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Entrevista com vereador João Maria Chagas (PSC)

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Foto: Jordana Boscato

Correio Lageano: O senhor é Vereador há dois mandatos. Vai buscar a reeleição em 2020?

João Maria Chagas: Não! Não vou me preocupar mais com eleição, porque a política para a ‘pessoa certa’, não compensa. Fui presidente da associação de moradores por 30 anos, 15 eleições, e trabalhei de uma maneira que ajudei a comunidade. Como vereador, não estou conseguindo ajudar.

O senhor chegou a dar uma declaração sobre isso, que como presidente da Associação de Moradores do Tributo teve mais força do que como vereador para conseguir obras para o bairro.

Agora consegui, por exemplo, uma creche, desde que o [prefeito Fernando] Coruja montou uma [creche] lá , o Cristal [loteamento] cresceu muito, assim como o Tributo a Vila Esperança; aquela região, o posto de saúde fui eu que consegui. Comprei o terreno quando presidente da associação, fiz o posto de saúde, fizemos a escola, também, no Bairro Tributo, o terreno foi comprado junto com a associação, Luiz Machado, outro presidente que ficou alguns anos como presidente. Foram conquistadas muitas coisas, verbas que consegui para o Tributo, emendas parlamentares que ficaram para 2020, vamos aguardar para ver o que acontece. Quando era presidente da associação, chegava [na Prefeitura] e pedia um tubo, conseguia, brita também. Ah! tem que arrumar aquela ponte, conseguia, agora manda pedido e não é atendido. 

O pessoal do bairro cobra?

Cobra, o vereador não vale nada, tudo é culpa do vereador. 

Apesar de que o vereador tem mais a função de legislar e fiscalizar,  não de fazer obras. Mas eles [a população] esperam isso do vereador? 

Sim esperam. E depois tem essas fakes [news] que falam mal da gente, ‘sentam o pau’. Pessoas que não têm competência, que a gente até se sente mal, porque são amigos da gente e por causa de um buraco na frente da casa acham que o vereador tem de arrumar. Na minha casa, tenho calçada em volta, tem asfalto feito no tempo do Coruja, eles [moradores] não se esmeram para arrumar a casa deles, para arrumar na frente da casa, porque na frente da casa é obrigação do proprietário. A calçada é o proprietário, e acha que o vereador tem que fazer, que a prefeitura tem que fazer, não é assim que funciona. 

O senhor já foi vítima de notícias falsas?

Várias vezes falavam mal ‘do Chagas’ e não tem nada a ver. Eu me sinto meio… como posso dizer? Vou deixar bem claro aqui, não vou deixar a política por causa da doença [o vereador faz tratamento contra um câncer], vou deixar a política por causa das pessoas maldosas, que falam mal umas das outras. Eu acredito que é o que fiz: posto de saúde, escola, asfalto, esgoto, iluminação pública, água. Moro há 44 anos no bairro e esqueceram o que a gente fez por eles. Tínhamos uma comissão de saúde muito boa, que funcionava, conseguimos tubo, cimento, compramos o terreno para o posto de saúde com dinheiro da comunidade, três lotes. Conseguimos um colégio, o Osni Régis de Medeiros, conseguimos mais um, no Bairro Pisani. Antes o colégio ficava no terreno que o CAV cedeu, mas era muito pequeno, uma sala para todas as séries iniciais. 

O senhor ainda está em tratamento do seu problema de saúde e tem se recolhido um pouco das discussões da Câmara. Como está a sua participação nos debates?

Eu continuo o mesmo, só que não posso falar muito, até esses dias eu fui lá, em uma entrevista na Rádio Clube, e um cidadão perguntou se eu estava bêbado, olha bem a maneira que tratam as pessoas, disse que eu estava bêbado porque estava falando fanho, ‘o Chagas bebeu essa noite’, certas coisas que não têm cabimento. 

O senhor comentou que fará uma nova cirurgia, vai se afastar da Câmara. Terá de deixar o pastor Marcelo Soares, o seu suplente, assumir ou ou não vai ser preciso?

Eu não sei o que o médico vai fazer, mas é uma cirurgia para eu não falar muito, tem que cicatrizar bem para melhorar. Fiz duas cirurgias, em uma foram retirados pedaços pelo pescoço, mas necrosou, uma cirurgia de 6h30, passei mal no hospital, em Florianópolis. O médico teve de fazer mais uma cirurgia de oito horas e pouco para tirar uns pedaços, de cima até embaixo, e fechar novamente, mas graças a Deus a segunda cirurgia deu certo. Digo que as pessoas verifiquem se tem alguma coisa no seu corpo, algo diferente, que faça rápido o exame, porque o câncer mata sem a pessoa sentir. 

A questão dos gastos públicos é sempre motivo de reclamação da população. O senhor esteve envolvido em uma polêmica, pois está entre os vereadores que mais gastam com verbas de gabinete, como se explica isso?

Vou explicar, hoje nós temos 10 meses de Câmara, em 2019, se dividir em 10 meses, gastei em torno de R$ 700. Fiz cinco cursos com meu dinheiro particular e três pela Câmara. Eu e meus assistentes, secretários, gastamos seis mil em cinco meses, dá mais ou menos R$ 700 por mês. Gastamos com papel, xerox, telefone, o gabinete está sempre aberto para todas as pessoas, é feito currículo e documentação no gabinete. Algumas pessoas chegam lá para fazer rifa e a gente cede as folhas, imprimimos. Agora, com o jovem vereador, ele gastou duas mil folhas. Tem um negócio muito importante que está na coluna da Olivete Salmória, sobre a merenda escolar. Ele fez uma pesquisa com cerca de 30 perguntas para alunos do 5º ao 8º ano. O que o colégio tinha de errado e o que podia ser melhorado, sabe qual a principal reclamação? Merenda escolar, aqueles jovens de 13 a 16 anos dizem que a merenda que o colégio faz não é suficiente para eles, tem dia que é uma bolachinha. Olha a matéria, que espetacular. Um jovem vereador que foi em busca e tudo sai do meu gabinete, a minha secretária foi junto, gastamos gasolina. Quando fui a Brasília, fui com meu dinheiro, fiz cursos com meu dinheiro, duas a três vezes com dinheiro da Câmara. 

O senhor acha que é muita desinformação? As pessoas querem falar mal de políticos e aí não acompanham e vão falar mal? O senhor acha que tem isso de falar mal de qualquer forma?

Lages, assim, é uma cidade que ‘jogam’ tudo na mídia, sem pensar o quê. O asfalto feito em 1987 na administração de Raimundo Colombo. Raimundo disse, ‘Chagas, você que abriu a rua da sua casa’! Fui eu que abri a rua, porque não tinha luz e a Celesc não chegava lá, não tinha acesso, não tinha água, era a única casa que tinha no bairro. Para levar a água tive de pagar a máquina e a tubulação foi a prefeitura, mas para abrir a rua fui eu. Fizeram asfalto, no Guarujá inteiro, no mutirão do Raimundo. Ganhamos o asfalto na rua da minha casa, mas, naquela época, não foi feito asfalto, depois entrou o Décio, o Renatinho, consegui só agora o asfalto ao lado da minha casa, mas não por causa da minha casa, tem um posto de saúde, um Cras, colégio, comércio, o posto de saúde estava sempre sujo, por causa da poeira. Foi feito asfalto, agora, porque tínhamos um dinheiro, foi desviado novamente para fazer uma rua no Guarujá e a outra no Bairro Penha. Agora consegui essa rua e foi feita a rua e o pessoal começou a sentar a madeira dizendo que o asfalto foi feito porque é na minha casa. É um absurdo! Eu moro há 44 anos numa rua. Será que eu também não tenho direito? Aí as pessoas falam que o vereador não precisa mais lavar os pés porque não tem poeira e nós ainda temos. Entupiu um bueiro esses dias em uma rua que eu pedi e solicitei uma ponte que caiu no tributo e Guarujá, e vai cair outra ponte por incompetência de um engenheiro que nós temos aí. Voltando à rua ela foi feita e você precisa ver o que fizeram comigo… me judiaram, mas fazer o quê?

Esse engenheiro que citou, o senhor já o criticou outras vezes, quem é?

Desculpa, mas não vou dizer. 

Mas é da Prefeitura?

É um engenheirinho que não faz nada. 

Mudando de assunto, o PSC, seu partido, foi aliado da administração do Elizeu Mattos (MDB)…

Nós éramos situação com o Elizeu, mas na eleição [campanha de 2012], a gente não estava com ele, estávamos na coligação com o Ceron. Mas como veio ordem lá de cima, de que poderíamos ser situação, eu e o Vone [Scheuermann, vereador do MDB ] que eramos vereadores do partido, mais o presidente do partido, Vanderlei Germano, achamos melhor ficar na situação. 

O seu partido foi usado para abrigar alguns candidatos do PSD nas eleições de 2016?

Sim, porque nós não tínhamos candidatos suficientes e não tinham mulheres, principalmente, que é obrigado a ter, segundo as regras. O Marcelinho, que era o presidente do partido, aceitou esses candidatos e, graças a eles, fui eleito.

O senhor falou das candidaturas de mulheres. Hoje, quem éa principal liderança feminina do seu partido e que provavelmente será candidata? 

Hoje temos seis mulheres no partido, quatro devem ser candidatas. 

Com chances de se eleger?

Não digo chances, mas elas são mulheres que participam de associações de moradores, de ONGs, da igreja. Nosso partido PSC e a maioria é evangélica. 

O senhor também é evangélico?

Não, eu sou meio ateu, não sou de religião nenhuma. 

Está em um partido que engloba muitas pessoas religiosas.

Sim, justo.

Mas está tudo certo, não há brigas?

Não, até por sinal, nos damos muito bem. 

Atualmente, o senhor tem vários cargos na prefeitura, incluindo seus filhos, são dois, tem uma neta sua também, todos comissionados. 

Não, uma não é comissionada. São dois comissionados, a Ana e o João. São 15 anos na prefeitura, não é desta administração, quero deixar bem claro. É muito tempo trabalhando na prefeitura, o João tem 12 anos e a Ana tem 14 anos. 

Então não tem a ver com o senhor ser o vereador aliado do Executivo…

Eu não me importo muito, sabe. Eu tenho três parentes lá dentro que fizeram concurso. A Ana e o João fizeram processo seletivo. O João, provavelmente, não quer mais, porque tem uma firma. Eu tenho uma coisa a dizer, e quero deixar bem claro, nunca faltaram um dia ao trabalho, nunca foram punidos por nada, sempre com responsabilidade. Tem muitos políticos que usam o cargo e não trabalham e esses meus filhos, já falei para o chefe deles, se fizerem alguma sujeira, alguma coisa que não presta, ‘taca’ para rua, se não trabalha, não tem direito de receber. 

Qual secretaria que eles estão?

Secretaria de Agricultura que é responsável pelas 40 e poucas hortas e outra é na Diretran. 

E a neta?

Está no lixo, aqui na Semasa, não sei bem, porque eu não participo disso aí. 

Então isso não tem a ver com acerto do senhor com o Executivo?

O único acerto que eu tenho com o Executivo é o seguinte: são os meus colaboradores que foram candidatos a vereador e estão dentro da prefeitura, todos eles, mas deixo bem claro, todos têm cargos pequenos, cargos de R$ 1.600 cada um.

O senhor não é o único, ou os outros vereadores também fazem isso, também tem cargos?

Eu acho que todos os vereadores. 

Mesmo aqueles que criticam?

Mesmo aqueles que criticam. O Ceron não se preocupa com essas coisas, não é vingativo, é uma pessoa muito humana, tem gente que não conhece. Gosto muito dele.

O seu partido é pequeno…

Temos 180 filiados.

Nacionalmente, tem fama de ser um partido de aluguel. Como o senhor vê essa situação? Concorda ou discorda? 

Veja bem, para mim não me interessa lá em cima, o que me interessa é aqui. Por exemplo, veio nosso deputado Miotto [Jair], fizemos uma reunião com mais de 70 pessoas na Câmara de Vereadores, disse que nós teríamos que escolher um partido para as  próximas eleições e seria o PSL. Adiantamos que não somos obrigados a nada e que nos deixassem livres para tomarmos a nossa iniciativa e que nós precisávamos abrir o leque, porque tem muita gente que não gosta do PSL. Tem muita gente [dentro do partido] que é do PT. Como são filiados, mas são do PT [eleições nacionais] não temos nada contra, cada um segue sua regra, se respeita no partido está tudo certo.

A ideia era que vocês migrassem para o PSL ou que apoiassem o PSL nas eleições municipais?

O governador Carlos Moisés (PSL) está se juntando com PSC em Santa Catarina, toda a região onde sai o candidato a prefeito do PSL, sai um vice do PSC. 

Aqui em Lages pediram para ficar livres para fazer como acharem melhor?

Isso. E conseguimos. Agora vai ter pressão, não tenha dúvidas. No início deixam os caras na moleza e depois endurecem. 

O presidente Jair Bolsonaro já foi do PSC?

Ficou só uma semana. 

O senhor gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Eu quero dizer o seguinte: quero agradecer às pessoas que votaram em mim, que me deram uma esperança, quero pedir desculpas às pessoas, porque sou meio bravo. Se tiver errado, eu peço desculpa, na Câmara ou em qualquer lugar que estiver. A educação que meu pai me deu era muito rígida e com meus filhos também, porque fiz o trabalho para comunidade de Lages, em todos os bairros da cidade, trabalhei para isso. Não sou daqueles vereadores que fazem denúncias e acham que são bons e não fazem nada para o seu bairro. Só denunciar é ruim, vá aos bairros trabalhar. 

O senhor é intrigado como o vereador Jair Junior (PSD)?

Não, não sou! É meu amigo, mas eu acho que está errado. Tudo ele quer denunciar e tudo que denunciou, as quatros [denúncias], não foi para frente, teve que pagar multa e pedir desculpas. Pedir desculpas para enfermeira, por exemplo, o Ministério Público mandou se retratar. Não é só ele não, tem mais gente lá, é um estilo onde os jovens ‘se acham’. O que aconteceu com aquele jovem vereador que gritou ‘Lula’ dentro da Câmara, foram três jovens gritando ‘viva o Lula’. É a liberdade de expressão, mas achei que não era hora, entende? Naquele momento, não era hora, mas os jovens, hoje em dia, têm um jeito de se expressar diferente da ‘gente antiga’, mas são importantes, pegamos várias matérias dos jovens vereadores, por exemplo.

1 Comentário

1 Comentário

  1. Miro

    28/11/2019 at 08:26

    O fisiologismo nunca acaba é o tal do toma lá e dá cá, péssimo exemplo, sempre empregando os parentes e amigos, até quando o dinheiro do povo vai ser usado para esse tipo de prática?

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