Coronavírus
Maiores e mais importantes epidemias da história
No texto a seguir, a arqueóloga Joana Freitas traça uma pequena cronologia das epidemias e pandemias que, segundo ela, mais nos afetaram enquanto humanidade.
O homem é um exemplo se superação nas linhas evolutivas. Não éramos fisicamente dominadores nem estávamos no topo das cadeias alimentares. Éramos caçadores, mas presa fácil também. A evolução do nosso cérebro, as capacidades intelectuais e de cognição deram-nos a vantagem.
Durante milênios, feitos de avanços e retrocessos, a espécie humana prosperou e ocupou os quatro cantos do planeta. A uma capacidade adaptativa gigante juntou-se a sobrevivência assente na coesão de grupo. Há cerca de 10.000 anos começaram a aparecer as primeiras sociedades sedentárias, possíveis pela domesticação, embora insipiente, de plantas e animais.
Naquele preciso momento o homem assinava com o destino. Populações crescentes e fixas num local, convivência diária com os animais domesticados e todos os parasitas a eles associados, formaram as condições perfeitas para as primeiras epidemias.
A história da humanidade será agora ( a partir daquela época) marcada por episódios epidêmicos e pandêmicos que dizimaram milhões de pessoas.
Estas epidemias podem ser equiparadas a grandes guerras, no que toca a perdas humanas e materiais e, as suas existências, tiveram a capacidade de mudar o rumo da história.
Estamos no século IV, entre 527–565, o imperador Justiniano tem o domínio do império bizantino. A peste bubônica assola o império e trespassa as suas fronteiras. Mata entre 30 milhões a 50 milhões de pessoas, provavelmente metade da população mundial à época. Esta epidemia marca um fim de uma época. O império romano nunca mais será unificado, é o início da era negra da época medieval.
Séculos mais tarde, mais precisamente entre 1343 e 1351 (auge), outro surto de peste bubônica varre a Ásia e Europa matando cerca de 80 milhões de pessoas. Esta epidemia é vastamente conhecida como a famosa peste negra. Esta peste foi tão avassaladora que a Europa precisou de cerca de 200 anos para restabelecer os seus níveis populacionais.
No entanto, ocorreram mudanças sociais e culturais importantes como produto desta devastadora epidemia. Com um número tão elevado de mortes, o nível de vida dos sobreviventes subiu efetivamente. Havia mais postos de trabalho disponíveis, mais habitação disponível, mais terra para cultivo e menos bocas para alimentar.
A nível religioso, a igreja católica enfrenta uma crescente de misticismo que desafia as suas doutrinas. Algumas minorias, como os judeus por exemplo, começam a ser perseguidos e acusados de serem os causadores da peste que se crê ter tido início na China.
No século XV, os europeus, quando das conquistas em territórios americanos, levavam dentro de si a arma mais letal de todas. Foram hospedeiros de vírus mortais para as populações locais, entre os quais, a gripe, sarampo, malária, cólera, tifo, peste bubônica e, o mais mortífero de todos, a varíola.
A varíola foi responsável pela morte de milhões de nativos americanos sendo que, em cem anos, a sua população passou de 60 milhões para cerca de 6 milhões.
O impacto foi tão grande que há cientistas que estudam a possibilidade de ter existido uma alteração climática por conta desta ocorrência. Além de menos emissões de CO2 e da floresta ter crescido exponencialmente, coincidentemente o sol entrava numa fase de baixa atividade, levando a uma queda na temperatura mundial. Desta vez, a Europa pagou a fatura e viveu tempos de fome, pois a alteração na temperatura a fez perder muitas colheitas.
Já no século XIX temos uma pandemia de cólera. Entre os anos de 1817 e 1823, com início de foco na Índia, a cólera dizima milhões de pessoas. Dessa data até 1961 existiram um total de sete epidemias de cólera. Este vírus continua ativo, infeta milhares de pessoas todos os anos e é responsável por até 140.000 mortes anualmente.
Já no século XX (1918), após a primeira guerra mundial, aparece a mais conhecida gripe espanhola. Esta pandemia de H1N1 infectou cerca de 500 milhões de pessoas e matou cerca de 50 milhões globalmente. Como já foi referido, esta epidemia ocorre no final da primeira grande guerra e as condições para a travar eram quase nulas.
No entanto, o esforço para compreender e tratar pandemias começa a aparecer tendo forte impacto no melhoramento dos sistemas públicos de saúde. Não esquecendo que há vírus ativos que todos os anos matam milhões. Dos melhores exemplos temos o HIV ou a malária.
“O surto de Covid-19, que vivemos na atualidade, não é algo novo na humanidade, faz antes parte dos nossos ciclos. Contudo, mesmo com toda a tecnologia disponível compreendemos que podemos falhar, que não conseguimos salvar todos ou travar a epidemia com a eficácia com que gostaríamos.”
Fonte: Fabiano de Abre (mf@pressmf.global)