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De cabo eleitoral à presidência dos partidos, elas conquistam cada vez mais espaço

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Foto: Divulgação

Conquistado em 1932, o direito ao voto das mulheres foi o pontapé inicial para mudanças no sistema político que, mesmo quase nove décadas depois, ainda acontece a passos lentos e enfrentando resistência. Com o direito ao voto, veio também o direito a candidatarem-se. Apesar disso, a representatividade feminina em espaços políticos não foi muito expressiva por muito tempo.

Se no início do século 20 a briga das mulheres era pelo direito de escolher quem governaria, agora, no início do século 21, a batalha é para garantir que possam ocupar espaços de liderança, seja dentro dos partidos ou em cargos eletivos. Na história mais recente da política nacional, as mulheres têm deixado de ser coadjuvantes e têm conquistado cada vez mais espaço como protagonistas, especialmente dentro dos partidos, onde passaram a ocupar cargos nos diretórios (até mesmo na presidência) e não mais apenas como cabos eleitorais ou organizando campanhas.

Recentemente, a política lageana vivenciou uma situação inédita na sua história, duas mulheres passaram a presidir dois significativos partidos. No fim de agosto Maria Aparecida da Fonseca foi a primeira mulher eleita para presidir o Partido dos Trabalhadores (PT) e, na semana passada, Maria de Fatima Daboit Costa Ogliari assumiu o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido do qual foi vice e assumiu a presidência interina por 10 meses, entre 2018 e 2019.

A jornalista e colunista política do Correio Lageano, Olivete Salmória, avalia que a participação feminina na política partidária tem se intensificado nos últimos anos, garantindo à elas cargos mais relevantes e de visibilidade. “Dentro da política, assim como na sociedade de uma forma geral, a mulher sempre foi muito subserviente, entendendo que aquilo era papel do homem. Hoje vemos mulheres em todas as atividades profissionais e o melhor, na prateleira de cima [ocupando altos cargos].”

Com esta mudança de cenário e a crescente visibilidade da participação feminina nos partidos, Olivete acredita que, nas eleições municipais de 2020, a tendência é que muito mais mulheres se candidatem a cargos eletivos. “A participação da mulher de forma mais efetiva é muito positiva, apesar de termos que insistir duas vezes [intensamente] para mostrar que somos capazes de conquistar e comandar um espaço.”

Situações semelhantes, opiniões conflitantes

Maria de Fátima filiou-se ao MDB em 1972, logo após se casar, para acompanhar o marido. Ela conta que seu envolvimento com os assuntos emedebistas sempre foi intenso, tanto que tornou-se vice-presidenta do Jovem MDB em 1973. Além disso, ocupou cargos na diretoria em, pelo menos, três oportunidades distintas, e também foi gerente regional de Educação por oito anos.

Contudo, ela reconhece que, de modo geral, as mulheres sempre foram mais coadjuvantes do que protagonistas políticas. “Nós mulheres atuamos continuamente na vida política partidária e estivemos muito presentes com um trabalho intenso e muito forte, mas na maioria das vezes, como coadjuvantes. Sempre tivemos na presença masculina o protagonismo de toda a cena político-partidária. Hoje, aos poucos, as mulheres da Serra, juntamente com a presença masculina, estão mudando esse cenário, pois precisamos caminhar lado a lado com os homens fazendo um trabalho paritário”, avalia.

O início da carreira de Maria Aparecida foi um pouco diferente. Ela começou atuando como liderança comunitária no Bairro Gralha Azul, no início dos anos 2000. Por ser considerada uma figura emblemática e respeitada por sua comunidade, passou a ser constantemente procurada por partidos políticos para ser cabo eleitoral no bairro. Ela conta que, apesar de parecer um prestígio, ser procurada era uma forma que os partidos tinham de usar a sua força política sem lhe dar o devido reconhecimento.

Militante do Centro de Direitos Humanos, Maria Aparecida desenvolveu no seu bairro o projeto Promotoras Legais Populares, voltado para o empoderamento feminino. Ela conta que, em 2009, depois que começou a faculdade de Serviço Social, passou a repensar suas ideologias e ter outra visão acerca do seu papel social na política. Devido ao seu alinhamento ideológico, em 2010 filiou-se ao PT.

“Este é um momento em que nós mulheres estamos em enfrentamento com os homens, não queremos mais apenas ser usadas na política, queremos fazer junto. Jamais traremos mulher para o partido para serem usadas, queremos que sejam empoderadas e que vão em busca dos seus direitos e dos direitos da coletividade.”

Eleições foram marcadas por candidaturas laranjas

Maria de Fátima e Maria Aparecida assumem a presidência municipal dos seus partidos com o desafio de atrair mais mulheres com interesse de candidatarem-se a cargos eletivos. Com os partidos de todo o País tendo que obedecer à cota mínima de 30% para candidatas, as eleições municipais de 2016 ficaram marcadas pela grande quantidade de candidaturas laranjas – aquelas feitas somente para preencher as cotas partidárias – especialmente de mulheres.

Segundo um levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), naquele ano 16.131 candidatos não tiveram nem um voto – nem o deles mesmos. Deste total, 14.417 eram candidatas. À época, a ministra Luciana Lóssio afirmou que se tratava de um novo tipo de fraude eleitoral que agrava mais a já escassa representatividade feminina nesta área.

A atual secretária de Políticas para a Mulher de Lages, Marli Nacif, que foi presidenta do Progressitas (PP) em três oportunidades, acredita que uma forma de atrair mais mulheres é desenvolvendo um trabalho constante nas bases da sociedade.

“Tem que ser feito um trabalho diário, contínuo, pra trazer as mulheres para dentro dos partidos. Precisamos conversar e mostrar a possibilidade delas serem candidatas e fazer com que elas tenham, realmente, vontade de ser. Não adianta filiar e candidatar em cima da hora só pra preencher cotas. Acho que falta, por parte dos partidos, um trabalho mais intenso fora do período eleitoral.”

Projetos são para ampliar a participação feminina

Outra lageana que ocupa um cargo de destaque dentro do seu partido é deputada federal Carmen Zanotto. Presidenta estadual do Cidadania desde 2016, ela já havia assumido a presidência interinamente anteriormente. Pensando na ampliação da representatividade das mulheres, Carmen está a frente de dois projetos que têm este foco.

O primeiro é um projeto de lei que tem como objetivo tornar obrigatório que os partidos tenham equidade entre homens e mulheres nas disputas majoritárias (prefeituras, governos de estado e presidência da república). Ou seja, sempre que um homem for cabeça de chapa, precisará ter uma mulher como vice, e vice-versa.

“Temos que levantar este debate, pois não queremos apenas vagas nas Câmaras de Vereadores, nas Assembleias Legislativas, na Câmara e no Congresso Nacional. Queremos também nas executivas municipais, estaduais e nacional. É preciso um equilíbrio entre o olhar do homem e da mulher no Executivo.”

Outro projeto defendido por Carmen diz respeito às candidaturas para o Senado Federal. Neste caso, a proposta é para que, nos anos em que são eleitos dois senadores, uma vaga seja para um homem e a outra para uma mulher. “Em Santa Catarina nossos três senadores são homens. Não temos nenhuma representação feminina no Senado Federal e sequer tivemos mulheres pra disputar [a eleição de 2018], a não ser como primeira e segunda suplentes em algumas chapas, mas não efetivamente como cabeça de chapa, e isso precisa mudar”, completa.

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