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Maior no presente ou no passado? Florestal, um setor que soube se reinventar

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Foto: Gislaine Couto

Lages serra mais madeira atualmente ou o volume maior ocorreu no ciclo da madeira, entre as décadas de 1940 a 1960? Esse questionamento foi levantado durante as últimas eleições e o Correio Lageano foi em busca de respostas, que apesar de reveladoras estão longe de serem conclusivas. Um dos motivos é que a Lages de agora é muito menor e diferente do território que acolheu as primeiras madeireiras há mais de 70 anos.

O questionamento é pertinente. No ciclo da madeira, o município chegou a ser o polo econômico, social e político de Santa Catarina, tal era a riqueza gerada. Atualmente, as indústrias estão mais modernas e agregam valor à madeira extraída de florestas plantadas.

Segundo o Sebrae, em 2014, o setor gerou R$ 348 milhões somente em ICMS Adicionado, ou seja, esse valor foi a diferença obtida entre a entrada da matéria prima na linha de produção e sua venda como produto acabado. Mas, como a economia está diversificada, Lages é o oitavo Produto Interno Bruto (PIB) do estado.

É necessário voltar ao passado para entender essas transformações. Depois que a multinacional Lumber devastou as florestas do Meio Oeste e Planalto Norte para construir a ferrovia – tinha permissão do governo para explorar 15 quilômetros de florestas de cada lado da linha – , as atenções se voltaram para as árvores da Serra Catarinense.

A estimativa é que existiam 60 milhões de araucárias em ponto de corte. É que Anita Garibaldi, Campo Belo do Sul, Capão Alto, São José do Cerrito, Palmeira, Correia Pinto, Bocaina do Sul e Otacílio Costa ainda faziam parte do território de Lages.

Em 1942, registros apontam que 28 serrarias operavam no município. Juntas, tinham a capacidade de serrar 2.820 dúzias de tábuas por mês. É que as dificuldades eram enormes e o maquinário rudimentar. Tanto que as problemas de acesso inibiram a exploração em São Joaquim, concentrando o corte entre Lages e Curitibanos.

No livro, a História da Indústria Madeireira Serra Catarinense, Cláudio Rodrigues da Silveira aponta que no auge, Lages tinha 300 serrarias. Uma das maiores, a Battistella, se instalou em 1949 e gaúchos implantaram a Pandolfo em 1955, uma das primeiras da área industrial às margens da BR-116. Apesar da quantidade de empresas, não existem registros de quantidades cortadas.

Mas a importância das florestas de araucária era muito grande em todo o País. A Battistella forneceu a madeira para a construção de Brasília, no Planalto Central. Para se ter uma ideia da precariedade das estradas e dos veículos, a viagem de caminhão demorava 63 dias. Atualmente, o mesmo percurso é feito em menos de 48 horas.

Menor e mais produtivo

Ao longo das décadas, com a emancipação de vários municípios, Lages perdeu grande parte de seu território. Saiu de uma área superior a 10  mil Km² para 2.644 Km². Da mesma forma, ganhou em eficiência diversificando a atividade primária de serrar madeira em um completo setor florestal.

Atualmente o município possui atividades florestais, mas processa a madeira na forma de móveis, papel, chapas e portas, agregando muito valor a matéria prima. Algumas empresas, a exemplo da Ekomposit trabalham com produtos até então desconhecidos para a região. Já a Blue Forest exporta decks de madeira tratada, atividades impensadas na década de 1940.

Lages ainda está na iminência de receber uma unidade da empresa Berneck, que sozinha responderá por centenas de empregos. É justamente todo esse mix de atividades que dificulta uma comparação com o ciclo da madeira, quando o único produto era tábua de madeira.

O setor florestal também movimenta o de transporte, o de produção de máquinas e equipamentos, metalmecânico, combustíveis e outros que possamos ter esquecido. Mas vive um cenário extremamente favorável. Mauro Murara, diretor executivo da Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR) avalia que o valor do Dólar está favorecendo a exportação e o setor vai muito bem. “Como é difícil ampliar a área plantada como florestas, se investe em tecnologia para se produzir mais com a mesma matéria prima”.

Ele comenta que as empresas investiram em tecnologia e em profissionalismo, ampliando a eficiência e reduzindo o desperdício. Confirmando as palavras do diretor, em agosto a exportação de chapas aumentou em 44%.    

Exportação de SC cresce 50,9% em agosto

As exportações catarinenses somaram US$ 1,2 bilhão em agosto. O valor é 50,9% superior ao registrado no mesmo mês em 2017 e foi puxado pela ampliação dos embarques de carne de aves (aumento de 57,8%), soja (avanço de 202%), farelo de soja (elevação de 1.477%), madeira compensada (crescimento de 44%) e máquinas para aquecimento (aumento de 13.900%).

Os dados são do Ministério do Desenvolvimento e foram divulgados pela FIESC, nesta quarta-feira (12). A produção industrial catarinense em julho cresceu 8,3% em relação ao mesmo mês do ano passado, o quinto melhor resultado do País.

O percentual está acima da média nacional, que no período foi de 4%. No acumulado do ano, o estado registra crescimento de 4,6%, valor também acima da média nacional que foi de 2,6% no período.

Curiosidades

Foco era a pecuária

Em 1942, o departamento de estatística e Publicidade do Estado apresenta dados da Agência de Estatística de Lages, apurando 318.265 bovinos, 52.872 equinos, 42.128 suínos e 28.859 ovinos. Os pinheiros ainda não faziam parte do levantamento.

Nota-se a lentidão do povo lageano em notar a riqueza do pinho (Cláudio Silveira, 2005). De acordo com o autor, a araucária foi, por longo tempo, considerada pela população um estorvo nos campos de Lages.

As grimpas, pequenos galhos dos pinheiros, com folhas pontiagudas, machucavam o gado que pastava, então os pinheiros eram anelados na base com um corte em forma de anel na casa da árvore, que fazia com que o pinheiro apodrecesse liberando assim espaço para campos de pastagem.

Polo estadual

Lages viveu um momento de euforia, foi o município de maior arrecadação no Estado. Entre as décadas de 1940 e 1970, foram criados aproximadamente 50 bairros. Foram anos de considerável aumento da circulação de dinheiro; de investimentos públicos na urbanização; de crescimento dos problemas sociais, como falta de moradia, violência e prostituição; e de intervenção pública na construção de hospitais, colégios, estradas, sistema de aviação, e aumento dos bairros e periferia. Lages configura-se então como um polo receptor do êxodo rural na região (Silveira, 2005).

Destaques de Santa Catarina no Anuário

  • 1º exportador de madeira serrada de pinus com 44% do total nacional (2015);
  • 2º estado em área plantada de pinus, com 541 mil hectares (2015);
  • 2º exportador de compensado de pinus com 26% do total nacional (2015);
  • 3º exportador de papéis com 12% da exportação brasileira (2015);
  • 3º exportador de painéis reconstituídos com 12% do total nacional (2015);
  • 4º produtor de toras de florestas plantadas, com 10% da produção brasileira de toras (2015);
  • 5º estado em área com florestas plantadas, com 654 mil hectares (2014);
  • Maior exportador de portas de madeira com 75% das exportações brasileiras (2015);
  • Maior exportador de móveis de madeira, com 44% do total nacional (2015);
  • 14,8 mil empresas do setor florestal são catarinenses (49% da ind. Madeireira nacional), equivalente a 9% do total nacional e 30% da Região Sul (2015);
  • As empresas florestais catarinenses empregam diretamente 92,6 mil pessoas.
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