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Lisboa vela corpo de Saramago no salão de honra da Prefeitura
Lisboa, 19/06/2010, (EFE)
A Prefeitura da capital portuguesa serve de palco neste sábado para o velório do corpo de José Saramago, a quem Portugal tributa uma última homenagem, com a presença de autoridades e intelectuais de vários países.
O féretro de Saramago foi recebido na porta do prédio pelo prefeito, Antonio Costa, um grande admirador do escritor. Também acompanharam vários membros do Governo português e a ministra de Cultura espanhola, Ángeles González-Sinde, entre outras autoridades nacionais e de países lusófonos.
O corpo do escritor, que chegou em um avião da Força Aérea portuguesa a partir da ilha espanhola de Lanzarote, onde morreu nesta sexta-feira aos 87 anos, recebeu honras militares no aeroporto, em meio a um imponente silêncio.
De lá foi transferido até a Prefeitura em um cortejo fúnebre custodiado por um destacamento de carros da Polícia que vela também o velório, com uniforme de gala, no salão de honra municipal.
Com um tratamento próprio de um dignatário de Estado, o cortejo fúnebre do único Nobel português passou lentamente diante da sede da Fundação José Saramago de Lisboa, que fica perto aeroporto de Portela.
Coberto pela bandeira portuguesa, o caixão, que foi levado nos ombros por um grupo de soldados até o carro fúnebre no aeroporto, foi introduzido na Prefeitura por outra guarda de honra em meio a aplausos dos presentes.
Desde a saída de Lanzarote, onde o Nobel vivia desde 1993, acompanharam o corpo a bordo do avião militar português a ministra da Cultura lusa, Gabriela Canavilhas, a viúva do escritor, Pilar del Río, a filha de seu casamento anterior, Violante Saramago, e vários familiares e amigos próximos.
Na chegada à Prefeitura, de cujas janelas pendiam dois enormes cartazes com a imagem de Saramago, os familiares do escritor foram recebidos pelo prefeito, que abraçou a viúva e a filha do Nobel.
Na chegada da comitiva ao prédio público também estavam ministros e vários políticos, intelectuais e amigos de Saramago.
O velório será aberto ao público a partir da tarde até a meia-noite, na primeira cerimônia deste porte que presenciam os funcionários da Prefeitura lisboeta, que não têm lembrança de o prédio ter sido cenário de homenagem similar anteriormente.
Porta-vozes municipais esperaram que muitas personalidades e cidadãos passem pelo velório para a despedida final, em sinal de respeito ao escritor, cuja morte entristeceu Portugal.
O Governo do primeiro-ministro socialista José Sócrates declarou hoje e amanhã luto oficial nacional pela morte de Saramago, considerado uma das grandes referências culturais de Portugal e o autor contemporâneo que mais contribuiu para projetar mundialmente as letras lusas.
Personalidades e instituições de todos os âmbitos da vida pública lusa continuaram hoje lamentando sua morte, entre estes os partidos da esquerda marxista e até mesmo a Igreja Católica, que apesar das polêmicas obras do Nobel expressou seu pesar pelo falecimento.
Precisamente foi a reação católica diante de suas obras.
"O evangelho segundo Jesus Cristo", e sua retirada, em 1992, da candidatura a um prêmio europeu por parte do Governo luso que levou Saramago a mudar-se para Lanzarote, embora tenha voltado frequentemente ao país e recebeu nele inúmeras homenagens.
Entre as mais sentidas manifestações que motivou sua morte estiveram hoje as do Partido Comunista Português, a cuja militância se manteve sempre fiel o escritor, o que levou os dirigentes a acompanhar o féretro do aeroporto à Prefeitura.
Os restos serão velados por amigos, familiares e autoridades até amanhã, quando será realizada a cerimônia de cremação no cemitério Alto de São João da capital lusa.
A delegação espanhola que assiste aos atos será liderada pela primeira vice-presidente do Governo, María Teresa Fernández de la Vega, à qual é esperada em Lisboa no domingo.