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Museu Thiago de Castro passa por vistoria completa
O dia 2 de setembro de 2018 não se apagará jamais das memórias dos brasileiros. Era para ser uma noite de domingo de descanso, mas o pesadelo só começava. Foi a data em que o Museu Nacional do Brasil, localizado na Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, Rio de Janeiro, incendiou.
Em torno de 90% do acervo histórico e científico viraram cinzas. Os três andares do edifício foram significativamente destruídos e o teto desabou. Somente as paredes de concerto resistiram, precariamente.
Até agora trabalha-se com a hipótese de o problema ter surgido a partir de um curto-circuito. Entretanto, não está descartada a possibilidade de ter sido um incêndio criminoso. A Polícia Federal (PF) segue nas investigações.
Com a fragilidade do assunto, museus de 15 Estados, além dos da União, estão passando por inspeções rigorosas a fim de coibir acidentes que ameacem a preservação de histórias locais, regionais, estaduais e nacionais, ou prejudiquem a integridade de funcionários e visitantes destes patrimônios. A iniciativa tem engajamento do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Em Lages, o Museu Thiago de Castro (MTC) foi selecionado para receber a vistoria, desempenhada na tarde desta quarta-feira (7 de novembro), por arquiteta do Ministério Público (MP) – 13ª Promotoria Regional do Meio Ambiente de Lages, Conselho Regional de Museologia (Corem) – 5ª Região e pela Seção de Atividades Técnicas (SAT) do Corpo de Bombeiros.
Cada órgão técnico realizou a análise na sua área de conhecimento e posteriormente expedirá um relatório, com encaminhamento ao MP. É uma verificação integral e abrangente, de estrutura física, acondicionamento de acervo e documentos previstos em lei pelo Estatuto dos Museus, orientação técnica, ficha de catalogação, livro-tombo e capital humano.
Os profissionais foram recepcionados e acompanhados pelo superintendente da Fundação Cultural de Lages (FCL), Gilberto Ronconi (Giba) e por historiadores do Museu, além da Secretaria de Planejamento e Obras, Procuradoria Geral do Município (Progem) e pelo Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). O sobrinho de Danilo, idealizador do Museu, Armando, apelido Jacaré, esteve presente nas atividades.
O promotor de Justiça da 13ª Promotoria, Antonio Júnior Brigatti Nascimento, corrobora a situação nacional e explica que o Ministério Público brasileiro iniciou uma campanha envolvendo 15 Estados e mais o Ministério Público da União, junto a outros órgãos técnicos, visando inspecionar as atuais condições dos museus dos Estados e nacionais.
“Em Santa Catarina, todos os museus serão vistoriados. Com os relatórios concluídos (oficiaremos que emitam em no máximo 30 dias), o MP então analisará o que poderá ser feito em cada segmento – se há pendência de reforma ou há falta de regimento interno, por exemplo, e aí o Ministério Público poderá futuramente emitir recomendações, ou firmar Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) ou ajuizar ação para que se efetivem as melhorias”, salienta o promotor.
Uma reunião então será promovida para haver deliberações sobre as soluções dos apontamentos. “O promotor elogiou a organização do Museu e parabenizou a qualidade e a riqueza do acervo. O Museu tem até um pergaminho em papiro, algo raríssimo de encontrar. Os profissionais reconheceram a habilidade e potencialidade em cuidar deste patrimônio”, argumenta Giba. Dos museus com proximidade geográfica ao Thiago de Castro, o de Itapiranga, no Extremo-Oeste, também passará pela força-tarefa de análises.
Preventivos de incêndio e de pânico
O enfoque dos Bombeiros no Museu foi a inspeção dos sistemas preventivos de incêndio e de pânico – presença, validade e funcionamento de extintores, hidráulico, iluminação de emergência, sinalização de abandono de local (saída de emergência), alarme.
O laudo físico é confeccionado nesta quarta mesmo. O digital deve ficar pronto até esta sexta (9). Para os sistemas vitais há prazos curtos, para atendimento das orientações sobre extintor. Iluminação e placas de sinalização de abandono de local é de 15 a 30 dias.
Digitalização
Todo o acervo do MTC está passando por um levantamento e processo de digitalização, com sua devida manutenção e identificação de materiais que até então já existia, mas não havia sido divulgado.
“Nem todos têm a dimensão da riqueza que temos sob nossos olhos, bem perto e acessível. Para nós é uma grata surpresa termos sido selecionados entre 14 museus do Estado, é uma forma de reconhecimento da sua participação e valor à história”, celebra Giba, observando, aliás, que “antes mesmo do triste evento no Rio de Janeiro já tínhamos esta preocupação, obviamente que aumentou.
Já havíamos solicitado a vistoria dos Bombeiros, parte de dedetização, alocação dos materiais”. Na semana passada, o Corpo de Bombeiros procedeu com uma supervisão, incluindo a parte de acessibilidade, o que já está resolvido.
“Por ser um prédio histórico há escadas. A realidade atual é outra. Hoje, quando se vai fazer uma construção todos estes critérios são obrigatórios. Como é um bem tombado temos de nos adaptarmos.”
O Museu funciona de segunda a sexta-feira, das 9h ao meio-dia e das 14h às 18h. Para pesquisadores, com ênfase às terças e quartas-feiras. Há cerca de um ano o Museu está abrindo suas portas ao público pela manhã, das 9h30min às 13h, com oportunidade de visitação aos finais de semana. Contato: 3222-7603.
Você não pode deixar de sugar o conhecimento de dentro do Museu
Para contextualizar, o Museu Thiago de Castro recheia seu povo a partir de comprovações históricas de Lages desde sua fundação, documentos e imagens dos séculos XVIII e XIX: Lageanos ilustres; passos políticos; registros de veículos de comunicação, a exemplo de todas as edições do Jornal Correio Lageano, que em 2018 comemora seus 79 anos de fundação; jornais antigos que, hoje, não existem mais, como “O Lageano” (exposição passada pela Biblioteca Pública Carlos Dorval Macedo e agora no Lages Garden Shopping); livros de registros com atas das primeiras sessões da Câmara de Vereadores, desde 1870; ata da fundação de Lages, em 1766; relíquias que congelam o tempo, como o rodado do carro de boi que transportou as pedras para a construção da Catedral Diocesana; armas de guerra e lutas regionais, e utilizadas pelos escravos e soldados; utensílios de trabalho e domésticos; peças de vestuário, e peças curiosas, como máquinas de datilografia e calculadoras antigas. Uma infinidade de itens de acervos documental e de peças, ultrapassando 30 mil artigos.
O idealizador do Museu, Danilo Thiago de Castro, começou a estruturá-lo aos 17 anos, em 1937. Os materiais e objetos eram recolhidos diretamente nas residências, normalmente quando as pessoas faziam as tradicionais limpezas de final de ano.
Era um hábito reservar os artigos para doar ao senhor Danilo, que anteriormente era localizado em uma sala na rua Hercílio Luz, no Centro. Atualmente está localizado na rua Benjamin Constant, no prédio do antigo Fórum Nereu Ramos.
Após o falecimento do senhor Danilo, em uma parceria entre sua família, o MP e através do espólio junto ao Município, a prefeitura comprou todo o acervo, tornando o Museu um bem público. Até 2011 era particular.
A Associação Amigos do MTC participou desta transição. Depois firmado um convênio de manutenção e guarda do acervo, que findou. Boa parte dos documentos arquivados em Lages não existe em outros do país, sobretudo da época da escravatura. É o terceiro maior museu em acervo documental do Brasil.
Fonte: Prefeitura de Lages