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Jovem, de 22 anos, morre ao ser eletrocutada em pomar de maçã
Sempre trabalhando nas mais diferentes funções, a jovem Indianara Nogueira, 22, buscava dar melhores condições para os dois filhos de 5 e 1 ano de idade.
Recentemente, ela e alguns familiares foram contratados para colher maçã em um pomar de Lages. Logo no segundo dia de trabalho, recebeu uma descarga elétrica enquanto fazia a colheita e morreu no local. Primas e o irmão, que também estavam trabalhando, presenciaram toda cena e tentaram salvar a vida da jovem, que foi socorrida pelos funcionários do pomar e levada já sem vida para o Pronto Atendimento Tito Bianchini.
Lidiane Nogueira, 20, prima de Indianara, lembra que na quarta-feira de manhã, dia do acidente, os funcionários que chegaram ao pomar da Agrospe para iniciar mais um dia de trabalho, notaram que havia fios de rede elétrica soltos e encostando no chão. Como a grama estava molhada, ficaram preocupados e avisaram uns aos outros para tomar cuidado.
Mas a precaução não foi o suficiente. Indianara acabou encostando nos fios, ficou com os pés presos e levou uma descarga elétrica. Lidiane conta que a prima não estava usando equipamento de proteção, assim como os outros funcionários, que ainda não haviam recebido botas ou qualquer outra peça que pudesse protegê-los.
Com a possibilidade de outras pessoas também serem eletrocutadas, os funcionários ficaram sem reação e não sabiam o que fazer. Mais de meia hora depois de ser encontrada, Indianara ainda estava enrolada nos fios e a rede elétrica permanecia ligada. Para tentar socorrer a jovem, com um alicate, os funcionários cortaram os fios. Indianara foi colocada em um veículo que era utilizado para o transporte dos profissionais e foi levada para o Pronto Atendimento Tito Bianchini. Chegando lá, os médicos informaram que ela já estava sem vida e, provavelmente, havia falecido no local. Lidiane lembra que, durante o socorro, tentaram conversar com Indianara e ela parecia responder. “Eu trouxe ela dentro do carro, fui tentar acordar ela, conversar, durante o trajeto”, relembra.
No velório, que aconteceu no Bairro Santa Mônica, em Lages, o clima era de revolta. Os familiares buscavam respostas pela falta de socorro rápido da vítima, já que bombeiros e Samu não foram acionados para atender à ocorrência. “Por que não tinha um técnico em segurança do trabalho, por que eles não estavam usando EPIs, por que não chamaram os bombeiros?”, questionou Francislaine Nogueira, também prima da vítima.
No pátio do espaço usado como capela, o filho mais velho de Indianara brincava ao redor dos familiares. O mais novo, estava na creche que, coincidentemente, fica ao lado do local onde a mãe era velada. Nas redes sociais, muitos amigos postaram mensagens, indignados com o caso e compartilharam fotos da jovem sorridente ao lado dos dois filhos. Marcado para o final da tarde desta quinta-feira (15), ela foi enterrada no Parque da Saudade. A família informou que todos os custos funerários foram arcados pela empresa.
O Correio Lageano entrou em contato com a Agrospe, que tem sede em Vacaria, no Rio Grande do Sul, fez várias tentativas, mas não houve retorno. Em Lages, a empresa mantém apenas um pomar e não há como entrar em contato com os responsáveis. Eles informaram que o setor jurídico irá responder sobre o caso.
Polícia
O delegado da 3ª Delegacia de Polícia de Lages, Davi Girardi, que irá investigar o caso, revela que deve receber o Boletim de Ocorrência do caso até hoje. Após o recebimento desse documento, será aberto inquérito policial que investigará as circunstâncias que levaram à morte da jovem. Em 30 dias, de acordo com a lei, o inquérito deve ser encaminhado ao Ministério Público. As primas e o irmão de Indianara, que trabalhavam no pomar, revelam que não têm vontade de voltar. A preocupação agora é com as duas crianças, que ficaram sem a mãe que os sustentava. As irmãs da jovem passarão a tomar conta dos pequenos.
Segurança
O coordenador do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Emerson Luiz da Silva, explica que é dever da empresa cuidar da saúde e segurança do trabalhador. O oferecimento de equipamentos de segurança, bem como o treinamento para o uso correto dos mesmo, também é dever do empregador. “O trabalhador tem o direito defendido por lei de se inibir de trabalhar sem condições seguras”, ressalta. Ele acrescenta que, ao tomar conhecimento do caso, entrará em contato com o Ministério do Trabalho, notificando sobre a morte.