Geral
Flicop traz a Correia Pinto autores de renome nacional e internacional
Nas ruas da pequena cidade, na Serra Catarinense, não se ouve falar em outra coisa por estes dias. A segunda edição do Festival Literário de Correia Pinto (Flicop) está movimentando a cidade, especialmente pela participação de escritores de renome nacional e internacional, que ministram palestras, workshops e painéis. Além da programação oficial, o evento oferece diversas atividades paralelas, que são gratuitas e abertas para toda a comunidade.
Uma das atrações do festival é a Feira do Livro La Fontaine, no Centro de Eventos Alexandre Júlio. A expectativa da Comissão Organizadora é de que pelo menos duas mil pessoas visitem o local até sábado (31), quando o evento se encerra. Os amigos Thiago Andrade, Pedro da Silva e Cristian Gabriel, todos com 8 anos, estavam encantados ao visitar a feira, na manhã de quinta-feira (29).
Depois de assistirem a uma apresentação artística, a professora os liberou para que pudessem olhar os livros em exposição. Os três não precisaram pensar muito e logo correram para uma estante com livros de super-heróis. “Esse é o meu preferido!”, exclamou alto Thiago, abraçando um exemplar com histórias do Super Homem. Foi o suficiente para que os amigos passassem alguns minutos falando sobre os poderes dos seus heróis preferidos: Pedro apostou no Homem-Aranha e Cristian quis logo um exemplar dos Vingadores.
Um dos principais eventos literários da Serra Catarinense
O Flicop tem um tom discreto, mas é bastante ousado e, apesar de estar apenas na segunda edição, já é reconhecido como um dos principais eventos literários da Serra Catarinense. Pra se ter uma ideia da abrangência, os painéis de abertura, realizados na quarta-feira (28), foram ministrados por Daniel Munduruku e Julián Fuks.
Autor de mais de 30 livros sobre a cultura dos povos nativos, Munduruku é considerado um dos mais influentes escritores da atual literatura indígena produzida no Brasil. Fuks, que também é crítico literário, foi eleito, em 2012, pela revista Granta, um dos vinte melhores jovens escritores brasileiros.
Emílio Finger, Guilherme Fiúza, Luisa Geisler, Luiz Ruffato e Natália Sartor completam o time de renomados escritores que compartilham seus conhecimentos e histórias de vida por meio das palestras, workshops e painéis do Flicop.
“No ano passado tivemos escritores renomados, reconhecidos nacionalmente. Neste ano ampliamos e temos escritores conhecidos internacionalmente. Pro nosso município e pra região Serrana esse é um avanço muito grande. Há quem questione porque Correia Pinto está trazendo eles e não Lages, que é a referência da Serra. Como são escritores renomados, ninguém acredita que eles estão numa cidade pequena”, comenta a secretária de Educação de Correia Pinto, Cleomara Rodrigues.
Para ela, a realização de um grande evento como o Flicop é capaz de dar a Correia Pinto um novo título. “Além de Capital do Papel, o município poderá, em breve, tornar-se também a Capital do Livro e da Literatura”, acredita.
Eventos paralelos inserem a comunidade no festival
Financiado pelo Fundo para a Infância e Adolescência (FIA), o Flicop oferece diversas atrações paralelas à comunidade, como o Festival de Food Truck, que acontecerá até sábado no estacionamento do Centro de Eventos Alexandre Júlio.
A realização de um concurso e workshops foi a forma de envolver os estudantes das redes pública e particular de ensino. Alunos da Apae e do 4º e 5º ano de escolas regulares participaram de de um concurso de desenhos. Dentre os estudantes do 6º e 7º ano do Ensino Fundamental serão selecionadas as melhores redações. Já quem estuda no 8º e 9º ano disputa o concurso pela melhor fotografia. Os adolescentes do Ensino Médio tiveram a oportunidade de participar de diversos workshops.
Quinta e sexta, os workshops foram ministrados pela escritora porto-alegrense Luisa Geisler. Ela tem 28 anos e ficou conhecida em 2010, quando tinha apenas 19 anos, ao ganhar o Prêmio Sesc de Literatura. Na categoria “Conto”, ela foi a vencedora com seu livro de estreia, “Contos de Mentira”, que também foi finalista do Prêmio Jabuti. No ano seguinte, repetiu a dose vencendo o prêmio de melhor romance com “Quiçá”.
Mestre em “Processo Criativo e Escrita Criativa” pela Universidade Nacional da Irlanda, Luisa participa pela segunda vez do Flicop ministrando o workshop de Escrita Criativa. Para ela, o objetivo da sua oficina é ensinar aos participantes que, para se tornar um escritor, não é preciso receber “um dom divino”, tampouco escrever de forma polida e rebuscada o tempo todo.
“Nossa relação com a escrita está muito ligada a estudar pra vestibular, pra concurso, por isso a escrita acaba não sendo uma coisa divertida. A ideia do workshop é desconstruir um pouco isso. Tem gente que acha que não sabe escrever porque não sabe botar vírgula. Botar vírgula não é escrever, escrever é outra coisa e as pessoas acabam tendo medo por não entender que o processo pode ser simples e sem formalidades”, avalia.
Estudante do 1º ano do Ensino Médio na Escola João Paulo I, Stefani Naeli, 16 anos, foi uma das participantes do workshop de Luisa, na quinta-feira. Apaixonada por ler, a garota conta que tem a imaginação muito fértil e que ama escrever. “O workshop é legal porque ela [Luisa] não é formal. Gosto de ler bastante, mas não gosto de coisas formais. Falo formalmente quando a ocasião exige, mas sou mais informal. A Luisa é despojada, brinca e não deixa a gente se intimidar. Isso faz a gente acreditar que também pode escrever bem”, comenta a estudante.
Artistas dão cor aos muros de escolas públicas
A live painting (pintura ao vivo) também foi uma das atrações paralelas do evento. A atividade consiste em pinturas feitas ao vivo, por artistas de diversas áreas. Um dos trabalhos que integram esta atração foi a pintura de muros em escolas das redes municipal e estadual.
De acordo com Neusa Tibes, que é membro da comissão organizadora do Flicop, um grupo de artistas apresentou a ideia para a organização do evento, que abraçou a iniciativa. “Esta é uma forma da comunidade ver que o Flicop não é só um evento interno e fechado, mas que é externo e acessível para todos”, afirma, ressaltando que espera que a parceria seja mantida para a edição de 2020 do evento. Segundo a organização, pelo menos uma escola de cada bairro integrou esta ação.
O muro do Grupo Escolar Marcolina de Oliveira Ramos, no Bairro Nossa Senhora do Rosário, foi um dos que ganhou novas cores por meio desta atividade. Um grupo de artistas de Lages renovou a pintura e, de acordo com a diretora Tarciana Vargas dos Santos, o dia da pintura foi uma atração à parte para a comunidade.
“Nossos alunos iam em casa buscar os irmãos pra mostrar que a escola estava ficando bonita. As pessoas que passavam pela rua paravam para ver os artistas fazendo a pintura, foi muito bonito”, comenta. Como a pintura foi feita apenas no muro da frente da escola, Tarciana conta que os funcionários do Grupo Escolar e da Secretaria de Obras do município (que funciona em frente a escola) já se mobilizaram para juntar dinheiro e pintar o restante do muro. “É mágico ver esta movimentação que a escola é capaz de causar no bairro.”
Exposição de Arte Inclusiva integra programação
Uma exposição artística envolvendo trabalhos feitos por alunos da Apae de Correia Pinto, e pelos artistas Alexsandra Zaparoli e Rodrigo Sens Burg (que são professores da entidade) estará aberta para a comunidade nesta sexta-feira (30), durante todo o dia. A Exposição de Arte Inclusiva também é uma das atividades paralelas ao 2º Flicop.
“Há meses tínhamos o desejo de mostrar os trabalhos que os nossos alunos produzem aqui na Apae, então conseguimos unir isso com a programação do Flicop. Estamos muito satisfeitos, porque a exposição está muito bonita e interessante”, explica a diretora da Apae, Gilvane Arruda.
Mais de 20 obras integram a exposição, que contém trabalhos de pintura em tela, desenho com lápis 6B ou lápis de cor, e esculturas, dentre outros. Alguns dos trabalhos serão colocados à venda durante a exposição.
Gilvane ressalta que incluir este evento no Flicop é uma iniciativa que engrandece o trabalho realizado pela entidade. “Pra nós está sendo muito boa essa participação. O mais importante é poder mostrar para toda a comunidade o quão importante é a literatura, a escrita, a leitura. E não somente a escrita e a leitura da palavra, mas também a leitura e a escrita que trabalhamos aqui dentro da escola, em forma de arte. Faz parte do nosso cotidiano e as pessoas precisam conhecer isso”, completa.
Programação
Sexta-feira (30 de agosto)
- 9 horas às 11 horas: Apresentações livres (histórias, musicais e teatros) das escolas de Correia Pinto e Musical Aventura das Letras, no Centro de Eventos
- 9 horas às 22 horas: Feira do Livro La Fontaine, no Centro de Eventos
- 9 horas às 12 horas e 13h30min às 17 horas: Exposição de Arte Inclusiva na Apae, com desenho de caricatura dos visitantes feitos por Rodrigo Sens Burg, na Apae
- 9h30min: Workshop com a escritora Luisa Geisler , na Apae
- 16 horas: Workshop com a escritora Natália Sartor, no CENSP
- 18h45min: Apresentação da Companhia de Ballet Juliana Paléo, no Centro de Eventos
- 19h15min: Painel com o escritor Luiz Ruffato, no Centro de Eventos
- 20h10min: Palestra com Emílio Finger, no Centro de Eventos
- 21h10min: Premiação dos vencedores do Concurso Transpinus de Redação, no Centro de Eventos
Sábado (31 de agosto)
- 13h30min às 18h30min: Copa Madeireira Rodrigues de Xadrez, no Colégio Motivação
- 14 horas: Robótica – apresentação de robôs pelo Sesi e Senai, no Centro de Eventos
Haverá Festival de Food Truck durante a programação do Festival Literário, no estacionamento do Centro de Eventos