Coronavírus
Hospitais preparados para a guerra contra o vírus
Até sexta-feira (3), Lages tinha apenas três casos confirmados de pacientes infectados pela Covid-19 – doença causa pelo novo coronavírus, outros 14 já haviam sido descartados e seis eram considerados suspeitos, pois ainda estavam em análise no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Florianópolis.
Apesar dos números considerados baixos ante o cenário nacional e internacional, o município está preparado para atender a uma grande quantidade de pacientes que, porventura, possam precisar de internamento – em leitos comuns ou nas unidades de terapia intensiva (UTI).
A veloz capacidade de propagação do novo coronavírus é inegável. A doença, que foi diagnosticada pela primeira vez em dezembro do ano passado, na China, até quinta-feira desta semana havia sido detectada em pelo menos 180 países e territórios.
Os números globais indicavam que os infectados ultrapassava 956 mil, tendo sido registradas mais de 48 mil mortes, frente a mais de 202 mil pessoas recuperadas. Os dados fazem parte de um levantamento feito pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, e foram divulgados pela BBC.
Pensando no pior cenário para o Brasil, o Ministério da Saúde publicou uma portaria, no dia 2 de abril, que determina o cadastro de profissionais de 14 categorias da área da saúde (dentre elas psicólogos, fisioterapeutas, profissionais de educação física e até veterinários) para realizar capacitação, em caráter emergencial. Caso necessário, essas pessoas irão trabalhar pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no combate ao novo coronavírus.
Seguindo essa perspectiva nacional, as autoridades em saúde da Serra Catarinense também estão preparadas para atender a uma grande demanda de pacientes. Além do Centro de Triagem, montado no prédio do antigo Pronto Atendimento Tito Bianchini, os hospitais Tereza Ramos e Nossa Senhora dos Prazeres implantaram alas exclusivas para atender a pacientes com casos moderados ou graves, que necessitem de internamento. Os três locais ficam em Lages, município referência para atender possíveis casos provenientes dos 18 municípios da região.
Centro de triagem está na linha de frente
O Centro de Triagem dispõe de 13 leitos, sendo quatro de UTI e nove comuns. O objetivo, de acordo com a secretária da Saúde de Lages, Odila Waldrich, é que este local seja a porta de entrada para os pacientes que apresentem sintomas de infecções respiratórias relacionados a Covid-19, para evitar que circulem em outras unidades de saúde da região, contaminando outros espaços de atendimento ao público.
Aqueles que necessitarem de internamento ficarão em observação no Centro de Triagem até que possam ser transferidos para algum leito destinado para pacientes com Covid-19 nos hospitais de Lages.
No Nossa Senhora dos Prazeres há 25 leitos comuns e 10 de UTI que já estão prontos para receber possíveis pacientes – foi lá que ficaram internados cinco pacientes que eram suspeitos e o único caso confirmado até agora. No Tereza Ramos, uma ala especial com 30 leitos comuns e 19 de UTI já está preparada. Além dos 19 leitos de UTI já disponíveis, o hospital tem capacidade para providenciar até 37, se houver necessidade.
“Todos os pacientes com síndrome respiratória aguda, da Serra Catarinense, serão atendidos no Centro de Triagem para depois serem encaminhados para o hospital, se for o caso. Isso foi pactuado com os secretários [da Saúde] e prefeitos [da Amures]”, comenta Odila.
Segundo ela, a secretaria está monitorando mais de 150 pessoas que foram orientadas a ficar em isolamento domiciliar, por apresentarem sintomas relacionados à doença causada pelo novo coronavírus.
“Nesse momento, a gente precisa enfatizar que, quem pode, deve permanecer em casa. As pessoas não se conscientizaram da importância que é ficar em casa, tomar todos os cuidados de higiene, não irem para a rua. Parece que ainda não despertou na população a gravidade do negócio”, completa.
Veja como a ala São Vicente, no Nossa Senhora dos Prazeres, foi preparada para o enfrentamento à Covid-19
Direção prevê o pior cenário possível
Na última semana, como não havia ninguém internado na ala de isolamento destinada aos pacientes com Covid-19 do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, a reportagem do Correio Lageano foi convidada a conhecer o local, que está preparado para atender até 25 pessoas com sintomas moderados e dispõe de 10 leitos de UTI (sendo oito destinados para o SUS), para internamento de pacientes graves e que necessitem de respiradores.
Com a abertura do Centro de Triagem, os pacientes graves, que por ventura necessitarem de respiradores e forem enviados para internamento na UTI do Nossa Senhora dos Prazeres, ficarão na ala São Vicente, um espaço exclusivo situado no primeiro andar do hospital.
Como os resultados dos exames e consequentes confirmações sobre infecção por coronavírus podem demorar pra serem apresentados, devido a alta demanda no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Florianópolis, todos os pacientes que apresentarem sintomas de infecções respiratórias e que sejam altamente suspeitos de Covid-19, mesmo que posteriormente descartados, ficarão internados nesta ala.
De acordo com o presidente do conselho diretor do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, Ronny Albert Westphal, se houver necessidade, o número de leitos de UTI pode ser ampliado. “A gente trabalha pensando no pior cenário, com muita dificuldade. A gente vai analisar junto com as entidades governamentais, podendo fazer essa ampliação. É algo que vai ser passo a passo, conforme as necessidades”, explica, ressaltando que só serão encaminhados para internamento aqueles pacientes que não tenham condições de ficar em casa, para evitar um colapso do sistema de saúde.
Ronny explica que, devido a situação de emergência causada pelo constante aumento dos casos de Covid-19 no Brasil, esta ala começou a ser estruturada há mais de duas semanas. Antes mesmo que a primeira paciente positivada fosse encaminhada para internamento, no fim da primeira quinzena de março, o local já estava pronto.
Segundo ele, montar uma estrutura como esta requer uma grande sistematização, para proteger os profissionais da saúde que farão os atendimentos, e também outros pacientes que não estejam infectados pelo coronavírus.
“As síndromes respiratórias são diversas. A gente não quer misturar pacientes que sejam Covid com pacientes que tenham algum tipo de gripe, ou uma pneumonia. Estas são alas que têm que ser estudadas e preparadas diuturnamente, por isso, ela continua em evolução. A gente continua aprendendo e estudando, com apoio dos infectologistas do hospital, pra que, a cada etapa, estejamos bem treinados para, principalmente, proteger o paciente que não seja Covid e tenha algum problema respiratório.”
Proteger os profissionais de saúde é prioridade
Além de toda a preparação dos espaços físicos, os profissionais já passaram por capacitação e receberão equipamentos de proteção individual (EPIs) para atender a cada pessoa que ficar internada nas alas destinadas a pacientes com suspeita (ou confirmados) de Covid-19.
Na ala da UTI, por exemplo, os funcionários precisarão passar por dois vestiários antes de se aproximarem dos pacientes. No primeiro acontece a paramentação comum de qualquer hospital, onde vestirão roupas que, normalmente, são usadas em centros cirúrgicos. No segundo, eles começam a paramentação mais intensa, com a colocação de um macacão que tem toca (para proteger o pescoço e a cabeça).
Na última etapa da paramentação, os profissionais colocam mais um avental por cima do macacão, luvas, máscaras e protetores faciais. Para atender à demanda por aventais, funcionárias do setor de costura do Nossa Senhora dos Prazeres estão fabricando este EPI.
Segundo uma nota publicada pelo hospital, “devido à necessidade maximizada com a Covid-19 e a redução desses materiais no mercado, Jucilene e Letícia pararam as produções internas de itens como lençóis, pijamas, dentre outros, para oferecer esse suporte ao hospital”.
Por enquanto, os aventais que estão sendo produzidos serão descartados após o uso, evitando, portanto, o reaproveitamento e o risco de contaminação. Para continuar com a produção dos aventais, o hospital está solicitando a doação de linhas para serem usadas na máquina de overloque. Quem puder contribuir, pode entregar as doações na recepção do hospital.