assessorias publicam notícias irreais, empresas anunciam lançamentos de produtos inimagináveis, dentre outras ações incoerentes, sempre com o intuito de fazer chacota e brincar com o público em geral. Mas o que é o 1º de abril ante a propagação imensurável das fake news que têm sido publicadas na atualidade?

Ninguém mais precisa esperar o dia 1º de abril para cair em uma pegadinha ou receber uma notícia falsa. Diariamente, recebemos por diversos meios, uma enxurrada de ‘mentirinhas’. Nas últimas semanas, notícias sem fundamento deixaram muita gente em polvorosa.

Por WhatsApp, foi propagada a informação de que trabalhadores que tiveram a carteira assinada entre os anos de 1995 e 2018 teriam direito a sacar um abono com valor superior a R$ 1 mil, até 31 de março, sem indicar o banco onde o saque deveria ser feito, tampouco dar subsídios para os “fatos” apresentados. A informação, assim como outras fakes, não citava uma fonte e redirecionava para um site, mas tudo era sem fundamento e não demorou muito para que os internautas detectassem a mentira.

Noutra pegadinha fora do Dia da Mentira, uma página de humor de Lages publicou uma notícia falsa que foi levada muito a sério. Noticiava que um lageano de 19 anos, vencedor de um concurso nacional de Física Quântica representaria o país nas Olimpíadas de Física. Um detalhe: a foto ilustrativa da ‘notícia’ era de um ator pornô. Uma brincadeira que pegou muitos desavisados de surpresa.

O dito popular afirma que “toda brincadeira tem um fundo de verdade”, mas a realidade diante da propagação de tantas notícias que beiram ao ficcional, pode muito bem inverter o ditado. Na atualidade, as mentiras podem até ter um fundo de verdade.

“As fake news da contemporaneidade se apossam de um fragmento da realidade factual e o distorcem, ocultando certos aspectos e destacando outros. De certa forma, é o que se fazia quando as mentiras tinham sentido de brincadeira. Já não é mais assim. É tão comum e disseminado que a propagação de fake news nos meios digitais pode levar nosso calendário a ter 365 dias como o 1º de abril, porque todo dia é Dia de Mentira. E essa não tem perna curta, porque vai muito longe”, analisa o jornalista e professor universitário, Luiz Henrique Zart.

Segundo ele, quando se trata de informação, a falsidade sempre existiu. Se em tempos passados ela era uma forma de adquirir poder, hoje não se pode dizer que seja diferente e os reflexos são inegáveis. Zart alerta que o propósito das fake news, ao contrário das pegadinhas do Dia da Mentira, é manipular, enganar, enviesar e tirar as informações de contexto.

“Elas são produzidas como em um caldeirão: com uma linguagem apelativa, cheia de adjetivos, geralmente recorrendo a uma ligação com alguma fonte confiável – às vezes copiando mesmo os sites de grandes jornais –, costuma colocar grandes personalidades em evidência, entre tantos outros aspectos. Se antes uma notícia era considerada verdadeira quando era muito difundida, hoje não se pode dizer que a repetição seja sinônimo de verdade. Muitas vezes, é justamente o oposto. Com as redes sociais, a propagação de distorções, de simplificações e outras estratégias de manipulação se evidencia. Tanto em grupos próximos, nos quais o compartilhamento de fakes ocorre com base na confiança, quanto na influência em contextos maiores, em muitos processos políticos e eleitorais pelo mundo – como foi aqui no Brasil, inclusive”, completa.

 

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