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Israel tenta acalmar comunidade internacional com comissão investigadora
Jerusalém, 14/06/2010, (EFE)
Israel cedeu nesta segunda-feira aos pedidos da comunidade internacional e anunciou a criação de uma comissão que investigará o ataque militar à frota de navios que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza e que resultou na morte de nove ativistas no dia 31 de maio.
Após rejeitar a proposta das Nações Unidas de estabelecer uma comissão internacional, o Governo de Benjamin Netanyahu anunciou hoje a criação de uma comissão interna liderada pelo juiz aposentado do Supremo Tribunal israelense, Jacob Turkel.
A comissão terá poderes de investigação limitados e tem como objetivo "esclarecer" os fatos e não atribuir responsabilidades aos políticos e militares que tomaram as decisões.
O grupo deve determinar se as ações do Estado de Israel para impedir a chegada da frota humanitária a Gaza foram realizadas de acordo com o direito internacional e, também, pronunciar-se sobre a legalidade do bloqueio marítimo que o país impõe à faixa palestina desde 2006.
Os membros da comissão não poderão interrogar os soldados que participaram do ataque, que aconteceu em águas internacionais, e só tem permissão para falar com o chefe do Estado-Maior, o general Gaby Ashkenazi.
Os soldados em si responderão às perguntas de um grupo de especialistas formado pelo Exército para esclarecer o ocorrido e a comissão criada hoje terá acesso ao conteúdo dos resumos dessas conversas.
Resta saber se o formato e o objetivo da comissão criada por Israel serão considerados suficientes pela comunidade internacional, que imediatamente depois do ataque aos navios condenou a ação e exigiu esclarecimentos.
O Conselho da União Europeia (UE), que tratou do tema esta manhã, exigiu uma investigação "imediata, completa e imparcial" e demandou que esta inclua "participação internacional crível".
O grupo liderado por Turkel contará com a presença de dois estrangeiros, o norte-irlandês William David Trimble, prêmio Nobel da Paz, e o canadense Ken Watkin, ex-promotor general do Exército do Canadá, mas nenhum terá direito a voto e sua presença se limitará à de meros observadores.
A Turquia rejeitou totalmente a comissão – boa parte dos 700 ativistas que participavam da frota eram turcos e foi no navio com a bandeira do país "Mavi Marmara" que ocorreram as nove mortes.
"De acordo com o direito, não se pode ser o acusado e o promotor ao mesmo tempo", disse o ministro de Assuntos Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, que duvidou da imparcialidade de Israel para fazer uma investigação sobre suas próprias ações e pediu o estabelecimento de uma comissão internacional.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, também declarou hoje em Paris que a comissão anunciada por Israel "não corresponde à proposta feita pelo Conselho Geral da ONU", modelo apoiado pelos palestinos.
A comissão é uma tentativa de Netanyahu de dar uma resposta convincente à comunidade internacional, mas sem prejudicar sua imagem interna e sem esquecer de "salvaguardar a liberdade de ação do Exército e a investigação militar".
O chefe de Estado de Israel disse hoje que a criação desta comissão não é idea, mas que "as outras opções eram piores", relatou o site do jornal "Yedioth Ahronoth".
Por sua vez, o titular de Exteriores, Avigdor Lieberman, declarou que "não havia escapatória" à criação de uma comissão.
A frota conseguiu colocar em debate a manutenção do bloqueio a que Gaza é submetida por Israel com o apoio do Egito.
A UE exigiu hoje que seja permitido o "acesso total e regular através dos cruzamentos por terra e, possivelmente, também por mar" e que se faça uma lista de bens proibidos e não de bens permitidos, como existe agora.
Os Estados Unidos, inclusive, principal aliado de Israel no mundo, afirmou que o cerco à faixa palestina é "insustentável" e pediu que o país revise os termos de sua aplicação.
Foto: (EFE)