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Cultivo de eucalipto preocupa especialistas
Lages, 19 e 20/06/2010, Correio Lageano
Nos últimos anos o eucalipto tem se tornado uma cultura cada vez mais comum na Serra Catarinense, a exemplo do reflorestamento de pinus. O plantio desordenado e sem assistência técnica de eucalipto preocupa grandes empresas como a Klabin, que faz estudos para desenvolver uma muda adaptada para o clima da região.
Há aproximadamente cinco anos a Klabin trabalha para implantar o eucalipto na Serra Catarinense. Pensando em produzir uma semente com mais qualidade e maior resistência, a empresa vem desenvolvendo estudos para criar sementes híbridas (resultado do cruzamento de duas espécies).
De acordo com o diretor florestal da Klabin, o engenheiro florestal José Totti, o eucalipto tem grande potencial para ser produzido na região, desde que seja plantado com os devidos cuidados e de forma correta. Ele destaca que esse tipo de árvore apresenta algumas vantagens sobre o pinus (tradicional cultura da região) como crescer mais rapidamente e ter melhor densidade.
Ele explica que, sendo mais densa, para cada metro cúbico de madeira, o eucalipto apresenta mais fibra que o pinus. “Isso gera rendimento na fábrica e, por consequência, menor custo na produção de papel para a Klabin, e maior volume de produção para o produtor”, afirma Totti.
Para Totti, o produtor da Serra ainda não está muito habituado com as necessidades e plantio do eucalipto, pois está acostumado a trabalhar com o pinus. “Estas são duas árvores que precisam de tratamentos diferentes” . Segundo ele, cada uma tem características particulares, que devem ser observadas antes do plantio.
O primeiro fator relevante é o fato de que o pinus é uma cultura que naturalmente resiste à geada, já o eucalipto, não é qualquer espécie que se adapta ao frio. Atualmente, dois tipos são cultivados na região, o Benthamii e o Dunnii. “Nós estudamos o cruzamento de duas espécies, para criar uma semente que seja mais resistente ao frio e englobe todas as características positivas da semente comum”, destaca.
O segundo ponto a ser observado, é que o eucalipto deve ser plantado em solos com profundidade de no mínimo 80 centímetros, com boa drenagem e sem camadas de impedimento (não pode haver rochas abaixo dela). “Até mesmo o preparo do solo para o plantio destas mudas é diferente. O pinus pode ser feito em covas e plantado em qualquer época, já o eucalipto deve ter revolvimento de terra com tratores, além de não poder ser plantada entre fevereiro e agosto, por causa das geadas”, explica o diretor florestal.
A grande preocupação de Totti, é pela falta de cuidado que muitos produtores têm ao iniciar cultivos como esse. “Precisamos alertar o produtor da região para que não plante de forma errada para não perder dinheiro. Quem quiser produzir o eucalipto, deve ter acompanhamento de um assistente técnico da Klabin ou da Epagri, para evitar desperdício e oferecer um produto de qualidade. Sem o devido cuidado, o eucalipto não traz mais rendimentos que o pinus”.
Tendência é que eucalipto substitua a produção de pinus
Há quatro ano o produtor Felipe Koeche vem investindo no cultivo de eucalipto. Desde 2001 ele já apostava no pinus e agora busca uma nova fonte de rendimento e uma produção alternativa.
Segundo ele, o pinus ainda é o carro chefe da produção madeireira na região porque as indústrias serralheiras e de celulose estão mais preparadas para recebê-lo. Entretanto, o eucalipto traz mais opções de mercado para o produtor, pois pode ser investido nas mesmas áreas do pinus, além de ser aproveitado para a produção de carvão, lenha e escora de construção, dentre outras.
Koeche explica que o custo para o plantio e a manutenção no campo do eucalipto, é bem maior, mas a vantagem está no retorno do investimento que é mais rápido. Segundo ele, “uma dica, para quem puder, é investir 70% de sua produção no pinus, e 30% no eucalipto, pois a tendência é de que nos próximos anos, o consumo do eucalipto cresça na região”.
Ele destaca que na hora de plantar esta nova cultura, o fator mais importante é a escolha das mudas. “O produtor deve se preocupar em procurar mudas que tenham genética aperfeiçoada e condições favoráveis para a região. Por isso, iniciativas como a da Klabin, em desenvolver pesquisas para o aprimoramento de espécies e o aperfeiçoamento do plantio, são de grande valia. Também é muito importante contar com um acompanhamento técnico”, completa.
O engenheiro florestal Geedre Adriano Borsoi, destaca que o eucalipto necessita de dois fatores fundamentais para o plantio: o primeiro é o preparo do solo com subsolagem de até 50 centímetros de profundidade, depois vem a correção de adubação do solo, com a elevação do nível de fósforo, por exemplo. Segundo ele, a época para o plantio varia de espécie para espécie e na região serrana o indicado é que seja feita entre os meses de setembro e outubro.
Borsoi lembra que atualmente existem duas espécies de eucalipto que são plantadas na região, a Eucalipytus Dunnii e a Eucalipytus Benthamii. “Estas espécies são nativas da Austrália e por isso se adaptam mais facilmente ao frio”, comenta.
Segundo ele, com a criação da Lei da Mata Atlântica, que proíbe o corte de espécies nativas como a araucária, o cedro e imbuia, em Santa Catarina, a tendência é que o eucalipto seja o substituto no mercado. “A pressão dos órgãos ambientais contra o corte de madeiras da Amazônia também vai diminuir a entrada de madeiras do norte do país aqui no estado, e isso fará com que o eucalipto se fortaleça cada vez mais”, completa.
No Brasil existem hoje aproximadamente 450 espécies de eucalipto trazidas da Austrália. Dados da Secretaria de Estado da Agricultura dão conta de que em Santa Catarina existem 120 mil hectares de eucalipto, contra 621 mil hectares de pinus. Em Lages os números são 25 mil hectares de pinus e 200 hectares de eucalipto.
Foto: Daniele Melo