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Natureza, aves e fotografia, paixões reunidas num hobby

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Há 17 anos Tulio se dedica ao hobby de estudar e fotografar aves nativas e migratórias da Serra Catarinense - Foto: Núbia Garcia

Observar, estudar seus hábitos e registrar aves em fotografias virou um hobby levado muito a sério pelo médico Tulio Rogerio Vieira de Jesus, 74 anos. Desde 2002, quando fotografou as primeiras aves, ele já conseguiu capturar imagens de 159 espécies nativas e migratórias da Serra Catarinense.

Nos últimos quatro anos, quando começou a reduzir sua rotina de trabalho, passou a se dedicar ainda mais ao seu passa tempo. Ao longo destes 17 anos, além dos registros fotográficos, também tem colecionado histórias curiosas e engraçadas.

Apaixonado por fazer fotografias aleatórias de paisagens e pores do sol desde a juventude, Tulio descobriu o gosto por fotografar aves quando uma Saí Andorinha entrou no quarto do seu filho, em setembro de 2002, e ele precisou resgatá-la. A chamativa coloração de suas penas despertou a atenção de Tulio e aguçou a curiosidade para conhecer melhor o universo das aves.

“Sempre gostei muito de aves. Quando não existia regulamentação do Ibama sobre a criação de animais silvestres, eu costumava pegar ovos de ninhos que eu julgava estarem em risco e levava pra casa, pras galinhas chocarem. Quando eles descascavam e adquiriam independência, soltava na natureza novamente”, conta, em meio a risos, ressaltando que hoje não retira mais os animais da natureza e se contenta em admirá-los e fotografá-los.

Pica-paus, urubus, corujas, tico-ticos, chupins, tucanos, águias, papagaios e gaviões são algumas das espécies já flagradas pelas lentes de Tulio. Quando começou a se dedicar a este hobby, passou a ficar com o olhar e a percepção mais apurados, o que faz com que ele encontre as aves com mais facilidade e as identifique somente pelo voo e pelo bater das asas. Em certos momentos, até parece que as aves se sentem à vontade diante de sua presença, pois ele conta que é comum, quando senta na varanda de casa, que pássaros se aproximem e fiquem por perto.

Boa parte dos registros, feitos em todo este período, se transformou em um livro, publicado em 2014 e distribuído, modestamente, apenas entre os mais íntimos. “Quando a gente começa a observar as aves, enxerga com detalhes as coisas que a natureza faz, mas que nunca tinha prestado a atenção antes. O livro foi uma forma de eternizar este meu novo olhar sobre as aves e a natureza”.

Mesmo já tendo fotografado 159 espécies diferentes, tem uma que Tulio ainda quer registrar. Trata-se do urutau, conhecido como ave fantasma por causa de seu canto lamentoso, que deixa qualquer anoitecer no sítio um tanto sombrio. “Eu já ouvi o canto dele, mas não consigo identificar onde ele estava, porque ele se camufla na árvore e fica parecendo um tronco quebrado”

O resgate dos jacus

Dentre as inúmeras histórias que Tulio coleciona junto com suas fotografias, uma quase teve um final infeliz para uma família de jacus. Ele conta que, certo dia, um garoto da vizinhança, no interior de Capão Alto, passava em frente a sua propriedade com cinco jacus em uma gaiola de madeira.

Ele questionou o menino sobre o que faria com as aves e quando soube que o destino seria vendê-las para alguém em Lages que prepararia uma “jacuzada”, fez o que podia para impedir. “Eu perguntei quanto o homem pagaria e ele me falou que ia receber R$ 10 por cada uma. Eu ofereci R$ 15 pra ficar com eles e deixá-los vivos. Fiquei com eles aqui no sítio, estavam debilitados. Alimentei para que se recuperassem e devolvi na natureza. Hoje, tem muitos jacus aqui ao redor de casa que são descendentes daquele grupo que resgatei”, conta.

Os tucanos que salvaram árvores

O pátio do sítio de Tulio tem diversas espécies de árvores, e cada uma delas foi plantada com uma finalidade. O ligustro, por exemplo, é uma árvore exótica que é conhecida por seus pequenos frutos roxos e por não derrubar folhas, proporcionando uma agradável sombra em todas as estações. Os frutos roxos soltam uma intensa tinta, que mancha tecidos e, por isso, Tulio começou a cogitar derrubar os ligustros do seu terreno.

“São árvores com folha perene, que dão sombra, mas a madeira não pode ser utilizada como lenha, por isso eu estava estudando uma forma de derrubá-las. Certo dia olhei para uma das árvores e vi cinco tucanos comendo as frutinhas nele. Até então eu não tinha visto eles aqui no sítio. O resultado é que os ligustros sobreviveram por causa dos tucanos, pois encontrei uma finalidade maior pra elas, que é alimentar estas aves”, lembra.

Os tucanos, aliás, estão entre as espécies preferidas de Tulio. Um de seus registros mais belos, que virou capa do livro, foi de um tucano que se alimentou em um ligustro e comeu tanto, que resolveu sentar em uma bromélia, onde passou horas, provavelmente para descansar.

Um dos tucanos foi registrado depois de ficar estafado de tanto comer, enquanto descansava em uma bromélia – Foto: Tulio Rogerio Vieira de Jesus/ Divulgação

O urubu que driblou a regra de sobrevivência

Uma das árvores do sítio guarda consigo a história de um bonito resgate feito por Tulio. No seu pátio, existe um tronco que foi destruído por um raio e ficou oco. Certa vez, Tulio passeava a cavalo perto deste tronco e ouviu um barulho dentro dele. Ao verificar do que se tratava, encontrou um ouriço que caiu lá dentro e não conseguia sair, pois o tronco oco tem mais de um metro de profundidade. Com a ajuda de um funcionário, ele abriu uma “janela” no tronco, assim o ouriço pôde sair.

Passados cerca de três anos, Tulio encontrou, no mesmo local, uma ninhada com dois ovos de urubus, e decidiu acompanhar seu desenvolvimento. Em seus estudos sobre aves, ele aprendeu que entre as espécies de grande porte, a lei de que o mais forte sobrevive é uma regra.

Tulio conta que, algumas espécies, quando põem mais de um ovo e os filhotes nascem, o que for mais fraco vai, gradativamente, sendo abandonado e acaba sendo jogado para fora do ninho, o que faz com que morra de inanição. E foi o que aconteceu com os urubus que ele encontrou, quando saíram da casca.

Como acompanhava periodicamente o desenvolvimento dos filhotes, resolveu intervir quando observou que um deles estava definhando. “O que estava menor começou a ficar doente, então eu comecei a alimentar ele. Todo dia leva um pedacinho de carne. O filhote que era fraco começou a comer e se recuperou, alcançando o desenvolvimento do outro. No último dia que vi os dois sentados para o lado de fora do ninho, estavam dois ‘urubuzões’”, lembra. Crescidos e saudáveis, os dois irmãos logo voaram e deixaram seu ninho para trás.

Com a ajuda de Tulio, os dois filhotes de urubus se desenvolveram igualmente antes de aprenderem a voar – Foto: Tulio Rogerio Vieira de Jesus/ Divulgação

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