Economia e Negócios
Inspeção unificada vai ajudar produtores a saírem da ilegalidade
Lages, 1º/07/2010, Correio Lageano
Os cerca de 2 mil produtores de Queijo Artesanal Serrano, na Serra Catarinense, têm uma nova opção na busca para saírem da ilegalidade na venda do produto. A criação do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), pretende unificar a inspeção municipal, estadual e federal.
Idealizado pela Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), o Suasa fará a inspeção de produtos de origem animal e vegetal, nos 18 municípios da Serra Catarinense.
A legalização da comercialização deste queijo há tempos é buscada pela Epagri, que elabora projetos e buscas alternativas à viabilidade econômica e manutenção desta cultura centenária na região.
Atualmente, na região, apenas Lages possui inspeção sanitária, com cerca de 10 produtores cadastrados. Os demais, como não possuem um sistema local de inspeção, não têm o selo, inviabilizando a venda e desvalorizando o preço final do produto.
De acordo com o engenheiro agrônomo da Epagri e coordenador do Projeto Queijo Serrano, Ulisses de Arruda Córdova, com a implantação do Suasa na região, será possível viabilizar a inspeção de queijarias nos municípios, não havendo mais a necessidade da criação de um serviço desta natureza pelas prefeituras, visto como a grande restrição do processo, tendo em vista os custos para contratação da equipe técnica. “Se for implantado, trará benefícios não só ao queijo serrano, mas a outros produtos de origem animal e vegetal feitos em pequena escala”, afirma.
Outro ponto favorável citado pelo coordenador, é que a inspeção municipal (como a de Lages) permite a comercialização do queijo artesanal apenas dentro da sua cidade de origem, enquanto o Suasa, como unifica as três inspeções, autoriza a venda dos produtos inspecionados em qualquer parte do território nacional.
“É um absurdo um produto tão tradicional, feito há mais de 150 anos pelos serranos estar nesta condição, sendo comercializado como se fosse um produto de contrabando”, critica Córdova. “Claro que para isso os produtores tem de se adaptar, para produzir em condições mais adequadas e com total sanidade do rebanho”, admite.
O técnico salienta que a intenção da Epagri não é apenas legalizar o queijo serrano, mas fornecer um item com segurança alimentar, que chegue ao mercado com alta qualidade. “Por isso fazemos análises para averiguar a qualidade real deste produto, identificar onde estão os problemas e então poder saná-los”, explica. Comenta ainda que a produção de queijo não pode ser feita em qualquer local, e para mudar isto, a Epagri buscará recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) através do Suasa. “Outra vantagem do sistema unificado é que poderemos melhorar as queijarias com um custo menor se comparado com o serviço de Inspeção Estadual ou Federal”, revela.
O agrônomo destaca que a estimativa é de em dois anos legalizar a produção serrana.
Indicações Geográficas para Queijo Artesanal Serrano
A Indicação Geográfica é concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpe) a um produto ou serviço originário de um local, região ou país, quando determinada característica e/ou qualidade possam ser vinculadas essencialmente a esta sua origem particular.
No caso do Queijo Artesanal Serrano, sua concessão fará com que somente a região da Amures e os municípios dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, possam utilizar este nome no rótulo do produto.
A busca da indicação, de acordo com o coordenador do projeto, Ulisses de Arruda Córdova, tem como objetivo buscar a proteção do produto, “já que outras regiões, que não têm as mesmas características que nós, utilizam o nome ‘Queijo Serrano’ para comercializar o seu produto”, afirma.
O estado de Santa Catarina não possui nenhuma Indicação Geográfica, e além do queijo serrano, a Epagri também tenta a inclusão da uva Goethe, de Urussanga e da erva-mate de Canoinhas nesta denominação.
Para a busca desta inspeção, segundo Córdova, falta apenas a organização dos produtores, pois uma indicação não pode ser solicitada pela Epagri ou por qualquer outro órgão público, sem ser através de uma entidade de produtores, como por exemplo uma associação. “É só o que falta, já temos escrita a história, bem como o sistema e o processo de produção, além de todos os dados de vegetação de solo, com isso poderemos provar para o Inpe que o produto tem notoriedade e é importante economicamente para as propriedades rurais”, diz.
“O Queijo Artesanal Serrano é produzido a mais de 150 anos na região, faz parte da cultura e da história da Serra, sendo a base de sustentação de muitas famílias. Tem importância social, econômica, cultural e histórica o que conta muito neste processo”, esclarece Córdova.
queijo serrano
Características
Origem portuguesa/tropeiros
Vinculado ao território serrano
Artesanal
Pequena escala
Leite da propriedade
Leite cru integral
Vaca de corte e/ou mista
Alimentação de campo nativo
Produção sazonal (primavera/verão)
Sabor acentuado realçado pela maturação
Produto diferenciado e valorizado no mercado
Produzido e comercializado na informalidade
Foto: Arquivo CL